Pré-candidata à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva (Rede) foi criticada por seus opositores e até seus aliados por pouco se manifestar em um dos períodos de maior crise da história política do país. Também foi em silêncio que ela começou a negociar a recomposição das alianças de 2010 e 2014 para tentar, pela terceira vez, concorrer ao Palácio do Planalto. Mas as dificuldades para essa costura e as fragilidades do partido que ela mesma criou são os principais obstáculos ao sonho presidencial da ex-ministra do Meio Ambiente, revela reportagem de capa da nova edição da Revista Congresso em Foco.
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Além de mostrar as pedras no caminho da ex-senadora, a revista traz uma entrevista exclusiva com Marina, reproduzida abaixo, na qual ela não mede palavras ao atacar o PT e o PSDB, partidos que a superaram nas duas últimas eleições presidenciais. Para a ex-senadora, os dois partidos levaram o país para o buraco, nunca se uniram em favor do interesse público e, agora, agem em conjunto para travar as investigações da Operação Lava Jato e impedir a ascensão ao poder de outras forças políticas.
“Não por acaso se uniram para monopolizar o tempo de televisão e o fundo partidário e eleitoral, para que não seja possível qualquer inovação e renovação política. Fizeram uma aliança para definir quem ganhará o poder em 2018. Pelas medidas que tomaram, pela monopolização dos recursos, já decidiram entre eles que só poderá governar o Brasil alguém do PT, do PSDB, do PMDB ou do DEM”, critica. Pelas regras da minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso, Marina deverá ter apenas 12 segundos no horário eleitoral e acesso a R$ 10 milhões dos recursos públicos do fundo eleitoral de R$ 1,7 bilhão. Mesmo assim, a ex-senadora diz acreditar na possibilidade de virar o jogo nas eleições.
O que a Rede tem de diferente em relação aos demais partidos para oferecer ao eleitor em 2018?
Marina Silva – A Rede trabalha para ter um conteúdo diferente e quer se constituir como um partido movimento. Não por acaso nosso símbolo é a fita de Möbius, em que o dentro e o fora fazem parte da mesma estrutura. Não é um momento fácil para construir um partido no Brasil porque há descrédito muito grande na política. O PT e o PSDB contribuíram para renovar a política, mas se perderam nos mesmos vícios.
O crescimento do partido, nesses dois anos de existência, é compatível com o que foi planejado?
É compatível com a escolha que fizemos de ser um partido programático, e não pragmático. Não estava em nosso horizonte ter uma bancada apenas em função do fundo partidário. Os que vieram foram aqueles que tinham compatibilidade com o nosso programa. Tudo está dentro daquilo que avaliamos como nossa trajetória.
Como é o diálogo da Rede com outros partidos para a disputa de 2018?
Estamos dialogando de forma muito tranquila. Ninguém precisa desconstituir suas perspectivas para que possamos conversar. Temos respeito pelos projetos de cada um. Tenho como princípio a seguinte frase: quanto mais estrela no céu, mais claro é o caminho. Não gosto da política do tachi, uma árvore da Amazônia sob a qual não nasce qualquer outra planta.
Quais erros a sua campanha cometeu em 2014?
Acreditávamos que disputávamos uma eleição legal. Não fomos capazes de descobrir que havia uma fraude eleitoral. Ao término da campanha, além da fraude política, de dizer uma coisa e fazer outra, tinha a institucional do caixa dois. Os dois candidatos que foram para o segundo turno lançaram mão dos mesmos expedientes.
Se ainda fosse senadora, a senhora votaria a favor das reformas trabalhista e da Previdência de Michel Temer?
Essas propostas foram apresentadas de forma completamente equivocada por um governo que não tem legitimidade, credibilidade e popularidade, e que se vangloria de não ter nada a perder – e, com 3% de aprovação, tem mesmo muito pouco a perder. O Brasil precisa de reformas, mas não das apresentadas por Temer.
A senhora foi criticada, em 2014, por ter declarado apoio a Aécio Neves no segundo turno. Arrepende-se desse voto?
