No entanto, Rands desistiu e deixou o caminho livre para a candidatura do senador Humberto Costa, nome preferido pela executiva nacional do partido. E declarou apoio a Geraldo Júlio (PSB), que ganhou a eleição Na mesma ocasião, Rands também entregou o cargo de secretário que ocupava no governo de Pernambuco, então comandado por Eduardo Campos (PSB).
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Líder do PT na Câmara na gestão do presidente Lula, Maurício Rands se filiou ao PSB em outubro do ano passado. Vai ser um dos coordenadores da campanha de Eduardo Campos à presidência da República. Com a socióloga Neca Setúbal, indicada pela Rede [partido que a ex-senadora Marina Silva tentou criar], ele deve se dedicar ao programa de governo da chapa presidencial.
Após a solenidade em que Marina Silva foi confirmada como pré-candidata a vice-presidente na chapa encabeçada por Eduardo Campos na segunda-feira passada (14), Rands – em entrevista ao Congresso em Foco – criticou as campanhas eleitorais de 2010 e afirmou que “o PSB e a Rede são partidos do campo da esquerda e não têm a arrogância de pretender dizer que detêm o monopólio dos valores de esquerda”. E alfinetou o PT: “Alguns às vezes se arvoram em querer deter o monopólio dos valores políticos”.
“Vários partidos são legatários dos valores da esquerda. Somos parte da esquerda”, continuou o ex-petista. Ele rebateu a acusação do ex-presidente Lula de que Eduardo Campos estaria se virando à direita. “Quem está querendo o debate do futuro, com a juventude, com as forças dos movimentos sociais, não pode ser caracterizado como de direita”, rebateu.
Rands minimizou a presença de políticos vindo do DEM no partido, como Heráclito Fortes e Paulo Bornhausen. “Esse novo pacto não vai discriminar. Todos que queiram discutir um novo projeto para o país podem se incorporar, sem preconceitos”.
PublicidadeEle avaliou que conquistas do governo de Lula estão começando a ficar em risco sob a gestão da presidente Dilma Rousseff. “Começou a patinar na condução da economia, não modernizou a administração. Nas áreas em que mais tinha conhecimento, não conseguiu avançar”. O ex-líder do PT ainda disse que sua antiga legenda parou no tempo e no conservadorismo. “O partido perdeu capacidade de se renovar e se acomodou com pacto político tradicional.”
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Veja os principais trechos da conversa com o site.
Congresso em Foco – Como vai ser a coordenação da campanha presidencial? Em que a campanha pretende ser inovadora?
Maurício Rands – O processo está em fase de constituição da coordenação. Queremos incorporar outros partidos. Concluímos as diretrizes. Vamos ouvir setores da sociedade. Sociedade civil organizada, empresariado, academia. A campanha está sendo fundada numa aliança programática. A tradição da política brasileira é fazer aliança eleitoral antes e depois se preocupar com programa. Nós estamos fazendo aliança programática que dá desdobramentos para a questão eleitoral.
Eduardo Campos e Marina Silva falam em “nova política”. O que essa “nova política” tem de diferente da “velha política”?
A primeira coisa é que a aliança está sendo programática. E vai ouvir muito o povo. Não é aquela coisa tradicional em que só a gente fala. O Brasil está querendo ser escutado. Há um mal-estar na sociedade. A sociedade não está mais satisfeita com o padrão de política e de administração pública. Para darmos esse salto de qualidade, achamos que a base de tudo é um novo pacto de governança, um novo pacto político, um rearranjo da forma de fazer política, para dar respostas a perguntas que a sociedade está fazendo. E esse novo pacto vai dar essas respostas.
O PSB abriga políticos de perfil conservador — como o deputado Paulo Bornhausen e o ex-senador Heráclito Fortes, egressos do DEM. Eles fazem parte dessa nova política?
Esse novo pacto que está sendo feito não vai discriminar. Todos que queiram rever a política tradicional e queiram discutir um novo projeto para o país podem se incorporar, sem que tenhamos preconceitos.
As eleições presidenciais estão polarizadas entre PT e PSDB desde 1994. Como convencer o eleitorado de que há uma alternativa fora disso?
O Brasil não quer repetir as eleições de 2010, em que não se discutiram conteúdos e projetos, não foram identificados os problemas nacionais e gargalos ao crescimento e ao avanço do combate à desigualdade. Foi uma campanha superficial. Essa aliança que estamos fazendo não quer repetir o passado. Queremos preservar o que há de positivo no presente e sinalizar para o futuro. A estratégia vai ser ouvir, dialogar, sem preconceito, com todos os segmentos sociais, em todas as regiões.
As últimas pesquisas mostraram queda da presidenta Dilma Rousseff nas intenções de voto, mas estagnação de Eduardo Campos e de Aécio Neves (PSDB). Qual avaliação vocês fazem desse quadro?
