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Criador e líder da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, o pastor resistiu à pressão. Não só se elegeu como conseguiu se segurar no comando do colegiado, apesar dos apelos do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), de lideranças partidárias, dos movimentos de direitos humanos e até de evangélicos para que renunciasse ao posto. Na onda de protestos que invadiu o país em junho, Feliciano virou um dos alvos mais frequentes dos manifestantes.
Polêmica religiosa
Sua eleição provocou a debandada de cinco deputados da Comissão de Direitos Humanos e transformou o colegiado, até então reduto da esquerda e centro-esquerda, em campo de atuação da bancada evangélica, sua principal base de apoio. Na presidência da CDH, Feliciano já pautou projetos polêmicos, como o que criminaliza o preconceito contra heterossexuais, batizado de “heterofobia”, em reação à proposta que torna crime a homofobia, e o que prevê o tratamento psicológico de homossexuais, a chamada “cura gay”, aprovado pelo colegiado no dia 18 de junho. A proposta revoga resolução do Conselho Federal de Psicologia que proibia o atendimento de pacientes homossexuais com o objetivo de mudar sua orientação sexual. A crítica à aprovação desse projeto é recorrente nos cartazes erguidos por manifestantes que tomaram as ruas do país no final de junho.
PublicidadeA polêmica em torno da presença do pastor na CDH escancarou divergências na comunidade evangélica. Manifestos assinados por entidades como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) e o Conselho Coordenador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (CC-IPU) pediram a renúncia de Feliciano da comissão. Para essas entidades, que reúnem lideranças evangélicas, Feliciano não tem preparo nem afinidade com o assunto para ocupar o cargo. Elas alegam que o deputado do PSC trabalha uma “agenda própria” e não fala em nome dos evangélicos brasileiros.
Problemas na Justiça
Além de controvérsias, o deputado acumula problemas no Supremo Tribunal Federal (STF). Marco Feliciano é réu em ação penal por estelionato e investigado em outros dois inquéritos – um por declarações consideradas ofensivas a negros e homossexuais, e outro pela contratação de pastores de sua igreja em seu gabinete na Câmara.
Na Ação Penal 612, o deputado é acusado de ter inventado um acidente no Rio de Janeiro para justificar a ausência em evento religioso no Rio Grande do Sul, para o qual já havia recebido cachê, passagens e hospedagem. Em 25 de maio, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recomendou ao Supremo que arquivasse o caso por falta de provas.
No mês anterior, Gurgel havia pedido a transformação do inquérito (investigação preliminar) em ação penal (processo que pode resultar em condenação) que apura duas mensagens publicadas pelo deputado no Twitter. Em uma delas, escreveu: “A podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam (sic) ao ódio, ao crime, a rejeição”. Na outra, escreveu que os africanos são amaldiçoados pelo personagem bíblico Noé.
O deputado alega inocência. Em defesa apresentada no Supremo em março, Feliciano disse que é “vítima de uma perseguição fria e calculista por uma simples interpretação teológica” sobre um trecho da bíblia. Afirma ainda que, em momento algum, teve a intenção de “tratar de forma injusta ou desigual os homossexuais”. O deputado sustenta que sua explicação foi baseada em “conhecimentos teológicos”.
Também em abril, o procurador pediu a abertura de investigação para apurar a contratação de cinco pastores da igreja de Feliciano por seu gabinete na Câmara. O pedido é baseado em representação feita pelos deputados Jean Wyllys (Psol-RJ), Érika Kokay (PT-DF) e Domingos Dutra (PT-MA) com base em reportagem da Folha de S. Paulo. O deputado é suspeito de pagar integrantes da cúpula de sua igreja com recursos da Câmara, mesmo eles não cumprindo expediente em Brasília ou no escritório político de Feliciano.
Pregações
A presença do deputado à frente do CDH também desencadeou a divulgação de uma série de vídeos na internet com pregações religiosas polêmicas do pastor. Em um deles, o religioso aparece cobrando a senha do cartão de crédito de um fiel. Em outro, tenta justificar o assassinato do ex-Beatle John Lennon e o desastre aéreo que matou os músicos da banda Mamona Assassinas.
Para o deputado, o britânico foi morto como castigo por ter dito, certa vez, que sua banda era mais famosa que Jesus Cristo. “Eu queria estar lá no dia em que descobriram o corpo dele (John Lennon). Ia tirar o pano de cima e dizer: ‘me perdoe John, mas esse primeiro tiro é em nome do Pai, esse é em nome do Filho e esse é em nome do Espírito Santo’”. Feliciano conclui: “Ninguém afronta a Deus e sobrevive para debochar”.
Já os artistas brasileiros foram vítimas, segundo ele, das letras inadequadas de suas músicas. “Ao invés de virar pra um lado, o manche tocou pra outro. Um anjo pôs o dedo no manche e Deus fulminou aqueles que tentaram colocar palavras torpes na boca das nossas crianças.”
Projeção eleitoral
Ao reverberar o pensamento de parte dos brasileiros, Feliciano ganhou popularidade no segmento do eleitorado em que atua, como mostram manifestações feitas na internet e também nos corredores da Câmara favoráveis à sua permanência à frente do colegiado. Uma ascensão que caiu no colo do PSC depois que partidos como o PT, o PDT e o PCdoB, que se revezavam na presidência da Comissão de Direitos Humanos, abriram mão da CDH.
O deputado desponta como a grande esperança de votos do PSC para aumentar sua bancada nas eleições de 2014. O partido acredita que ele possa triplicar os 211 mil votos que recebeu em 2010. De carona nessa projeção, a sigla, que tem hoje 16 deputados, anunciou que vai lançar o seu atual vice-presidente, Everaldo Pereira, como candidato à Presidência da República no próximo ano.