Ele se comprometeu comigo, na ocasião, a manter os programas sociais e a prerrogativa do Executivo de demarcar as terras indígenas, além de retomar a reforma agrária. Por isso, com as informações que eu tinha na época, declarei meu voto. A diferença é que não sou como aqueles que se mantêm fiéis acriticamente a Lula, Aécio e Dilma mesmo após descobrirem seus erros. Não por acaso, foi a Rede que levou Aécio ao Conselho de Ética.
Há clima para romper a polarização eleitoral em 2018?
A polarização exacerbada entre PT e PSDB levou o Brasil para o buraco. Não há como essa polarização ser a solução dos nossos problemas. Eles, que nunca se uniram pela educação, pela saúde, pela segurança, pelo meio ambiente, agora se juntam para combater a Lava Jato. Não por acaso se uniram para monopolizar o tempo de televisão e o fundo partidário e eleitoral, para que não seja possível qualquer inovação e renovação política. Fizeram uma aliança para definir quem ganhará o poder em 2018. Pelas medidas que tomaram, pela monopolização dos recursos, já decidiram entre eles que só poderá governar o Brasil alguém do PT, do PSDB, do PMDB ou do DEM.
As pesquisas apontam Lula e Bolsonaro como favoritos para a disputa presidencial. Essa será a polarização de 2018?
Com Lula ou Bolsonaro, estão indo para os extremos. Hoje todo mundo busca pretexto para se separar, desqualificar e destruir um ao outro. É preciso criar um contexto para que possamos nos reencontrar. O que nos une, o que nos interessa? O cabo eleitoral mais forte do Bolsonaro é o Lula, e o do Lula é Bolsonaro. Temos de acabar com a política do ódio, do medo, da violência, da desconstrução.
Em 2018 será mais difícil se contrapor a essa lógica do que foi em 2014?
Historicamente é muito difícil vencer as estruturas. Mas o que as vence é sempre uma nova postura. O cidadão brasileiro está silenciosamente trabalhando para mostrar que pode assinar uma vitória. As vitórias das estruturas são à base de dinheiro. São assinadas pelos marqueteiros. Terminada a eleição, eles vão embora com as malas cheias de dinheiro e o povo brasileiro fica com a dura realidade.
Com 12 segundos de horário eleitoral e sem aliança, a eleição de 2018 fica inviável para a Rede?
Quem é capaz de decidir a eleição é o povo brasileiro. A internet e a propaganda eleitoral são ferramentas. Estamos fazendo esforço de diálogo com os partidos que nos apoiaram em 2014 e com outros, como o PV. Será sempre uma aliança programática. Alguns vão de canhão, outros de míssil. Se tivermos de ir com a funda de Davi, fazer o quê?
Que imagem a senhora tem hoje do ex-presidente Lula?
Ninguém deve celebrar os problemas que acontecem com as lideranças. Mas hoje não existe quem seja forte, popular ou rico demais para estar acima da lei. Ela deve ser para todos. A Justiça tem de fazer o seu trabalho sem boicote e intimidações para que se tenha um julgamento com amplo e legítimo direito de defesa. Infelizmente o presidente Lula talvez não tenha olhado para trajetórias de vida que nos ensinam muito, como a de Nelson Mandela. O Brasil, mesmo com suas desigualdades, sempre foi um país unido, mas Lula aposta em mais polarização e divisão.
Por que a volta de Lula seria um retrocesso? Essa lógica de ter um projeto maravilhoso que só funciona com você traz prejuízo para a democracia, para a formação de novas lideranças. Um bom projeto é aquele que resiste, sobrevive à alternância de poder, institucionaliza conquistas, não fulaniza nem partidariza.
Pessoas que já trabalharam no seu entorno dizem que a senhora é centralizadora, demora para decidir e ouve apenas os seus conselheiros mais próximos. A senhora aceita essas críticas? Alguns dizem que demoro a tomar decisão porque debato e converso demais; outros que não ouço ninguém. Um dizia que eu demorava porque conversava demais e, no mesmo texto, que eu centralizava demais. Precisam escolher entre os dois rótulos.
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