Hícaro Teixeira
O diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) no Distrito Federal impediu um candidato a deputado federal que defende a descriminalização das drogas de aparecer no horário eleitoral reservado à coligação. Jornalista de 55 anos, Gilson Euzébio diz que o comando do partido não lhe deu qualquer explicação sobre a decisão, que ele atribui à sua proposta, considerada polêmica, e aos parcos recursos financeiros que conseguiu levantar para a campanha eleitoral. “Fui censurado pelo meu próprio partido”, declarou o jornalista ao Congresso em Foco.
Gilson conta que não chegou sequer a gravar inserções para o horário eleitoral de rádio e TV. O espaço reservado ao partido, de acordo com ele, foi inteiramente ocupado por candidatos com maior capacidade financeira e por aqueles que se lançaram na disputa tendo como principal objetivo ajudar na eleição de Geraldo Magela (PT) para o Senado e na reeleição do governador Agnelo Queiroz (PT). A direção do partido nega que tenha censurado o filiado e diz que priorizou dar visibilidade a petistas com maior potencial eleitoral.
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Boca a boca
Para o candidato, a decisão de seu partido privilegia quem tem dinheiro para alugar equipamentos de som e manter nas ruas centenas de militantes. “O horário eleitoral gratuito, quando os candidatos, em tese, poderiam expor suas ideias, seria o único espaço efetivamente democrático, se dividido entre os candidatos de forma justa”, critica Gilson Euzébio. “Farei minha campanha no boca a boca.”
Apesar de ainda disputar a eleição pelo PT, Gilson diz que deixará o partido, ao qual é filiado há três décadas. “Estou fora do PT, porque o atual comando do partido se mostrou antidemocrático e ditatorial. As pessoas só querem o poder”, afirmou. Segundo ele, dirigentes da sigla em Brasília questionaram, desde o início da campanha, quanto ele teria de recursos para investir na eleição.
“Perseguição”
O secretário de Comunicação do PT no Distrito Federal, Sandoval de Jesus, diz que a exclusão de Gilson do horário eleitoral está relacionada à estratégia da coligação de priorizar “candidatos com chances de vencer as eleições”. Segundo ele, o diretório nunca censurou qualquer candidato. Sandoval ainda criticou o espaço dado pela reportagem às declarações do petista Gilson Euzébio. “Isso é perseguição ao PT”, afirmou.
Jornalista formado em Belo Horizonte, Gilson Euzébio trabalha desde 1986 em Brasília. Foi repórter de redações como O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense. Seu último trabalho foi na assessoria de imprensa do Conselho Nacional de Justiça (2010 a 2014). Também foi assessor do então ministro da Previdência Social, Luiz Marinho (PT) e diretor do Sindicato dos Jornalistas do DF.
O candidato defende a descriminalização das drogas como ponto fundamental para combater a violência nas ruas. “Se você não mexer nas questões das drogas, a polícia só trabalha com a repressão”, considera. Em artigo publicado no Congresso em Foco, Gilson escreveu que a guerra às drogas está perdida e que os políticos brasileiros se recusam a enfrentar o assunto de outra maneira. “Preconceituosos e, sobretudo, hipócritas, os políticos não se arriscam a discutir a liberação das drogas e outros assuntos delicados”, afirmou.