A pesquisa é um retrato do presente, mas, muitas vezes, com a memória do retrovisor. À medida em que a sociedade está querendo algo diferente, agora é que ela vai começar a conhecer o potencial de Eduardo e Marina, as propostas e procedimentos dessa nova aliança, o novo campo político que surge no Brasil. Há muito a caminhar para que essa nova proposta seja conhecida. Tenho convicção de que a proposta vai conquistar os brasileiros à medida que ficar conhecida.
De acordo com ao menos uma das pesquisas, Marina, se candidata a presidente, poderia forçar um segundo turno. Além disso, os brasileiros enxergariam Marina e não Eduardo Campos como mais preparada para a mudança desejada pelos eleitores. Ainda seria discutível dentro da aliança alguma alteração na chapa, que deve ser confirmada somente em junho, quando acontecerá a convenção do PSB? Está totalmente descartada a possibilidade de Marina assumir a candidatura a presidente?
Muita gente apostou que a aliança programática não vingaria. Mas ela vingou. Todos aqueles que continuarem apostando na inviabilidade da chapa de Eduardo e Marina vão continuar perdendo. A chapa encabeçada por Eduardo já está consolidada.
O ex-presidente Lula declarou que Campos migrou para a direita. Essa afirmação está correta?
A candidatura de Eduardo e Marina é a que mais está sintonizada com o sentimento das ruas, com a juventude que não quer o pacto que envelheceu, que não quer o convencional da política, que não quer o debate do presente com o passado. Então quem está querendo o debate do futuro, com a juventude, com as forças dos movimentos sociais, com a criação de um novo campo político não pode ser caracterizado como de direita. Alguns às vezes se arvoram em querer deter o monopólio dos valores políticos. Os valores políticos da esquerda não são monopólio de um único partido. Existem vários partidos que são legatários dos valores da esquerda. O PSB e a Rede são partidos do campo da esquerda e não têm a arrogância de pretender dizer que detêm o monopólio dos valores de esquerda. Somos parte da esquerda. Jamais queremos ter o monópolio. Acreditamos que estamos na trajetória da esquerda brasileira, que é aquela capacidade de se renovar, reinventar, reconectar com a juventude e com as forças de transformação na direção de um país com mais igualdade.
O PSB e a Rede têm divergências em alguns estados. Como evitar que isso atrapalhe a campanha presidencial?
A aliança nacional está consolidada. Existem cerca de 15 estados em que já há encaminhamento para que os dois partidos marchem juntos. Vamos continuar dialogando até as convenções, na data limite de 30 de junho, para fazermos as alianças regionais no maior número possível de estados. Onde não for possível, vai haver mais de uma candidatura apoiando a chapa de Eduardo e Marina.
O senhor teve uma longa trajetória no PT e está no PSB desde outubro último. Quais diferenças vê entre os dois partidos?
Eu e outros que migraram para o PSB estamos muito à vontade porque o PSB tem tradição na esquerda brasileira. São agremiações com trajetórias distintas, mas têm ideário programático na esquerda e, portanto, muitas afinidades. Divergi do PT porque avaliei que o partido perdeu capacidade de se renovar e se acomodou com pacto político tradicional e divergi de imposições, às vezes se distanciando da militância. A gota d’ água foi a imposição de uma candidatura a partir de São Paulo na eleição de Recife. Nos bastidores e na burocracia, a cúpula partidária resolveu impor contra dois candidatos e contra a militância uma terceira candidatura que não tinha se colocado para o debate. Eu precisava demonstrar que existem pessoas que não aceitam desrespeito à militância e jogo do vale tudo para ocupar cargos públicos.
O senhor se decepcionou com o governo Dilma?
O PT avançou muito até o governo de Lula. Em relação ao governo de Dilma, expectativas que nós tínhamos não se confirmaram. Ela começou a patinar na condução da economia, não modernizou a administração. Nas áreas em que mais tinha conhecimento – em energia, por exemplo -, ela não conseguiu avançar. As próprias conquistas do governo Lula começam a derreter, começam a ficar em risco.
O senhor foi um dos principais defensores do governo Lula na CPI dos Correios. Sua opinião sobre o mensalão mudou de lá pra cá?
Tenho orgulho de ter participado e apoiado os avanços do governo Lula. Naquela época [quando veio à tona o escândalo do mensalão], eu disse que quem tivesse cometido coisas erradas teria de responder perante a Justiça. O que eu não aceitava era que usassem a crise de 2005 para tentar, por meio de um golpe, derrubar o governo do presidente Lula e inviabilizar o governo por meio de métodos não democráticos.
Há algum receio em relação à possível investigação de supostas irregularidades no porto de Suape [administrado pelo governo de Pernambuco]?
Não há qualquer irregularidade. Essa pseudo-ameaça que atingiria o PSB é uma ameaça natimorta.