Lucas Ferraz
Integrantes do Psol garantem que o partido saiu fortalecido e unido de seu primeiro congresso nacional, realizado no último fim de semana, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a ex-senadora Heloísa Helena foi reeleita presidente da sigla. Além dela, foram definidos os outros 16 membros da Executiva Nacional.
Apesar de a eleição ter sido marcada pela disputa entre quatro chapas e pelas vaias recebidas pela ex-senadora ao discursar contra a legalização do aborto, lideranças negam a existência de um racha na legenda, criada em 2004 por dissidentes do PT. Eles reiteram a intenção do Psol de se manter firme como um partido da esquerda radical, de oposição ao governo Lula e, nas palavras do deputado Chico Alencar (Psol-RJ), distante da “oposição de direita conservadora, representada pelo PFL [agora DEM] e pelo PSDB”.
Reeleita com 467 dos 739 votos em disputa, Heloísa foi derrotada em sua posição contra o aborto. O partido aprovou uma moção de apoio à descriminalização da prática. “Nosso diretório nacional é composto por 61 nomes. A vaia recebida por ela reflete que não há caudilhismo”, diz Chico.
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Para Raul Marcelo, que encabeçou uma das chapas que concorreram com a ex-senadora e recebeu 14 votos, o partido não está dividido. "O que existe são diferenças de interpretação da realidade”, afirmou.
Diferenças
A principal divergência interna evidenciada no encontro do último fim de semana se deu entre uma corrente que insistia na aposta político-eleitoral e outra que preferia o fortalecimento da legenda junto às massas. No congresso, ficou decidido que o partido se inclinará à primeira opção, mas sem esquecer do trabalho com as bases, considerado essencial para as mudanças que a legenda busca.
Outro ponto de divergência se deu em relação à política externa. O partido, que defende os principais governos de esquerda da América Latina (Venezuela, Bolívia e Equador), decidiu apoiar, por unanimidade, o fechamento da RCTV, emissora de TV que fazia oposição ao governo Hugo Chávez.
A discórdia diz respeito aos caminhos do chamado “socialismo bolivariano” da Venezuela: uma corrente elogia o governo, considerando-o progressista; outra o critica por ainda não ter suspendido o pagamento da dívida externa e por ter realizado poucas desapropriações da “burguesia”, e clama por atitudes mais enérgicas de Chávez contra o imperialismo.
Divergências à parte, o fato é que Heloísa Helena comandará a legenda pelos próximos dois anos, até o próximo congresso, a ser realizado em 2009. Ela está na presidência desde 2005, quando o Psol foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o partido, contudo, foi fundado um ano antes.
Em evidência
Sem mandato desde fevereiro e de volta à carreira de professora na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Heloísa Helena tem, com a renovação do mandato, a possibilidade de continuar em evidência política. Há dentro do Psol, no entanto, quem questione se a permanência dela no comando da legenda traz apenas benefícios ao partido. “É óbvio que não é bom que uma pessoa se reproduza e fique acima das pessoas, mas isso ainda não existe”, diz Plínio de Arruda Sampaio, o segundo colocado na disputa pela presidência, com 174 votos.
Plínio de Arruda Sampaio diz que quem votou na ex-senadora fez uma espécie de “homenagem” a ela, por sua “força política e representatividade”. Para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), apesar de não ter sido aclamada e ter disputado a eleição com outras três chapas, Heloísa segue como a maior expressão política do partido.
João Machado, que recebeu 78 votos na disputa com a ex-senadora, também a credencia como "a melhor pessoa" para dirigir o Psol por causa de sua “capacidade política e representatividade”.
Correntes
Assim como o PT, o Psol é um partido dividido em várias correntes – o que tradicionalmente ocorre nas siglas de esquerda. A maior é o Movimento Esquerda Socialista (MES), que ganhou ainda mais representatividade depois de incorporar outras duas, o Poder Popular e o Movimento Trabalho e Liberdade (MTL). Ao lado do MES, estão outras duas que podem ser consideradas moderadas dentro do Psol: Ação Popular Socialista (APS) e Enlace. Duas outras, Coletivo Socialismo e Liberdade (Csol) e Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), são consideradas correntes radicais.
Para Chico Alencar, é “normal” a legenda ter várias tendências. “O que não queremos repetir do PT é um grupo se impor ao outro. Não há um blocão no Psol”, garante o parlamentar fluminense, que se diz independente, assim como Heloísa Helena. Fazem parte da chapa vencedora todos os quatro parlamentares do Psol no Congresso: os deputados Ivan Valente, Chico Alencar e Luciana Genro (RS), além do senador José Nery (PA).
“Divisão na política é normal. Anormal seria unidade sempre”, diz Plínio de Arruda Sampaio, membro do Csol. “Os partidos de direita são ocultos, não aparecem as suas letras”. Independentemente das correntes, a legenda continuará firme e radical, garante Raul Marcelo. “O Psol é um partido radical”, diz ele. O Congresso em Foco procurou Heloísa Helena, mas a ex-senadora disse que não poderia falar com a reportagem por estar em uma reunião.
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