Após firmar uma parceria de ação política com o PPS, na última terça-feira (20), o movimento Agora!, que se autodefine como apartidário, plural e sem fins lucrativos, assina nesta terça (27) uma carta de compromisso com a Rede Sustentabilidade, com a presença dos porta-vozes do partido, Marina Silva e José Gustavo, e do coordenador nacional do movimento, Leandro Machado. Pelo documento, a Rede assume o compromisso de garantir a participação do movimento Agora!, ao qual está ligado o apresentador de TV Luciano Huck, na estratégia eleitoral da legenda, além de ceder espaço para a candidatura de membros da iniciativa.
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Um dos cofundadores do movimento, criado em 2016 e que hoje conta com 90 integrantes em 15 estados brasileiros, Humberto Laudares afirmou ao Congresso em Foco que um dos principais objetivos do Agora! é contribuir para a ação política e o processo democrático de forma independente. A solução encontrada para isso, segundo ele, foram parcerias com partidos políticos convergentes com os ideais do movimento, sem “amarras ideológicas”, e que, ao mesmo tempo, não estejam manchados em escândalos de corrupção.
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“O que a gente está fazendo não é uma coisa pronta, é uma inovação. Por que é importante a gente participar de instâncias partidárias? Para trazer ideias, sugerir, ter uma participação efetiva. Não só de hospedeiro, mas também contribuir para o próprio processo democrático, para o aprimoramento dos partidos políticos, que a gente julga uma pauta importante para o Brasil”, destacou.
Apesar do compromisso assumido com a Rede e o PPS, Humberto esclareceu que a carta não impede que membros do Agora! se filiem ou saiam candidatos por outros partidos. “No caso da Rede, já temos pessoas filiadas. Por exemplo, o Márlon Reis [ex-juiz e um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa], que vai sair candidato ao governo do Tocantins pela Rede, é do Agora!. Há pessoas no Distrito Federal também, como o João Francisco Maria e o Leandro Grass, que já são da Rede. Mas há pessoas aventando a possibilidade de se candidatar que talvez saiam pelo PPS, ou por outros partidos que não esses dois”, apontou.
Nessa segunda-feira (26), a candidatura de Marina sofreu um abalo já esperado. Dois dos principais opositores do governo Michel Temer na Câmara, os deputados Alessandro Molon (RJ) e Aliel Machado (PR) confirmaram, por meio de cartas divulgadas nas redes sociais, a troca da Rede pelo PSB. A mudança tem implicação direta para Marina, pois diminui seu espaço de divulgação ao excluí-la de debates na TV, nos quais a participação só é garantida a candidatos cujos partidos têm ao menos cinco representantes no Congresso. Com a saída de Molon e Aliel, a bancada da Rede no Parlamento se resume a Miro Teixeira (RJ), João Derly (RS), líder do partido, e o senador Randolfe Rodrigues (AP).
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“Centroavante” no jogo político
Humberto Laudares explicou que a escolha de uma parceria com a Rede e o PPS, que vai na contramão da polarização eleitoral, dominada por grandes siglas como PT, PMDB e PSDB, reflete a “falência dos partidos políticos”, que enfrentam um grande descrédito por parte da população.
“Não temos exemplo de nenhum partido grande que viesse e falasse ‘nós erramos, vamos corrigir tudo isso, renovar’. Isso não aconteceu no Brasil. Então, restou ao Agora! partidos médios, digamos, ou um pouco menores. Os grandes partidos estão em uma luta incessante para que os caras eleitos sejam reeleitos, seja por problema de polícia ou porque não têm outra opção da vida. O que a gente procura é um espaço que nos abrigue, em que as nossas ideias e o nosso tipo de ação política seriam mais aproveitadas, valorizadas, onde teriam mais sinergia”, avaliou.
Ele comparou ainda as bandeiras defendidas pelo Agora! com a atuação de um jogador centroavante nos campos de futebol. Ou seja, aquele que se posiciona no centro da linha de ataque, ao mesmo tempo em que busca oportunidades de gol para a sua equipe.
