Bruna Serra,
enviada especial a Recife (PE)
Ainda que sob forte impacto pela morte súbita do presidenciável Eduardo Campos, o PSB segue em conversas políticas para a definição de quem será seu indicado para compor, ao lado de Marina Silva, a chapa que concorrerá à sucessão. Todo o impasse para definição tem como personagem central Renata Campos, viúva de Eduardo e única pessoa legitimada para representar sua vontade.
Isso porque alguns setores do partido acham que ela deveria figurar na vice de Marina Silva, ainda que outras instâncias tenham preferência pelo deputado federal Beto Albuquerque (RS). Com longa trajetória na legenda – ele entrou no PSB antes mesmo de Miguel Arraes, ainda em 1987 -, trânsito com todas as alas, boa relação com Marina e um histórico de lealdade a Eduardo Campos, o parlamentar gaúcho despontou como favorito no sábado, às vésperas do início do velório. Ontem, dois líderes da legenda, um deles da executiva nacional, disseram ao Congresso em Foco que Albuquerque tem “90% de chance” de ser o novo vice.
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Neste domingo (17), as homenagens ao político e seus assessores, que entraram pela madrugada de ontem para hoje, devem se encerrar à tarde. Está previsto para as 16h o enterro de restos mortais de parte das vítimas, recolhidos após a queda do avião que matou Campos, quatro assessores e dois pilotos em Santos (SP). São esperadas 100 mil pessoas na praça da República, em frente ao Palácio Campo das Princesas, em Recife. Devem estar presentes os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), o ex-presidente Lula (PT), além de lideranças políticas de todo o país.
A morte de Eduardo cria um apelo emocional que pode fazer Renata ser mais interessante na vice que Beto Albuquerque. Com a viúva na disputa, argumentam dirigentes do PSB, poderá ser criado um grande obstáculo à tentativa de reeleição de Dilma. Além disso, Renata, como economista e auditora de contas, se apresenta como um quadro técnico interessante. Outro argumento é que ela conhecia intimamente a forma como o marido fazia costuras políticas.
Na noite do sábado, Marina Silva e Renata Campos tiveram sua primeira conversa cara a cara após o desastre aéreo. Diante de um grupo de mais de vinte pessoas que estava na casa da família Campos, no bairro de Dois Irmãos, não conseguiram aprofundar o assunto. Mas a simples cena de bate papo entre elas agitou as instâncias do PSB.
“Reforçar condolências”
O grupo era formado pelo novo presidente da sigla, Roberto Amaral, o secretário-geral, Carlos Siqueira, o senador Rodrigo Rollemberg (DF) e o deputado federal Beto Albuquerque (RS). Eles já haviam deixado a casa, para visitar a mãe de Eduardo, a ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes, quando resolveram voltar para “reforçar as condolências” após o desembarque de Marina na residência de “dona Renata”. Também o ex-governador do Piauí Wilson Martins retornou para “conversar com Renata”.
A situação aponta que a viúva do presidenciável é convidada a se mover para avalizar o escolhido para a vice na chapa. Beto Albuquerque disse que “se Renata quiser ser a candidata a vice, ela vai ser”. Mas um impasse judicial poderá ter um peso na escolha. Formalmente, Renata não está licenciada do seu emprego no Tribunal de Contas de Pernambuco para concorrer à eleição, o que a impediria de disputar porque não se ficou em situação compatível no prazo determinado por lei. Na prática, entretanto, ela está cumprindo licença-maternidade desde a chegada do caçula Miguel, em fevereiro, o que poderia gerar uma brecha legal para seu nome ser viabilizado.
Qualquer decisão deverá ser tomada após o velório e o enterro de Eduardo Campos, programados para este domingo. Durante toda a vida ao lado do marido, Renata nunca disputou cargos públicos. Seu nome chegou a ser especulado para disputa a Câmara dos Deputados na defesa do espólio eleitoral da sogra, mas ela mesma descartou sob o argumento de que prefere atuar nos bastidores. Renata também é uma mãe extremamente presente e dedicada aos filhos e a eleição poderia distanciá-la das crianças num momento delicado, em que um deles tem apenas seis meses de idade.
O anúncio oficial da chapa só será feito na próxima quarta-feira (20), em Brasília, após reunião da Executiva Nacional do PSB. Marina será a cabeça, substituindo Eduardo. Mas antes disso, na segunda, Renata participa de um evento com lideranças do partido no Recife. O objetivo é empenhar a militância na eleição de Marina Silva
Velório
Uma missa campal às 10h deverá marcar o início da despedida dos pernambucanos ao ex-governador Eduardo Campos e três de seus auxiliares mortos no acidente: o assessor de imprensa Carlos Percol, o fotógrafo Alexandre Severo e o cinegrafista Marcelo Lyra. A celebração será realizada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido,
Os caixões já posicionados na praça da República para que populares possam fazer as últimas homenagens. São aguardadas mais de 100 mil pessoas nos arredores do Palácio do Campo das Princesas, onde uma superestrutura foi montada, com agentes de trânsito e da Polícia Militar.
O sepultamento do líder do PSB deverá acontecer por volta das 16h no cemitério de Santo Amaro, área central do Recife, no mesmo túmulo onde está seu avô, Miguel Arraes de Alencar.
Sergipe
Nem todas as vítimas da tragédia que matou sete pessoas terão despedida em Recife. O assessor direto de Eduardo Campos, o ex-deputado federal Pedro Valadares, teve seus restos mortais deixados em Sergipe, onde sua família o velará.
Já os pilotos Geraldo Cunha e Marcos Martins devem ser homenageados em seus estados de origem.
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