Fábio Góis
O PSDB no Senado anunciou hoje (16) em plenário o rompimento com a política externa praticada pelo governo Lula. O comunicado foi feito pelo líder do partido na Casa, Arthur Virgílio (AM), durante a votação da indicação do embaixador Oto Agripino Maia para a representação do Brasil em Atenas (Grécia).
“Não dá para continuar imaginando que é justo lutar pela liberdade de um terrorista como [Cesari] Battisti e agredindo os termos da democracia italiana, criando uma situação de enorme desprestígio internacional, no âmbito da União Européia”, disse Virgílio, acompanhado em plenário pelos principais nomes do tucanato no Senado. Para o senador amazonense, Lula põe “panos quentes em relação ao quadro grave daqueles que estão morrendo em Cuba de inanição, por fazerem greve de fome”.
“Desejo o melhor êxito ao presidente Lula no exterior, mas que ele não cometa os equívocos que está cometendo e que cometeu em Israel”, disse Virgílio, referindo-se à recente interferência de Lula naquele país do Oriente Médio, que mantém constante conflito com a Palestina. Para Virgílio, há uma “certa relação de cumplicidade” entre o Brasil e determinadas ditaduras mundo afora. “Aliás, praticamente todas as ditaduras do mundo.”
Já o ex-presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), referiu-se ao castrismo como a “ditadura vovó”. “Aquele povo está sendo ameaçado, humilhado, pisoteado nos seus direitos mínimos há tanto tempo! A ditadura de Fidel Castro é a mais vovó, mais antiga, mais esclerosada e, portanto, mais cruel, até porque é a que dura mais tempo!”, disse o tucano.
Além do rompimento com a diplomacia lulista, o PSDB tomou providências também em relação às indicações do governo para representações no exterior. O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), determinou a suspensão de sabatinas de embaixadores no colegiado, que tem a prerrogativa de analisar as recomendações do Executivo em tais casos.
Amorim na CRE
Azeredo disse que a suspensão será mantida até que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, compareça ao colegiado para discutir a política externa. “A nossa comissão de Relações Exteriores tem a obrigação de acompanhar a política externa do governo. Não podemos nos omitir”, disse Azeredo, elencando os deslizes diplomáticos de Lula em seu ponto de vista.
“Não tem sentido o Brasil se aliar a ditaduras; não tem sentido o presidente Lula dizer que os presos políticos de Cuba são iguais aos criminosos comuns do dia a dia de São Paulo; não tem sentido o presidente Lula defender um programa nuclear em que o Irã está descumprindo um tratado que ele mesmo assinou; não tem sentido o Brasil concordar com a criação de embaixadas no Caribe.”
“O Presidente faz a comparação infeliz entre os prisioneiros de consciência que estão em greve de fome, esquálidos, morrendo em Cuba, como bandidos. Ou seja, político seria o terrorista Battisti, e os bandidos seriam aqueles desarmados e inofensivos dissidentes de um regime que ninguém aguenta mais em Cuba”, protestou Virgílio.
Diversos senadores se associaram à reação do PSDB – à exceção de nomes como o senador João Pedro (PT-AM), para quem os tucanos estavam partidarizando uma discussão em plenário, quando deveriam exercer suas obrigações legislativas na CRE. “O Senado não pode deixar de trabalhar, e a sua comissão [de Relações Exteriores] não pode deixar de trabalhar por conta da análise do PSDB, à qual eu tenho críticas”, reclamou o senador petista.
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