Por 53 votos a um, o diretório nacional do Psol decidiu expulsar do partido o deputado Cabo Daciolo (RJ), deliberação que confirma notícia publicada pelo Congresso em Foco na última quarta-feira (13). Bombeiro e evangélico, Daciolo foi acusado de contrariar o programa da legenda ao tentar alterar a Constituição para estabelecer que todo poder emana de Deus, e não do povo, e por defender a soltura de policiais militares suspeitos pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza.
O comando partidário considerou que seu comportamento e sua ideologia são incompatíveis com o programa partidário, como este site também já havia adiantado. Ele já estava suspenso desde 26 de março. Por 31 votos a 24, a sigla resolveu não reivindicar na Justiça eleitoral o mandato do deputado. Dessa forma, a bancada do Psol na Câmara cairá de cinco para quatro parlamentares.
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Ao ser informado pelo site, na última terça-feira, de que o Psol havia encaminhado sua expulsão, Daciolo afirmou que não desistiria do partido. “Eu quero continuar no Psol, crescer no Psol. Vou continuar na luta para permanecer. Quero ver quais são os recursos a que tenho direito para reverter isso aí. Só falei de Deus e me expressei sobre os militares. Eles [da cúpula do Psol] sempre souberam a minha posição”, lamentou o deputado.
Na avaliação de Daciolo, que é visto como fundamentalista entre os militantes, o Psol age de maneira contraditória, pois sabia de suas ligações religiosas e com os militares quando aceitou sua filiação e o lançou candidato. Em 7 de abril, o deputado subiu à tribuna da Câmara e, exaltado, questionou não só a legenda como colegas como Jean Wyllys e o deputado estadual fluminense Marcelo Freixo, uma das estrelas do partido.
Perfil
Daciolo fez 39 anos em 30 de março. Vinculado a militares e religiosos, o deputado nega ser reacionário – define-se como “evolucionário” –, garante que frequentaria qualquer tipo de evento religioso, desde que convidado, e avisa que pretende alçar voos mais altos pelo partido. Como ser governador do Rio de Janeiro, por exemplo.
PublicidadeEmbora tenha carregado sotaque carioca, o deputado nasceu em Florianópolis (SC) e, graças às funções do pai militar, rodou o país até chegar ao Rio de Janeiro. Ele defende o papel dos militares para fazer do Brasil uma potência, chegou a pregar que um general comande o Ministério da Defesa e tem dito que o país vive uma falsa democracia.
No Facebook, Daciolo resume em um pequeno parágrafo seu status atual: “Sou um dos 14 Bombeiros Militares do Rio de Janeiro EXPULSOS da corporação em fevereiro de 2012, de forma injusta, covarde e ilegal, durante as reivindicações salariais e de melhores condições de trabalho. REINTEGRAÇÃO DOS 14 JÁ!”, registra o deputado em seu perfil, criado em 2013. Ele se refere à greve dos bombeiros que liderou em 2011 no Rio de Janeiro, quando passou a interessar ao Psol politicamente.
Polêmicas em série
Desde sua eleição, Cabo Daciolo enfrentou polêmicas dentro do Psol. Em um vídeo publicado após sua vitória, declarou que o Brasil vive uma “falsa democracia”, defendeu a indicação de um general para o Ministério da Defesa e associou os índices de violência no país ao “baixo” número de militares. Ele ainda defendeu “união” do país com os militares para que o Brasil se torne uma “grande potência”.
“Não sou a favor da ditadura, nem da falsa democracia que estamos vivendo. E acredito que a união do militar com a população faz do nosso país uma grande potência. Eu acredito na soberania do nosso país. Hoje nós temos o Ministério da Defesa. O senhor Celso Amorim é o ministro. E particularmente eu acho inadmissível que o cargo não seja de um oficial general, no último grau da hierarquia das Forças Armadas, podendo ser do Exército, da Marina ou da Aeronáutica”, defendeu no final do ano passado.
Em outro vídeo, o deputado disse que seu mandato é de Deus. “Acredito em um Deus vivo. Esse mandato é ele [Deus] que está à frente, nos guiando. Ele é o Deus do impossível”, afirmou. No dia de sua diplomação, ele causou constrangimento ao partido ao posar para fotos com o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), cuja cassação foi pedida pelo partido por causa dos ataques proferidos por ele contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
Em 2011, Cabo Daciolo liderou a greve dos bombeiros do Rio de Janeiro e comandou a invasão do quartel general da corporação e a tomada das escadarias da Assembleia Legislativa.
Daciolo foi suspenso pelo diretório estadual do Psol do Rio de Janeiro após discursar em defesa dos policiais militares acusados do assassinato do servente de pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, em 2013. “Vamos estar em Bangu 9 neste domingo, onde eu tenho 25 militares respondendo por um crime que não cometeram, 12 deles presos e um faleceu dia 13. São chefes de família. Solicitaremos a presença do Ouvidor Nacional de Direitos Humanos para ir conosco. Juntos somos fortes, Deus está no Controle”, discursou o deputado.
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