O Psol vai entrar com representação na Procuradoria-Geral da República (PGR), na tarde desta segunda-feira (23), contra o ministro do Planejamento, Romero Jucá. A denúncia, que é elaborada neste momento pela assessoria jurídica do partido, vai pedir a prisão do senador licenciado por obstrução à Justiça. O pedido terá como base as declarações de Jucá em conversa gravada com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado (PMDB) em poder da própria PGR. No diálogo, o ministro disse que a “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” provocada pela Operação Lava Jato, que investiga os dois peemedebistas.
A representação será assinada pelo presidente do Psol, Luiz Araújo, e pelo líder da bancada na Câmara, Ivan Valente (SP). A transcrição das conversas entre os dois, ocorridas semanas antes da votação do impeachment na Câmara, foi divulgada nesta segunda pela Folha de S.Paulo em reportagem de Rubens Valente. Para Araújo, os diálogos mostram que houve uma tentativa de abafar a Lava Jato com o afastamento de Dilma. “O Psol não reconhece Temer como presidente e nem os corruptos que o acompanham. O mínimo que a PGR deve fazer é pedir a prisão de Jucá. O mínimo que O STF deve fazer é acatar o pedido.”
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Lideranças do DEM cobraram explicações e pediram a saída de Jucá do governo. “Qualquer denunciado tem a obrigação e o direito de se defender das acusações que recaem sobre ele. Mas esses atos individuais deverão ser tratados longe da administração pública para que a reestruturação e a credibilidade do governo não sejam comprometidas. Só assim teremos as mudanças necessárias e desejadas pela população”, defendeu o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO). Mas o ministro diz que não pensa em abrir mão do cargo e que não há novidade nos diálogos. “Não tenho por que pedir demissão”, afirmou Jucá também à Folha.
Em 25 de novembro do ano passado, o então líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (MS) foi preso por obstrução à Justiça. Delcídio só deixou a prisão em 19 de fevereiro após fazer acordo de delação premiada. Após envolver a presidente afastada Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e políticos de diversos partidos, o ex-petista teve o mandato cassado por 74 votos a zero, e uma abstenção pelo plenário do Senado.
Pacto
Ex-senador pelo Ceará e amigo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Sérgio Machado demonstra preocupação com a possibilidade de sua investigação descer do Supremo Tribunal Federal (STF) para as mãos do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba.
Publicidade“Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída”, declarou. Segundo ele, as novas delações da Lava Jato não deixariam “pedra sobre pedra”. Ainda no exercício do mandato de senador, do qual se licenciou para assumir o ministério, Jucá concordou que o caso de Machado “não pode ficar na mão desse [Moro]“.
De acordo com o atual ministro do Planejamento, a resposta a ser dada tinha de ser política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro. “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, disse o senador roraimense, um dos principais articuladores do impeachment de Dilma.
Jucá orientou Machado a se reunir com Renan e o ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) para articular uma “ação política”. O ministro disse que o governo Michel Temer construiria um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado disse: “Aí parava tudo”. “É. Delimitava onde está, pronto”, emendou Jucá, a respeito das investigações.
O senador licenciado contou que mantinha conversas com ministros do Supremo e que eles associavam a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.
Suspeitas
Machado responde a inquérito no Supremo ao lado de Renan Calheiros, considerado responsável por sua indicação à Transpetro, subsidiária a Petrobras que presidiu entre 2003 e 2014 na cota do PMDB. Ele é apontado como beneficiário do esquema de corrupção na estatal por dois delatores. Um deles, o ex-diretor da companhia Paulo Roberto Costa contou que recebeu R$ 500 mil dele.
Jucá também é suspeito de ter recebido propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, disse que o peemedebista lhe pediu R$ 1,5 milhão para financiar a campanha do filho, candidato a vice-governador de Roraima em 2014.
A defesa de Jucá disse à Folha que não há qualquer indício de ilegalidade na conversa com Machado.