Em entrevista transmitida ao vivo pelas redes sociais do Congresso em Foco, na manhã desta quinta-feira (12), o pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, senador Alvaro Dias (PR), criticou a tentativa de alguns setores da sociedade de “colocar todos os políticos no mesmo lamaçal”. Ele afirmou que sempre conduziu a sua vida pública pautado pelo combate à corrupção, abrindo mão de benefícios inerentes ao exercício de sua trajetória política, como a aposentadoria referente ao período em que foi governador do Paraná, entre 1987 e 1991, e a verba indenizatória a que tem direito como senador, por respeito ao cidadão.
“Essa tentativa de querer colocar todos no mesmo lamaçal, ela não é construtiva. Eu, inclusive, entendo que o bom jornalista deve procurar separar o fato verdadeiro do falso para não alimentar a calúnia e a difamação”, disse. “No meu caso, não vão conseguir jamais. Tinha um governo sério, que prendeu 28 corruptos através da prisão administrativa que existia à época. Fui o único chefe do Executivo a decretar a prisão de 28 pessoas durante o meu governo”, afirmou, lembrando o seu período à frente do estado do Paraná.
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A declaração se deu no âmbito da nova série Encontro com os Presidenciáveis, iniciativa do Congresso em Foco que pretende promover debates com os pré-candidatos à Presidência da República, que serão transmitidos ao vivo pelas redes sociais.
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Entrevistado pelo fundador do site, o jornalista Sylvio Costa, e pela repórter Isabella Macedo, o senador Alvaro Dias se exaltou ao responder uma pergunta sobre o financiamento de sua campanha em 1998. De acordo com depoimento prestado pelo doleiro Alberto Youssef à CPI da Petrobras, a campanha teria recebido apoio do doleiro. O senador teria, inclusive, voado no avião da família Youssef durante a campanha. Em resposta ao questionamento, o pré-candidato do Podemos afirmou que o próprio depoimento do doleiro o isenta de qualquer tipo de suspeita.
“Ele diz que apoiou uma campanha eleitoral minha em 98. Ele não tinha 30 anos de idade. Não tinha esse currículo, não era esse doleiro”, apontou. Alvaro Dias destacou que todos os contratos fechados com a empresa que era administrada pela família de Youssef foram declarados à Justiça Eleitoral. “Nossa campanha foi absolutamente correta. Ninguém imaginava àquele tempo essa história que aconteceria hoje”, justificou, referindo-se ao envolvimento do doleiro com o escândalo da Operação Lava Jato.
O senador ressaltou ainda que sempre conduziu a sua vida pública pautado pelo combate à corrupção, e lembrou que nunca fez uso de sua prerrogativa como ex-governador para receber salário como aposentado. “Abro mão há mais de 10 anos de auxílio moradia, verba indenizatória, em respeito ao cidadão, àquilo que eu prego. Nunca recebi nenhum centavo de aposentadoria como ex-governador”, garantiu.
Auditoria da dívida
Na área econômica, Alvaro Dias defendeu a realização de uma auditoria da dívida pública – bandeira histórica da esquerda –, mesmo reconhecendo que a resistência ao assunto é grande. “Algumas pessoas ficam assustadas, pensam em calote, em rompimento de contrato. Mas o nosso objetivo é dar transparência”, disse.
Para o pré-candidato, é preciso saber por que a dívida pública cresceu tanto nos últimos anos. “Em 2008, tínhamos R$ 1 trilhão em dívida pública. Agora batemos em R$ 4 trilhões. É preciso fazer balanço dessa dívida”, observou. “Determinados segmentos da sociedade foram prejudicados e outros beneficiados.”
O senador lembrou que já pediu estudo sobre o assunto ao Tribunal de Contas da União (TCU), mas ponderou que a corte não tem pessoal suficiente para apresentar dados acabados. Por isso, ressaltou, é necessário que o Executivo e o Legislativo tomem posição firme para que sejam apurados os verdadeiros números.
O pré-candidato evitou adiantar quem será o seu ministro da Fazenda caso seja eleito. “Teremos o melhor ministro da Fazenda de todos. Tenho ouvido vários economistas, não gostaria de expor ninguém. Não quero repetir o candidato (Aécio Neves) que indicou o ministro (Armínio Fraga) antes de se eleger”, esquivou-se.
Ajuste fiscal e reforma da Previdência
O senador também evitou declinar quais são os seus economistas preferidos. Contou que tem ouvido especialistas do próprio Senado, da Fundação Getúlio Vargas e do Estudo Fiscal Independente. “Ouvi um economista da UnB, de quem tomo emprestada a visão de que temos três grandes desafios: a produtividade a longo prazo, os investimentos a médio prazo e o desafio fiscal a curtíssimo prazo.”
