Vários senadores tiveram papel de destaque na reunião de hoje do Conselho de Ética convocada para apreciar o parecer de Epitácio Cafeteira (PTB-MA) quanto ao pedido de abertura de processo de quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Confira a composição do Conselho de Ética do Senado.
A sessão, que começou às 11h15 e durou mais de quatro horas, apresentou um Conselho de Ética dividido e teve diversos momentos de impasses. O consenso foi conseguido após o relator ceder aos apelos dos líderes e adiar a votação para a próxima terça-feira (19). Dessa forma, haverá tempo hábil para que a documentação apresentada pelo presidente do Congresso passe por uma perícia.
“Só assim poderemos buscar a unanimidade quanto ao parecer do relator. Não é, de maneira nenhuma uma forma de desmoralizá-lo, muito pelo contrário. Mas não podemos negar ao senador Renan Calheiros o direito de apresentar provas que o inocentem”, disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM) durante a reunião.
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Confira abaixo os personagens que se destacaram durante a sessão
Arthur Virgílio (PSDB-AM)
Assumiu o papel de conciliador ao longo da sessão. Para tentar buscar o meio termo, afirmou, inclusive, que seu partido abriria mão do voto em separado que pedia a continuação das investigações, desde que Epitácio Cafeteira concordasse com a perícia dos documentos e o adiamento da votação.
(confira a íntegra do voto em separado do PSDB apresentado por Marconi Perillo)
Demóstenes Torres (DEM-GO)
O ex-procurador geral de Justiça de Goiás assumiu o papel de promotor e brigou durante toda a sessão pela continuidade das diligências. Após ser citado pelo senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO) como um dos que tentavam minimizar o impacto da reportagem do Jornal Nacional, disse: “Não estou aqui para condenar. Eu só quero dizer que não admito ser a pessoa divergente, o chato, o enjoado. O vilão não sou eu”. Foi um dos parlamentares que apresentou voto em separado.
(confira a íntegra do voto em separado de Demóstenes Torres)
Epitácio Cafeteira (PTB-MA)
O relator do requerimento protocolado pelo Psol foi dramático. Além de lembrar que estava “convalecente”, o senador disse que estava sendo desmoralizado com a intenção dos senadores em adiarem a votação. Disse que “o Maranhão [seu estado] não aceitaria tal humilhação” e foi enfático: “ou o Conselho vota hoje [15] o parecer ou deixo minha cadeira à disposição”.
Após cerca de uma hora de discussão, na qual vários senadores argumentaram que o adiamento antes de ser uma desmoralização seria uma possibilidade de fortalecer o relatório, Cafeteira mudou de idéia e concordou em deixar a votação para depois. Não sem antes fazer mais um drama:
“Acabo de receber um telefonema da minha mulher, da pessoa a quem devo minha vida, e ela me falou que o presidente Renan Calheiros ligou para ela pedindo que eu concordasse com esse adiamento. E a ela não posso negar isso. Mas garanto que nem agora e nem daqui a uma semana mudarei meu parecer”, disse.
Para completar, ele autodefiniu seu papel aos colegas: “Aqui não sou promotor ou advogado de defesa. Me sinto o juiz e como juiz analisei todos os documentos, inclusive durante as madrugadas, mas não encontrei nenhuma prova que justificasse a abertura de processo”.
Ideli Salvatti (PT-SC)
A líder do PT também fez coro ao pedido de perícia. Apesar de ter pedido a palavra apenas uma vez para falar em defesa de Renan, Ideli não parou de usar o celular e conversar com outros líderes presentes à reunião.
Durante a sessão, o senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA) chegou a dizer que sua indicação para a relatoria partiu de Ideli. Foi ela também quem sugeriu o nome do senador Sibá Machado (PT-AC) para a presidência do Conselho de Ética.
Ela pode ser considerada a grande articuladora para o adiamento da votação do parecer de Cafeteira.
Jefferson Péres (PDT-AM)
Autor de um dos três votos em separado – os outros dois são assinados um pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), outro por toda a bancada do PSDB – interferiu poucas vezes durante a reunião. De acordo com Jefferson, Renan foi “indesculpavelmente imprudente” ao dar a Cláudio Gontijo “a incumbência de uma intermediação que, por sua natureza, o tornava refém da discrição do intermediário e vulnerável, portanto, a pressões com vista à cobrança de retribuição pelo favor prestado. Vulnerabilidade indesejável e de alto risco para qualquer político, mais ainda para quem preside a um dos poderes da República”.
(confira a íntegra do voto em separado de Jefferson Péres)
José Nery (Psol-PA)
Único representante do Psol no Senado, o parlamentar paraense defendeu durante toda a sessão a postura do partido, autor da representação contra Renan, de exigir que testemunhas fossem ouvidas pelo conselho. Ele chegou a ser chamado de “teimoso” pelos colegas por querer o aprofundamento das investigações e convocação de testemunhas. No entanto, o próprio Renan aceitou a coleta dos depoimentos de Cláudio Gontijo e Pedro Calmon Filho, advogado da jornalista Mônica Veloso, mãe da filha de três anos do presidente do Congresso.
Pedro Simon (PMDB-RS)
Apesar de ser do PMDB, tem cobrado desde o início da crise a investigação das denúncias contra Renan Calheiros. Pedro Simon destacou o clima político “elevado” para que o caso seja concluído. “Eu sei o que é clima político, eu sei o que é uma guerra. Não está acontecendo agora. Vejo que há uma simpatia, até uma torcida, pelo presidente do Senado”. O parlamentar gaúcho também deixou a entender que colocaria a mão no fogo por Renan. Logo após, ele se retratou: “A mão no fogo eu não ponho, mas eu confio no Renan”, o que provocou risos.
Renato Casagrande (PSB-ES)
Teve destaque antes do início da reunião do conselho, ocasião em que confirmou a existência de novos documentos que comprovariam a inocência de Renan. Ele também defendeu a legitimidade das provas apresentadas pelo presidente do Senado ao colegiado e contrariou uma declaração do senador Demóstenes Torres de que os senadores não tiveram acesso às notas que comprovariam a movimentação fincanceira das fazendas de Renan.
Romero Jucá (PMDB-RR)
O pedido de perícia da documentação apresentada por Renan Calheiros foi levado ao Conselho pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que funcionou como um porta-voz do presidente do Senado. Em diversas vezes ao longo da reunião, Jucá pediu a palavra para dizer que havia recebido “um telefone de Renan Calheiros” e que na ligação ele solicitava que o Conselho não deixasse “pairar dúvidas quanto às provas que ele [Renan] apresentou em sua defesa”, além de pedir que fosse feita a perícia da documentação.
Sibá Machado (PT-AC)
O presidente do Conselho procurou durante toda a sessão apaziguar os ânimos e garantir a palavra a todos. Após Cafeteira afirmar que deixaria o colegiado caso o seu parecer não fosse votado naquela sessão, Sibá procurou ouvir os líderes e chegar a um consenso, num claro esforço para se mostrar imparcial.
Wellignton Salgado (PMDB-MG)
Deu um show à parte. Declarando que votava com o relator, afirmou que era um “idiota politicamente”, por não conseguir entender o motivo do adiamento da votação. Para ele, não havia mais porque deixar a Casa “sangrando”, se o presidente do Congresso havia apresentado “tudo”. “Nem sei como ele tem tudo”, disse referindo-se à documentação apresentada por Renan Calheiros.
*Colaboraram Edson Sardinha, Carol Ferrare e Rodolfo Torres
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