Eduardo Militão
O Partido dos Trabalhadores revolveu ir à Justiça para tentar desvincular a candidata Dilma Rousseff das denúncias envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, que deixou o governo hoje. Segundo o consultor de empresas Rubnei Quícoli, o lobby promovido pela família de Erenice incluía suborno de R$ 5 milhões para a pré-candidatura de Dilma, de acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
No final da tarde desta quinta-feira (16), o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, anunciou que o partido vai pedir à Polícia Federal que investigue se são verdadeiras as acusações de Quícoli. Ao mesmo tempo, o PT vai abrir uma representação criminal por calúnia e difamação contra o consultor, que ainda responderá a uma ação cível pedindo uma indenização.
Dutra afirmou que as ações contra o denunciante serão antecipadas às conclusões da PF porque os petistas têm certeza de que as afirmações de Quícoli são falsas. “Nós temos absoluta convicção de que isso não existiu”, afirmou o presidente nacional do PT, na sede do partido, em Brasília.
Ele fez menção aos dois processos em que Quícoli foi condenado, um deles por receptação de carga roubada. “Nós não admitimos que ninguém, nem mesmo e principalmente uma cidadão com essa folha corrida, faça essa tentativa de forjar a partipação do PT nesse episódio”, disse Dutra.
O presidente do partido disse que não vai orientar a PF a ouvir a ex-ministra Erenice Guerra, o filho dela, Israel Guerra, ou o ex-diretor dos Correio, Marco Antônio Oliveira, embora acredite que este último deverá ser ouvido.
De acordo com Quícoli, Oliveira lhe pediu R$ 5 milhões no início deste ano para ver o projeto de energia solar ser aprovado pelo BNDES para pagar dívida da “mulher de ferro”, apontada pelo consultor como sendo Dilma. Oliveira negou a afirmação. Em nota divulgada hoje, o BNDES rechaçou que o projeto patrocinado por Quícoli tenha sido rejeitado por conta de lobbies.
Segundo Dutra, só o presidente do PT e o tesoureiro tinham autorização para pedir dinheiro para a pré-campanha até 5 de junho. Depois, disso, só o tesoureiro. Dutra disse que, se for provado que Oliveira pediu recursos em nome do partido, ele também será processado.
Só insinuação
O presidente do PT afirmou hoje que não vai haver processo contra o consultor Fábio Baracat, entrevistado pela revista Veja. Ele afirma que pagou propina para o filho de Erenice Guerra, também citado por Quícoli, para fechar contratos com os Correios. Baracat relatou à revista uma frase atribuída a Erenice, sobre o atraso nos pagamentos: “Entenda, Fábio, que nós temos compromissos políticos a cumprir”.
Segundo Dutra, isso não motivará processos porque não foi citada diretamente a campanha de Dilma. “Isso foi só uma insinuação.”
Obstrução
O presidente nacional do PT disse que Erenice saiu para poder se defender. E avaliou que ela tomou essa atitude também para não ser acusada de obstruir as investigações da Comissão de Ética da Presidência e da Controladoria Geral da União (CGU).
Dutra evitou dizer se a saída de Erenice foi boa para blindar a campanha de ataques. “A campanha não tem relação com o governo. A decisão da saída foi do governo”, argumentou Dutra. Ele disse que bom para a campanha seria que houvesse debate de propostas e não “baixaria” patrocinada pela oposição.