Para ele, o ajuste fiscal é urgente porque o atual sistema deficitário representa um “roubo de oportunidades”. “Os brasileiros são tremendamente prejudicados em razão desse déficit. Temos de fazer a reforma do Estado, com a eliminação de privilégios.”
Veja o vídeo em que o senador fala sobre dívida pública e reforma previdenciária:
Uma das alternativas apontadas por ele para resolver o desequilíbrio fiscal é a aprovação da sempre polêmica reforma da Previdência. Sem apoio político no Congresso e forte resistência na sociedade civil, o presidente Michel Temer desistiu de sua proposta. Para Alvaro Dias, Temer errou na estratégia adotada. “A palavra reforma ficou desgastada pelo presidente Temer, que não foi capaz de se comunicar com a sociedade”, considerou.
O pré-candidato afirmou que, caso seja eleito, trabalhará a reforma previdenciária sob outra perspectiva, começando a discussão pela sociedade, diferentemente do que propôs Temer, que tentou implantar a reformulação de cima para baixo.
“A reforma é complexa, para que se tenha autoridade, isso passa por uma discussão. Temos de enfrentar o debate. Não vamos impor uma proposta de reforma da Previdência. Temos de fazer balanço, mostrar para a sociedade como foram usados os recursos carimbados para a Previdência. Houve desvio de finalidade? Recursos foram usados em outras áreas? Outra questão é a inadimplência, mais de R$ 400 bilhões, de grandes devedores, que não são cobrados.”
O paranaense citou o exemplo da JBS que, segundo ele, tem dívida de R$ 2,6 bilhões com a Previdência, do empresário Eike Batista com débito de R$ 1,8 bilhão, e de partidos políticos, que também acumulam pendências milionárias. “Como o governo coloca a mão grande no bolso do pequeno se os grandes estão sendo protegidos? São preliminares necessárias. Temos de exercitar a democracia direta para valer.”
Troca-troca partidário
Com passagem por partidos como MDB, PDT, PV e PSDB, Alvaro Dias negou que não tenha compromisso ideológico com as legendas. Para ele, o país tem excesso de siglas, mas não dispõe de partido político na essência do termo.
Veja o vídeo abaixo:
“Mudei várias vezes de siglas. Nunca mudei de partido, porque não considero a existência de partidos de verdade no Brasil. Temos uma fábrica de siglas instalada de olho no fundo partidário, é uma desmoralização completa. Algumas dessas siglas se constituem em organizações criminosas, lavanderias de dinheiro sujo. Eu mudava de sigla para não mudar de lado.”
Drogas
O senador respondeu a uma pergunta da leitora Maria Madalena Rodrigues sobre qual sua posição em relação à descriminalização das drogas. “Não sou favorável à descriminalização das drogas. Para a ciência é possível [descriminalizar a maconha] desde que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] fiscalize isso, como exceção à regra, para salvar vidas”, disse.
Alvaro Dias acredita que o enfrentamento ao tráfico de drogas depende do aumento de investimentos nas fronteiras e na qualificação dos serviços de inteligência. Na visão dele, o atual efetivo é insuficiente para impedir o ingresso de entorpecentes no país: “Não temos serviço de inteligência para monitoramento do tráfico de drogas. Temos 87 grupos militares em 16 mil km de faixa de fronteira.”
Confira a resposta do senador em vídeo:
“Nem esquerda, nem direita”
O senador Alvaro Dias destacou ainda a importância do debate promovido pelo Congresso em Foco, já que, segundo ele, essa deverá ser a eleição mais importante do país desde a redemocratização. Para ele, o quadro eleitoral deste ano ainda está muito confuso, não sendo possível identificar nem mesmo o posicionamento ideológico de cada um dos pré-candidatos. “Se fosse o técnico da seleção, não sei dizer em que posição colocaria Meirelles [ex-ministro da Fazenda, filiado ao MDB], Temer, Flávio Rocha [empresário e pré-candidato à Presidência pelo PRB]. Há um debate nervoso sobre a questão ideológica no Brasil. Esse debate fica comprometido pela incoerência do quadro partidário brasileiro”, colocou.
O parlamentar tem convicção, no entanto, de que o cidadão brasileiro está cansado da velha polarização entre esquerda e direita. “Prefiro apresentar credenciais e deixar que me carimbem da forma que quiserem carimbar”, afirmou. “O cidadão brasileiro não quer nem direita, nem esquerda. É para frente que devemos caminhar”, acrescentou. “Se a escolha for infeliz, o Brasil vai continuar sangrando indefinidamente, e nós não sabemos qual vai ser a consequência disso. O momento é grave, e exige responsabilidade pública”, completou.