A crise de segurança em São Paulo motivou ontem a mais áspera troca de acusações da campanha eleitoral até agora. O presidente Lula criticou o possível acordo entre a polícia de São Paulo e os chefes do crime organizado para cessar os atentados, fazendo acusações ao governo do estado. O candidato à Presidência pelo PSDB, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, respondeu duramente, chamando Lula de mesquinho.
Após visitar as obras de duplicação da BR-060, que liga Brasília a Goiânia, o presidente afirmou que há "uma mancomunação entre polícia e bandido" em São Paulo. "O que aconteceu em São Paulo mostra o peso do crime organizado. Pelas reportagens que eu vi ontem, parece que havia uma mancomunação entre polícia e bandido, acordos ou não acordos", disse. Lula criticou a "pressa de alguns e a omissão de outros" ao tratar de medidas para responder às ações violentas e disse que os fatos são reflexo da falta de investimentos em educação nos últimos 40 anos.
Em nota, Alckmin contra-atacou: "Há dois dias, o Lula falou que não ‘haveria nenhum mesquinho no Brasil capaz de querer fazer uso eleitoral desses atentados’. Tem sim. O próprio Lula com essas declarações de agora". O ex-governador acusou o presidente de ser cúmplice da situação de violência vivida em São Paulo. "Ele (Lula) é cúmplice dessa situação. Sempre foi omisso nessa questão de segurança. E nesse caso de agora, pior. Lula preserva as quadrilhas criminosas e vem atacar a polícia paulista. É inadmissível", afirmou.
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O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, também criticou o suposto acordo e atribuiu a Alckmin a responsabilidade pela situação de violência em São Paulo. Em visita ontem ao Congresso para negociar a votação de projetos, Tarso criticou a postura do pré-candidato tucano ao reclamar que São Paulo não tem como combater a violência porque o Planalto não libera recursos para a segurança pública.
O ministro afirmou que não se pode jogar a culpa dos ataques no governo federal e disparou que o governador Cláudio Lembo (PFL) preferiu negociar com os criminosos a aceitar a ajuda da Força Nacional de Segurança para combatê-los.
"Segundo vocês (jornalistas) estão informando, o governo paulista, o governo do senhor Alckmin, parece que preferiu negociar com criminosos a aceitar a ajuda do governo", afirmou Tarso. "Ele tem o direito de não aceitá-la (a ajuda do governo federal), mas ninguém tem o direito de transferir responsabilidades e declinar de sua responsabilidade diante do povo de São Paulo, justamente alguém que disse ter dado um choque de gestão", continuou o ministro.
As declarações de Tarso provocaram reação imediata no Senado, onde o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), anunciou a decisão do partido de não votar mais enquanto o ministro não se retratar. "Devemos cortar o diálogo com o governo que tem um homem que faz uma bobagem deste tamanho", afirmou Jereissati. "Eu peço que o presidente o obrigue a desmentir ou peça a sua demissão (de Tarso Genro)", reagiu o tucano.