Dilma ainda tenta satisfazer as principais correntes internas do PT, que disputam poder no novo governo, e chegar a um entendimento com aliados ainda não contemplados, como o PP e o PR. Os petistas da corrente Construindo um novo Brasil (CNB), o antigo Campo Majoritário, do ex-presidente Lula, resistem à perda de espaço para a Democracia Socialista, uma ala mais à esquerda, que avança sobre a Secretaria-Geral da Presidência (Miguel Rossetto) e a Secretaria de Relações Institucionais (Pepe Vargas). Os dois gaúchos são os preferidos por Dilma para ocupar cargos até então ocupados por integrantes da CNB – Gilberto Carvalho e Ricardo Berzoini.
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Pelas mudanças já anunciadas, o PT perdeu dois dos mais importantes ministérios – o da Fazenda e o da Educação – e só tem um nome confirmado: Jaques Wagner (Defesa). O PMDB aumentou sua participação, de cinco para seis pastas, mas, como de costume, ainda reivindica maior espaço. Criados mais recentemente, o PSD e o Pros ganharam um ministério cada.
Alguns ministros devem continuar em seus respectivos cargos. A tendência é que isso ocorra com pelo menos sete: Aloizio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça), Arthur Chioro (Saúde), Manoel Dias (Trabalho), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Ideli Salvatti (Direitos Humanos). Outros devem ser alocados, a exemplo do que acontecerá com Aldo Rebelo (PCdoB), que trocará a pasta do Esporte pela de Ciência e Tecnologia. Berzoini, o atual ministro de Relações Institucionais, deve passar ao Ministério das Comunicações. O ministro das Cidades, Gilberto Occhi, é cotado para assumir a Integração Nacional na cota do PP, já que seu lugar será tomado por Gilberto Kassab (PSD).
O suplente de senador e vereador de São Paulo Antônio Carlos Rodrigues (PR), o deputado e senador eleito Wellington Fagundes (PR-MT) e o ex-ministro Paulo Sérgio Passos disputam a chefia do Ministério dos Transportes. O deputado eleito Patrus Ananinas (PT-MG), que já foi ministro do Desenvolvimento Social de Lula, é o favorito para o Desenvolvimento Agrário.
A seguir, a relação e um breve perfil dos ministros já confirmados por Dilma para o seu segundo mandato:
PublicidadeJoaquim Levy – Ministério da Fazenda
Ex-secretário do Tesouro Nacional no governo Lula, foi chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso. É Ph.D em Economia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos. Foi vice-presidente de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e secretário da Fazenda no primeiro governo Sérgio Cabral (PMDB) no Rio de Janeiro. Estava na diretoria do Bradesco. Sua indicação enfrentou resistência de parte do PT, que considera seu perfil conservador.
Nelson Barbosa – Ministério do Planejamento
Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é economista com Ph.D pela New School for Social Research, de Nova York. Secretário-executivo da Fazenda entre 2011 e 2013, deixou a pasta após desentendimento com o secretário de Tesouro, Arno Augustin. No Ministério da Fazenda, também foi secretário de Política Econômica. Já trabalhou no Ministério do Planejamento (2003), no Banco Central (1994-1997) e presidiu o Conselho do Banco do Brasil (2009- 2013).
Alexandre Tombini – Banco Central
No comando do BC desde janeiro de 2011, será mantido no cargo. Ph.D em Economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, é funcionário de carreira do Banco Central desde 1998. Afastou-se da instituição entre 2001 e 2005, quando foi assessor sênior da Diretoria Executiva no escritório da representação brasileira do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Armando Monteiro (PTB-PE) – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é senador. É formado em Administração de Empresas e Direito. Ex-deputado federal, foi o segundo colocado na disputa ao governo de Pernambuco em 2014, ao perder no primeiro turno para Paulo Câmara (PSB).
Eduardo Braga (PMDB-AM) – Ministério de Minas e Energia
Ex-governador do Amazonas, é o atual líder do governo no Senado. Este ano perdeu a disputa ao governo estadual para José Melo (Pros). É empresário e engenheiro.
