No lançamento da pré-candidatura de Marina Silva à Presidência da República, um jovem de cabelos ruivos, camisa verde e sardas no rosto destoava do grupo que de políticos que acumulavam fios grisalhos e marcas de expressão facial. Aos 27 anos, o paulista José Gustavo Favaro Barbosa Silva foi o último a discursar antes da grande estrela do evento. E do lado esquerdo dela permaneceu sentado o tempo todo. O administrador público nascido em São Carlos e formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara é o mais jovem presidente de partido da história do país. Ou porta-voz, como a Rede designa o principal cargo da legenda.
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Zé Gustavo, como é conhecido, comanda desde 2015 a legenda que Marina idealizou. Ele deixará o cargo em março de 2018, quando haverá eleição para definir o novo quadro de dirigentes da sigla. De março a outubro, terá de conciliar o papel de um dos mais próximos aliados de Marina com sua candidatura a deputado federal. Na primeira tentativa, em 2014, quando tinha 24 anos, recebeu 14.474 votos, em 54% dos municípios paulistas.
O perfil dele se difere da maioria daqueles que chegam no auge da juventude ao Congresso ou ao comando das máquinas partidárias. Filho de uma empregada doméstica e de um representante comercial, foi o primeiro de sua família a estudar em universidade pública. É também o primeiro a entrar para a política. “As pessoas perguntavam para minha mãe, que é empregada doméstica, o que filho dela fazia. Ela respondia: ele está envolvido em política, parecia até que eu traficava drogas (risos). Foi desse lugar que eu vim”, conta.
Experiência e juventude
O jovem por trás da candidatura de Marina faz parte de um grupo formado por conselheiros pra lá de experientes, como o deputado Miro Teixeira (RJ), o ex-presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) Bazileu Margarido, coordenador-executivo da Rede, e a ex-senadora Heloisa Helena, uma das melhores amigas da pré-candidata. Heloísa permaneceu sentada à direita de Marina durante o anúncio de sua candidatura.
Primeiro filiado da Rede, Miro é o político há mais tempo na Câmara, aonde chegou com 26 anos, em 1971. De lá para cá, o colega de partido de Zé Gustavo acumula 11 mandatos. Em 1990, quando o presidente do partido nasceu, Miro já estava no Parlamento havia duas décadas.
A diferença de idade, segundo ele, longe de representar conflito, rende enriquecimento de experiência. “Aprendemos um om outro. Nós temos paciência com os mais velhos, e eles também têm paciência conosco e abrem espaço pra gente.”
Mais da metade dos dirigentes nacionais, estaduais e municipais da Rede tem menos de 35 anos, como ele. “Temos a característica da aliança intergeracional e também de gêneros. Queremos ter metade das direções nas mãos de mulheres a partir do ano que vem”, conta.
Mesmo sendo 32 anos mais jovem do que a líder do partido, Zé diz ter dificuldade para acompanhar o ritmo da ex-senadora, que, ao contrário que seus adversários dizem, nunca pára. “Com 59 anos, Marina têm um fôlego e uma energia que só não a conhece acha que ela está parada. Eu, com 27, tenho dificuldade de correr atrás dela”, diz.
O primeiro contato
Marina e Zé Gustavo se conheceram em 2011, quando ele era um dos organizadores do X Encontro Nacional de Estudantes de Administração Pública, em Serra Negra, interior paulista. O interesse por Marina, conta ele, nasceu em 2010, quando ela já havia trocado o PT pelo PV. Naquele ano, ele acompanhou do Canadá a campanha presidencial de Marina. Na época, fazia intercâmbio na Universidade de New Brunswick, graças a uma bolsa.
“De lá vi uma mulher negra, seringueira, fazendo uma campanha colaborativa incrível. De volta ao Brasil, me filiei ao Partido Verde em 2011 por causa dela”, narra. A passagem pelo PV foi relâmpago. Participou de uma única reunião, a de desfiliação coletiva do grupo de Marina.
