O governo federal tem de cortar gastos com universidade, e o brasileiro que não tiver dinheiro para bancar os estudos não deve ir para a faculdade. O cidadão que reclama do atendimento público precisa cuidar mais da própria saúde para não sobrecarregar o Serviço Único de Saúde (SUS). Esses foram alguns dos argumentos utilizados pelo deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) ao defender a proposta de emenda à Constituição que limita os gastos públicos (PEC 241/16), aprovada em primeiro turno na última segunda-feira (10).
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As declarações foram dadas na própria segunda-feira, em uma conversa com um grupo de jovens professores que manifestavam na Câmara contra a PEC. A gravação do diálogo ganhou as redes sociais. Marquezelli disse, ainda, que seus filhos vão estudar em universidade porque têm condições de pagar. “Tem que gastar o que tem. O contribuinte brasileiro não aguenta mais pagar (…) Tem de cortar universidade, tem de cortar. O governo vai se preocupar com o ensino fundamental. Quem puder pagar vai ter de pagar. Meus filhos vão pagar”, declarou.
Veja o vídeo:
Os manifestantes insistiram: e quem não tem dinheiro para pagar uma faculdade? “Quem não tem (dinheiro) não faz universidade. Não tem dinheiro não faz. Vai estudar na USP, que é de graça. Vai estudar na USP. Essa é a minha posição. Vai na USP e faz concurso que lá é de graça”, respondeu.
O petebista também foi questionado sobre a piora na saúde pública com o congelamento dos recursos para a área a partir de 2018, como prevê a PEC 241. “Se cuida, outro dia vi um cara na rua reclamando com o cigarro na mão que não é atendido. O cara não se cuida. O cara fuma três cigarros por dia…”
O interlocutor perguntou se o problema da saúde no país se devia ao fato de brasileiros fumarem. O deputado reagiu com irritação. “Não é isso. Só se o senhor for burro, porque minha posição é clara: falta gestão na saúde, falta gestão na educação. Não adianta forçar a barra que vou votar favorável (à PEC 241). Não estou preocupado com você, estou preocupado com o país”, disse deixando os manifestantes para trás sem se despedir. “Vai bombar nas redes sociais”, afirmou um dos manifestantes.
Produtor de laranja
Em seu sexto mandato na Câmara, Marquezelli é considerado um dos líderes da bancada ruralista. Um dos maiores produtores de laranja do país, ele declarou na última eleição um patrimônio de R$ 12,2 milhões. Um projeto de autoria do deputado, já arquivado, previa a obrigatoriedade da adoção do suco na merenda escolar. Pela proposta, só receberiam verbas da União para programas alimentares os estados e municípios que incluíssem o suco na merenda.
Em 2011, Marquezelli foi o responsável pela elaboração do projeto que reajustou em mais de 60% o seu próprio salário e o dos demais parlamentares. Dessa forma, disse o deputado ao Congresso em Foco à época, os deputados não precisariam mais “fazer bico” para ter uma renda compatível. “Eu acho que ele é condizente com o mandato, eu acho que é justo. Quando o salário era menor, alguns deputados faziam bico. Agora estão se dedicando mais ao mandato.”
Na ocasião, o salário dos congressistas passou para R$ 26,7 mil. Desde o início de 2015, um parlamentar ganha R$ 33,7 mil por mês, fora os demais benefícios atrelados ao mandato, como auxílio-moradia, passagens aéreas, plano de saúde e despesas pessoais.
Ação do PT
Procurado pelo Congresso em Foco para comentar suas declarações, Marquezelli disse que sua fala foi editada e atribuiu a gravação a petistas. “O PT é que está bombando isso aí. Eles estão fazendo isso só contra quem é favorável ao governo atual”, afirmou.
Em nota publicada em seu perfil no Facebook, Marquezelli não citou o vídeo, mas apresentou sua justificativa para apoiar o teto dos gastos público. “Volto a repetir, sou favorável a uma educação de qualidade e contra subsídios do Estado para quem pode e deve pagar por sua instrução”, escreveu.
Leia a íntegra:
“Nota do Deputado Nelson Marquezelli sobre seu posicionamento favorável a votação da PEC 241.
O Estado não pode gastar mais que arrecada.
Defendo a gratuidade para a população de baixa renda em instituições públicas, mas subsidiar a quem tem condições de pagar a universidade sou totalmente contra.
O ajuste da PEC não retira nenhum centavo para educação e saúde, mas por outro lado a aprovação da matéria possibilita um freio em orçamentos inflados, aumentos irreais e expectativas financeiras que destruirá a previdência pública.
O Brasil precisa ter a responsabilidade de administrar o dinheiro público com profissionalismo e retidão.
Remédios amargos são necessários para um momento difícil da economia nacional.
Volto a repetir, sou favorável a uma educação de qualidade e contra subsídios do Estado para quem pode e deve pagar por sua instrução.”
366 x 111: veja como cada deputado votou na PEC do teto de gastos