A presidente do Psol, ex-senadora Heloisa Helena, apresentou há pouco à Secretaria Geral da Mesa do Senado a sexta representação contra o presidente licenciado da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e uma contra o senador Eduardo Azeredo (PMDB-MG) (leia a íntegra das representações).
Sobre Renan pesam as acusações de que ele teria repassado, por meio de emenda constitucional, R$ 280 mil para uma empresa fantasma do município de Murici (AL), cidade em que nasceu. A KSI Consultoria, beneficiada pela emenda, seria de um ex-assessor de Renan, José Albino de Freitas. Afastado por 45 dias da presidência do Senado, Renan Calheiros terá de se defender das acusações como um senador “comum”, como haviam sugerido diversos senadores na véspera de seu afastamento.
Já sobre Eduardo Azeredo recaem as acusações de participação no chamado “mensalão mineiro”. Durante as eleições para o governo de Minas Gerais, em 1998, o tucano teria sido beneficiário do esquema que seria o “embrião” do mensalão denunciado em 2005 pelo presidente nacional do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson – ele mesmo cassado sob a acusação de ter participado do mensalão, que envolveu quase uma centena de parlamentares. Segundo informações da Polícia Federal, foram desviados R$ 100 milhões no esquema em Minas.
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Com a sexta representação já em tramitação no Senado, a situação de Renan Calheiros, que já era delicada entre seus pares, agrava-se ainda mais. Segundo senadores próximos a Renan, ele já estaria, inclusive, estudando a possibilidade de renunciar ao cargo para manter os direitos políticos – como hipótese, poderia disputar a prefeitura de Maceió já no ano que vem.
A pressão viria de todos os lados: da oposição, que não admite a possibilidade de inocentá-lo em todos os processos; do governo, que julga que sua presença poderia atrapalhar a aprovação da PEC da CPMF; e dos próprios aliados, com o pretexto de preservar o Senado, o partido e a própria imagem perante a opinião pública. Sem falar desta última, cujos inúmeros protestos registrados Brasil afora são suficientemente eloqüentes.
Observadora distante, mas atenta
Presidente nacional do Psol, a ex-senadora Heloísa Helena não está mais vivendo o dia-a-dia do Senado – embora não tenha se afastado dele de todo. Desde que foi derrotada nas últimas eleições presidenciais, dá aulas na Universidade Federal de Alagoas. Mas não deixa de lado as coisas da política, ainda mais agora que está à frente de um dos partidos de extrema esquerda no Parlamento.
Mais comedida que em suas célebres bravatas na tribuna do Senado, a ex-senadora falou há pouco ao Congresso em Foco sobre a representação apresentada pelo seu partido hoje. Ela disse que, se o espírito investigativo fosse outro na Casa, o Psol nem precisaria ter entregue a representação à Secretaria Geral.
“As informações, as denúncias e as provas apresentadas pelo jornalismo investigativo, que não se rende às verbas publicitárias, apresentam os mesmos crimes já identificados nas representações anteriores, como tráfico de influência, exploração de prestígio, corrupção ativa etc”, declarou a ex-senadora alagoana. “O ideal é que nem fosse preciso uma nova representação, mas que o Conselho de Ética aceitasse o requerimento como aditamento às representações feitas anteriormente”, reclamou.
Para Heloísa Helena, falta objetividade e "vontade política" (para mencionar um de seus chavões preferidos) ao Conselho de Ética. “Eu acho que existe representação demais, e investigação e punição de menos“, resumiu. “Entramos com a representação por causa da ausência de coragem política em acatar o aditamento às novas representações. Não apresentar a denúncia seria agir em conluio para impedir as investigações”, completou.
Heloísa Helena externou também seu sentimento a respeito dos rumos dos trabalhos do Conselho de Ética depois do afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. “Não quero fazer demagogia, mas seria pedantismo de minha parte dizer que não converso com os senadores. Mas é muito difícil pra mim avaliar o que pode acontecer”, revelou Heloísa. “Se houver pressão soberana, livre e legítima da sociedade e do jornalismo investigativo, pode acontecer alguma coisa”, espera.
A ex-senadora não deixou de registrar sua posição a respeito do tema que domina a pauta política, a aprovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Essa manobra inteligente [o acordo pelo afastamento de Renan], mas fraudulenta do governo só serviu para tentar impor uma farsa técnica, que é a CPMF”, bradou, ao velho estilo.
E completou, novamente lembrando a crítica ferrenha que denunciava o “desvirtuamento” do PT, seu ex-partido: “Na vida do povo, todo dia tem uma agonia. Na vida política, todo dia tem uma patifaria. Aprendi três coisas com minha experiência: só enriquece na política quem é corrupto; o poder não muda as pessoas, mas as revela; e a sensibilidade política e a capacidade ‘auditiva’ das instâncias de poder estão diretamente vinculadas à pressão da sociedade”. (Fábio Góis)