A ex-senadora dava início, então, ao movimento para criar o seu próprio partido. Zé virou peça-chave nesse processo. Primeiro, coordenando a coleta de assinaturas de apoio à nova legenda em São Paulo e, depois, cuidando da busca nacional de apoio exigido pela Justiça eleitoral para o reconhecimento legal da sigla. O protagonismo nesse momento foi fundamental para aproximação entre ele, Marina e a cúpula da Rede.
“Sou tecnicamente o presidente mais jovem de partido no Brasil. Não significa muita coisa, mas é importante simbolicamente. Marina e eu trabalhamos juntos todo o tempo. Nossa relação não é figurativa”, ressalta.
Embora tenha apenas seis anos de militância política, Zé começou seu engajamento no que chama de movimento estudantil não tradicional e no trabalho social que fazia pela Igreja Católica. “Não participei do movimento estudantil tradicional, mas de um novo tipo, focado na melhoria da universidade onde estudávamos. Na faculdade, entendi o que era administração pública e o quanto o Estado era importante na vida das pessoas. Senti necessidade de entender a política, porque os sacanas a compreendiam muito bem, mas a maioria das pessoas não. A grande maioria dos políticos só pensa na gestão para se reeleger”, afirma.
Solteiro, Zé Gustavo vive na ponte aérea entre São Paulo, São Carlos e Brasília. Temas como a descriminalização das drogas e do aborto e a legalização do casamento gay, que costuma atrair jovens e causaram polêmica na campanha de Marina em 2014, pelas idas e vindas da candidata, não estão entre as prioridades do presidente da Rede.
“A Rede trabalha esses temas sem posicionamentos fechados. Acreditamos que teremos posição sobre esses assuntos no ano que vem. Essa não é, particularmente, a minha pauta prioritária. Meu foco é gestão pública com os mandatos colaborativos. Queremos que as pessoas ocupem a política e se ocupem dela”, explica.
Pré-candidato a deputado
Zé espera fazer parte da bancada de 18 deputados que o partido pretende eleger no próximo ano. Atualmente, a legenda é representada no Congresso por apenas quatro deputados federais e o senador Randolfe Rodrigues (AC).
“Precisamos de mandatos colaborativos, de deputado que olhe para a sociedade, não só para o Congresso, que convide a população a participar dos processos de decisão. Que a relação com as bases não fique restrita à destinação das emendas parlamentares. Defendemos um orçamento participativo para a distribuição das emendas, trabalhar no enraizamento com porta-vozes nas regiões de cada mandato”, defende.
O pré-candidato à Câmara propõe a criação de uma nova figura para o exercício do mandato. “São os chamados codeputados, pessoas que dedicam de três a cinco horas por semana a discutir, de graça, o mandato. Em 2014, 70 pessoas se comprometeram a ser meus codeputados se eu me elegesse.”
Pouco dinheiro, pouco tempo
Até outubro, Zé Gustavo terá de buscar votos para si e para Marina. Segundo ele, o lançamento da pré-candidatura da ex-senadora não deve mudar radicalmente a rotina dela, mas dar mais visibilidade às suas ações.
“Marina está sem mandato. É natural que ela seja menos ouvida do que quem tem mandato. Ela está dizendo o que sempre disse e vai continuar a dizer. Precisamos debater caminhos para 2018. A eleição do ano que vem é fundamental para o Brasil. Temos de unir forças com movimentos da sociedade e partidos políticos que queiram ser protagonistas da questão ética, do combate à corrupção, do comprometimento com direitos sociais, a economia sustentável e Estado eficiente”, afirma.
Mas essa tarefa, admite, não será fácil. Marina terá de superar a falta de recursos – caberá à Rede apenas 0,5% do dinheiro do bilionário fundo eleitoral – e os 12 segundos de horário eleitoral, muito inferiores aos valores e ao tempo que ela tinha nas eleições anteriores. Esses números minguaram com as regras aprovadas pelo Congresso este ano, que favorece os principais partidos. “Nosso grande desafio será envolver as pessoas no processo político, mostrar que não pretendemos a democracia dos políticos, mas a do povo”, acrescenta Zé.
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