Kátia Abreu (PMDB-TO) – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Uma das principais lideranças da bancada ruralista no Congresso, é presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Filiada ao PFL/DEM, foi uma das principais opositoras do governo Lula. Após se filiar ao PSD, passou a dialogar com a presidente Dilma, de quem se tornou próxima. Sua indicação enfrentou forte resistência de correntes mais à esquerda do PT e de movimentos sociais, como o MST. É formada em Psicologia.
Helder Barbalho (PMDB-PA) – Ministério da Pesca
Ex-prefeito de Ananindeua (PA), perdeu no segundo turno a disputa ao governo do Pará em outubro. É filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Radialista, tem 35 anos e é o mais jovem entre os ministros anunciados até agora.
Vinícius Lajes (PMDB-AL) – Ministério do Turismo
Titular da pasta desde março, foi gerente da unidade de assessoria internacional do Sebrae entre 2007 e o começo deste ano. Sua indicação foi contestada pelo PMDB, mas teve o aval do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), seu conterrâneo.
Eliseu Padilha (PMDB-RS) – Secretaria de Aviação Civil
Ministro dos Transportes no governo FHC, é deputado federal reeleito. Deixou o governo Fernando Henrique após ser acusado de receber propina, mas o processo foi arquivado posteriormente. Embora tenha apoiado o PSDB nas eleições de 2002 e 2006, trabalhou este ano pela reeleição de Dilma. É advogado.
Edinho Araújo (PMDB-SP) – Secretaria de Portos
Vice-líder do PMDB na Câmara, é deputado federal reeleito para o quarto mandato. Advogado, faz parte do grupo político do vice-presidente Michel Temer.
Jaques Wagner (PT-BA) – Ministério da Defesa
Ex-deputado federal, conclui o seu segundo mandato consecutivo como governador da Bahia. Conseguiu fazer do deputado Rui Costa (PT-BA) seu sucessor. No governo Lula, foi ministro do Trabalho e comandou a Secretaria de Relações Institucionais durante a crise do mensalão. É o único petista confirmado até agora.
Cid Gomes (Pros-CE) – Ministério da Educação
Conclui o seu segundo mandato de governador do Ceará. Irmão do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, fez sucessor no governo cearense: o petista Camilo Santana. Cid e Ciro deixaram o PSB para continuar a aliança com Dilma após o então presidente do partido, Eduardo Campos, lançar sua pré-candidatura ao Planalto. É engenheiro.
Aldo Rebelo (PCdoB-SP) – Ministério de Ciência e Tecnologia
Atual titular do Ministério do Esporte, o deputado federal licenciado não disputou a eleição este ano. Foi o principal representante do governo na organização da Copa do Mundo. É advogado e já presidiu a Câmara e foi ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais do governo Lula.
Gilberto Kassab (PSD-SP) – Ministério das Cidades
Ex-prefeito de São Paulo, foi o terceiro colocado na disputa ao Senado. Historicamente ligado ao PSDB, deixou o DEM para fundar o PSD, por meio do qual se aproximou do PT. Será o primeiro representante do partido a ocupar um ministério.
George Hilton (PRB-MG) – Ministério do Esporte
É pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e deputado federal reeleito. Sua indicação tem sido contestada devido à falta de experiência e atuação na área esportiva. O deputado passou a última semana dando explicações sobre fatos de seu passado. O mais notório dele ocorreu em 2005, quando foi detido pela Polícia Federal com mais de R$ 600 mil (em valores da época) em um aeroporto em Belo Horizonte. O dinheiro, segundo ele, era de fiéis da Igreja Universal. Apesar de o processo ter sido arquivado, acabou expulso do PFL, partido pelo qual era deputado estadual em Minas.
Nilma Gomes – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Pedagoga e professora universitária, foi a primeira negra a assumir, em abril de 2013, a reitoria de uma universidade federal – a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com sede em Redenção (CE). Com pós-doutorado na Universidade de Coimbra, Portugal, é considerada de perfil técnico. Não tem filiação partidária.
Valdir Simão – Controladoria-Geral da União
Sem filiação partidária, é o atual secretário-executivo da Casa Civil. Considerado de perfil técnico, é auditor de carreira da Receita Federal. Foi coordenador do Gabinete Digital da Presidência da República e secretário-executivo do Ministério do Turismo. Também presidiu o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e foi secretário da Fazenda do Distrito Federal.