“Se você for ver hoje, a polarização não é nem mais entre PT ou PSDB. É entre extremismos até maiores do que esses dois. O cenário político eleitoral mudou bastante. Se a gente fizer uma eleição hoje, provavelmente no segundo turno não tem nem PT, nem PSDB. Essa é uma realidade clara. O fato é: a gente gostaria de ter partidos que são convergentes com as nossas bandeiras, que seria uma coisa que não é muito ‘esquerda radical’, e não é ‘direita radical’ também. É mais um centro expandido. Gosto de falar que é mais um centroavante”, considerou.
Política de alianças
As críticas à pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, pelo seu apoio ao então candidato do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), no segundo turno das eleições de 2014 também não representam um empecilho para a parceria com o movimento Agora!. Para o cofundador da iniciativa, esse tipo de aliança é “normal” na política.
“É sempre normal esse apoio. Por exemplo, há partidos que não querem se misturar com ninguém. Então, ele não vai fazer política. A gente também não é ingênuo. A gente quer renovar, construir os nossos exemplos, nossas histórias, a partir do que a gente acredita, mas não dá para achar que esses partidos não vão apoiar alguém. Se você chega no segundo turno de uma eleição presidencial, não adianta falar em um mundo ideal. Você tem duas opções, precisa apoiar um ou outro. É basicamente isso, não te resta muito. A omissão na democracia é custosa”, avaliou Humberto Laudares.
Renovação sem ingenuidade
Perguntado se a conexão com diversas legendas não vai contra o ideal apartidário do Agora!, Humberto Laudares criticou o “apartidarismo ingênuo” defendido por alguns setores da sociedade. “A gente busca ação política, e ação política precisa ser feita por meio de partidos. Isso é natural. Uma discussão madura sobre a política, a renovação política, o próprio desenvolvimento da democracia brasileira, precisa colocar os partidos na mesa, que hoje, majoritariamente, são instituições completamente fechadas, pouco transparentes e que recebem uma fortuna de dinheiro público para se autofinanciarem”, salientou.
Para ele, uma renovação real do Congresso Nacional, que vá além do discurso reproduzido por grandes partidos, passa por pessoas, ideias e práticas. Ele deu o exemplo do atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), eleito com um discurso avesso ao do político tradicional, com foco no discurso de “gestor”.
“Não é possível a gente aceitar uma renovação do Congresso que respeita as capitanias hereditárias dos partidos. Não é possível que ainda toda a política seja controlada por algumas famílias e alguns caciques partidários, que ainda controlam esses partidos como nos últimos 30 anos”, elencou. “8 de cada 10 pessoas querem alguma coisa nova na política. Mas ‘alguma coisa nova’ não é João Doria em São Paulo, não é um cara que vem com discurso de gestor e faz uma política mais velha que o PMDB. Isso é o discurso vulgar de renovação”, pontuou.
Elemento Huck
Vale lembrar que o Agora! ganhou notoriedade na imprensa com a ida do empresário e apresentador Luciano Huck para o movimento. Após especulações sobre uma eventual candidatura à Presidência da República, Huck negou a intenção de disputar o posto máximo em outubro próximo. Ele integra ainda outro grupo, o RenovaBr.
“O Luciano é membro do Agora!, e como membro a gente o respeita, respeita a história dele, a pessoa que ele é. Foi cogitada a candidatura, mas ele não lançou. O Agora! não se manifestou em relação a apoiar ou não apoiar, até porque não tinha candidatura. Mas essa é uma questão já resolvida”, ponderou Humberto.
Questionado pelo Congresso em Foco sobre o apoio do Agora! a uma eventual candidatura do apresentador global, o cofundador do movimento respondeu que o foco deverá ser nas eleições proporcionais. “O principal objetivo de agora é construir essa agenda de país, que dá para ser dialogada com diferentes setores, com diferentes candidatos também. Certamente, os candidatos nas eleições proporcionais serão mensageiros dessa agenda de transformação do país”, completou.
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