Rodolfo Torres e Fábio Góis
O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), anunciou no fim da noite desta terça-feira (30) que a bancada do partido terá uma reunião com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), nesta quarta-feira (1º) pela manhã. Com a decisão, os petistas esperam ouvir um posicionamento de Sarney sobre a crise institucional instalada há meses, para então definir a estratégia a respeito da situação do aliado no comando da Casa. Os senadores petistas passaram mais de duas horas reunidos no gabinete da liderança para chegar a esse entendimento.
Após o encontro com o peemedebista o partido se reunirá novamente e tomará uma posição sobre um eventual pedido de afastamento de Sarney. PSDB e Psol já entraram no Conselho de Ética da Casa para investigar a ligação do peemedebista com os atos administrativos secretos praticados na instituição desde 1995, que teriam beneficiado parlamentares, servidores da cúpula, parentes e aliados. Os documentos eram formalizados e não publicados no Diário do Senado ou no boletim eletrônico administrativo, e serviram, entre outros propósitos, para conceder aumentos, efetuar contratações e estender prerrogativas de senadores a ex-diretores.
“Após o diálogo, vamos decidir. Queremos ouvir o presidente Sarney”, afirmou Mercadante, anunciando que o partido vai propor uma comissão composta por senadores e funcionários para reestruturar profundamente a Casa. Uma medida semelhante chegou a ser proposta pelo presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), mas gerou atrito entre os membros da Mesa Diretora (entre eles o tucano Marconi Perillo, vice-presidente da Casa), que na prática seria substituída em suas atribuições, temporariamente. “Vamos criar uma Lei de Responsabilidade Fiscal no Senado”, destacou o petista.
Segundo Mercadante, audiências públicas seriam a base desse processo de reforma administrativa do Senado. As mudanças seriam efetuadas paralelamente ao trabalho em curso na comissão de sindicância designada pela Primeira Secretaria para investigar cada um dos atos sigilosos, bem como a eventual participação de senadores nas emissões. Além da sindicância, o Tribunal de Contas da União e a Polícia Federal investigam os desmandos administrativos no Senado durante a era Agaciel Maia, que exerceu o comando da Diretoria Geral por quase 15 anos e foi afastado do posto por ocultação de bens à Receita Federal.
Das grandes bancadas do Senado, apenas o PT ainda não tomou posição sobre como proceder em relação a Sarney. Com vistas a minimizar o desgaste do Senado diante da opinião pública, o partido evitou anunciar apoio ao peemedebista sem estudar uma alternativa, que inclui uma saída honrosa para um dos mais influentes aliados do presidente Lula. Nesta terça-feira (30), DEM e PSDB pediriam que Sarney se afaste da presidência do Senado enquanto as investigações são realizadas (leia mais). Senadores como Cristovam Buarque (PDT-DF) e o “dissidente” peemedebista Pedro Simon (RS) já o fizeram.
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Já o PMDB, depois de reunião na tarde desta terça-feira (30), reafirmou apoio à permanência de Sarney no cargo. Dos 19 parlamentares da legenda, apenas Simon e Jarbas Vasconcelos (PE), outro desafeto político de Sarney, decidiram não assinar a nota por meio da qual não só a decisão é comunicada, como também uma lista de supostas melhorias da gestão Sarney é apontada como resposta à crise (leia mais).
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