Essas construtoras financiaram, ainda, outras 25 legendas com R$ 270 milhões. Ou seja, dos 32 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 28 (87%) foram financiados nas duas últimas eleições gerais por empreiteiras acusadas pelo Ministério Público Federal de integrar um cartel para desviar recursos da Petrobras, o chamado “clube do bilhão”. Apenas o Psol, o PCB, o PSTU e o PCO – legendas de esquerda e extrema-esquerda que não costumam receber doações de empresas não foram beneficiadas pelo grupo.
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Só no ano passado, PT, PSDB e PMDB tiveram um auxílio de R$ 306 milhões dos grupos Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Toyo Setal e UTC Engenharia. Dessas, só a Toyo não doou a esses três partidos em 2010. Naquele ano, além das oito construtoras citadas anteriormente, também contribuíram a IESA, a Mendes Junior e a Promon. Juntas, essas 11 empresas repassaram R$ 276 milhões (R$ 353 milhões em valores atualizados) para candidaturas petistas, tucanas e peemedebistas. O levantamento considera as quantias declaradas à Justiça eleitoral.
Financiamento privado
Coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), o juiz Márlon Reis avalia que a difusão dessas doações entre os partidos enfraquece o argumento da oposição de que apenas o PT se beneficiou da relação com as empreiteiras. “A oposição está devendo à população um comportamento contrário ao do governo. Ela está perdendo a oportunidade de denunciar as doações ilícitas”, diz o juiz.
PublicidadePara ele, o problema não se restringe a uma sigla ou outra, vem do modelo de financiamento privado. “As doações provenientes de empresas investigadas na Operação Lava Jato desmoralizam todos os que receberam os recursos, mesmo que indiretamente”, afirma Márlon. Parte das contribuições não foi feita diretamente aos candidatos, mas aos diretórios partidários, responsáveis pela distribuição do dinheiro.
Em relação às eleições de 2010, não é possível identificar parte do destino das doações feitas pelas empreiteiras investigadas. Em vários casos, os recursos foram repassados aos partidos, mas não há registro de como foi feita a distribuição entre seus respectivos candidatos. Em 2014, pela primeira vez, as legendas foram obrigadas a informar à Justiça eleitoral a origem do dinheiro. Ou seja, foi possível rastrear as doações.
Cinco vezes
De 2006 para 2010, o gasto das empreiteiras com campanhas políticas aumentou cinco vezes, como mostrou ontem (23) o Congresso em Foco. Foi o maior salto registrado desde 2002. Somadas, em valores corrigidos, as contribuições das empresas agora sob investigação na Lava Jato passam de R$ 1,1 bilhão nas últimas quatro eleições gerais.
Os dados se referem às doações registradas na Justiça eleitoral por empresas apontadas pelo Ministério Público Federal como integrantes do ‘cartel’ formado, segundo os investigadores, para fraudar licitações, corromper agentes públicos e desviar recursos da Petrobras, entre 2004 e 2012. Com exceção da Camargo Corrêa e da Toyo Setal, cujos executivos fizeram acordo de delação premiada, as outras 14 suspeitas negam participação no esquema. Todas argumentam que as doações eleitorais foram legais.