O PT diz que o mensalão é armação e que Joaquim Barbosa é assombração. O PSDB diz que a investigação da maracutaia na concorrência do metrô de SP é “política”. FHC acaba de dizer que o dinheiro da corrupção no metrô de SP não foi usado para comprar congressistas (O Globo de 17.08.13, p. 6). Até parece que isso inocentaria o partido da malandragem que protagonizou com as multinacionais podres como Siemens, Alston etc.
O presidente americano Richard Nixon (lembrado por Elio Gaspari), que foi obrigado a renunciar por causa do escândalo Watergate, disse: “Não é o crime que te ferra, é a tentativa de encobri-lo”. As desculpas esfarrapadas dadas pelos partidos políticos para encobrirem suas respectivas corrupções as assimilam à figura popular do nosso querido Nordeste conhecida como “cabra liso”, que é o malandro que tenta justificar todas as suas estrepolias.
Todos os condenados do mensalão são réus confessos (segundo eles, de crimes leves e prescritos). No caso dos cartéis formados em SP e Brasília, a documentação oferecida ao Cade (pela Siemens) é devastadora. Como se explica tudo isso? Por meio da ausência de emancipação moral do homo democraticus, que evoluiu em termos de liberdades formais, mas não está sabendo fazer uso cívico delas, deixando-se levar pela vulgaridade, que é a “livre manifestação da espontaneidade estético-instintiva do eu” (Gomá Lanzón).
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O processo de socialização do ser humano foi estrangulado. Gomá Lanzón explica: foram perdendo terreno a tradição, a religião, a pátria, o patriotismo, o comunitarismo (tão típico dos nossos índios), a solidariedade, enfim, a paideia (formação) que nos inseria no mundo cósmico. Paralelamente foram ganhando força o subjetivismo extravagante resultante do romanticismo, a liberdade sem limites, a rebeldia, a espontaneidade, a exaltação da diferença, o niilismo, a morte de Deus, a secularização, os movimentos contraculturais (dos anos 60) etc. Renunciamos a todos os tradicionais processos de socialização do “eu” e, no seu lugar, nada colocamos.
Aliás, sim, digo eu, inventamos a televisão e a internet, que constituem os veículos das máximas expressões da espontaneidade e, assim, muitas vezes, também da barbárie, porque não estamos dispostos à autolimitação dos nossos desejos nem das nossas naturais inclinações. Abandonamos a virtude, por falta de uma motivação cívica. Somos guiados pelas nossas inclinações estético-instintivas. Como ser virtuoso num mundo secularizado, ou seja, num mundo não mais guiado pela teologia? Foi com a vulgaridade que engendramos o processo de urbanização, sem nenhuma noção da vida em comum e sem renunciar às nossas pulsações antissociais bárbaras (Gomá Lanzón). Assim construímos nossas ruas, vilas, vilarejos, cidades, estados, países e nações. Sem compreender o contexto cultural (o todo) fica difícil entender as corrupções, os mensalões, as cartelizações e os espetáculos barraqueiros do século 21.
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