Na época do presidente Getúlio Vargas (1930-54), a criação do PSD (Partido Social Democrático) significou um realinhamento das forças político-partidárias. O PSD apoiou um Estado planejado, baseado no nacionalismo como motor do ideal de igualdade econômico-social. Nada reacionário para a época, no entanto. Vargas seguia o espírito estatizador dos países que davam certo, de forte intervenção governamental.
Mais de 50 anos depois, parece que assistimos a novo realinhamento com a criação do PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Será que há algo em comum entre o antigo e o novo partido? Que forças estão sendo realinhadas? Em direção a que caminho?
Assim como a maioria dos políticos atuais, Getúlio estava acima dos partidos. Infelizmente, nossos sistemas eleitoral e partidário continuam andando a reboque de ambições político-pessoais. Foi assim com o antigo PSD, criado por Getúlio para dar apoio ao seu projeto populista de governo. É assim com o novo PSD, criado por Kassab e Afif Domingos (vice-governador de São Paulo e ex-pupilo de Maluf) com o benefício da “janela da infidelidade” aberta pelo TSE – incorporando em seus quadros os políticos dos demais partidos que querem trocar de legenda sem perder o mandato (até agora, como mostra o Congresso em Foco, as maiores baixas vêm do DEM, PSDB, PR e PP).
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Olhando para o PSD e o cenário político atual, mantidas todas as outras variáveis constantes, são grandes as chances do novíssimo PSD se mostrar como alternativa em nada mais nada menos do que a disputa pela Presidência do país, em 2014 (lembrando que o antigo PSD elegeu dois presidentes da República).
O novo PSD “ajuda” e ao mesmo tempo ameaça a atual hegemonia do PT: provoca o realinhamento do sistema partidário, não só pelo esvaziamento da oposição ao governo Dilma e talvez do principal aliado-problema do Palácio do Planalto, o PMDB. Mas, principalmente, dependendo da aliança para presidente a ser fechada em 2014, o PSD deixa o PT em estado de alerta ao “pressionar” pelo enfraquecimento do padrão de competição bipartidária vigente até agora (as coligações para presidente em torno do PT versus PSDB).
Um forte aliado do PSD seria o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que vez ou outra participa formalmente da coligação presidencial petista. Os dois partidos já anunciaram que estarão juntos nas eleições municipais do ano que vem. E, por ser um partido novo, sem votos na eleição anterior e sem tempo no horário eleitoral gratuito, o PSD precisa ser voraz no fechamento de coligações para garantir visibilidade aos seus futuros candidatos.
PublicidadeSe o PSD “der certo”, que tipo de alternativa teriam os eleitores nos próximos anos, no entanto? Sem programa partidário, o único que se sabe é o que Kassab afirma: que o partido nasce para combater as desigualdades sociais. Fora o rearranjo de forças nas eleições, parece que vamos continuar frequentando o mesmo “mercado” de votos, de rara intensidade ideológica e raras propostas concretas e realizáveis por parte de candidatos e partidos. Ou seja: mais do mesmo.