A cúpula do PT deve aprovar hoje resolução em que condena a “despetização” do novo governo Lula e defende a formação de um núcleo político de esquerda com o PSB e o PCdoB na coalizão proposta pelo presidente, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
A proposta deve ser votada na reunião do Diretório Nacional, que começa hoje, em São Paulo, com a presença de Lula. Mas o tom do texto, segundo a repórter Vera Rosa, não é de confronto, pois já foi submetido ao próprio Palácio do Planalto.
“Para esfriar a polêmica em torno de cargos, o roteiro foi acertado com auxiliares de Lula: o PT diz estar disposto a contribuir ‘decisivamente’ e ‘compartilhar responsabilidades’ no governo de coalizão reunindo ‘as forças que construíram o caminho da vitória e todos aqueles que estejam de acordo com o programa de transformações econômicas, sociais e políticas defendido durante a campanha’. Assinala, ainda, que a parceria com PSB e PCdoB tem o objetivo de garantir ‘ação mais coordenada’ da frente de esquerda que apóia o governo”, diz a reportagem.
Ainda de acordo com o Estadão, trecho do texto preliminar afirma que Lula “repartirá de forma equânime e equilibrada as responsabilidades ministeriais e da condução política e administrativa da República’. Na avaliação dos petistas, está em curso uma tentativa ‘patrocinada por setores da oposição política e da direita econômica” de influir na composição do governo e desmoralizar o PT.
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“Levantam de forma insidiosa a tese de ‘despetização’ do governo, atribuindo ao partido um suposto ‘aparelhamento’ do Estado durante o primeiro mandato, tese que não encontra apoio na realidade”, diz o documento.
Desde que o presidente anunciou que pretende fazer um governo de coalizão, com maior participação dos aliados no segundo mandato, diversos setores do PT têm se movimentado para evitar que o PMDB, dono da maior bancada no Congresso, seja tratado como parceiro preferencial e ocupe o espaço hoje exercido pelos petistas.
“O governo é de centro-esquerda, mas a esquerda vai disputar a hegemonia com o centro. Isso é legítimo”, afirmou o deputado eleito Jilmar Tatto (SP), terceiro-vice-presidente do PT. “Queremos opinar na política econômica, em áreas sociais como educação e saúde e também em comunicação.”
Na mesma linha segue o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda: “O PT precisa ter clareza política para entender que coalizão significa compartilhar: o presidente lidera, dá a linha, mas os ministérios têm de ser compartilhados com os aliados. Mas o partido não é instituição filantrópica: não pode abrir mão de disputar seu espaço e respeitar seu peso de partido do presidente”.