Trocado o líder no Senado, espera-se agora a mexida na Câmara. Dilma vem insatisfeita com seu líder do governo entre os deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), desde a derrota do governo na primeira votação do Código Florestal na Câmara, no início do ano passado. Por isso, aposta-se no Congresso que a troca de Jucá é apenas a primeira de outras mexidas de peças. E peças que poderão mesmo levar a uma mudança gradual na formação da própria base do governo.
Há quem avalie que Dilma pode mesmo ir diminuindo gradativamente a força do PMDB em seu governo, substituindo-o por outro naipe de aliados. A possível entrada do PSD no bloco formado pelo PSB, pelo PCdoB e pelo PTB, cujo plano foi adiantado pelo Congresso em Foco faria parte desse plano.
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Se o PSD entrar no bloco, ele se tornará a maior bancada da Câmara, com mais de cem deputados. De acordo com um importante líder do PSB, há a possibilidade de o bloco, então, lançar um candidato à Presidência da Câmara para suceder Marco Maia (PT-RS) no ano que vem. Essa hipótese demole as aspirações do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves. Há um acordo do PMDB com o PT, pelo qual o partido apoiaria a sua candidatura na sucessão de Marco Maia. Se tal acordo for rompido, será a sinalização de que deixa de ser o PMDB o parceiro preferencial do governo. Tornando-se presidente da Câmara alguém do bloco, cresce a hipótese de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tornar-se o vice de Dilma na sua tentativa de reeleição em 2014, e não mais o peemedebista Michel Temer.
Retaliação
Dilma poderá estar mexendo num grande vespeiro. A possibilidade de retaliação dos peemedebistas já começa a ser esboçadas. Na semana passada, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), deixou um recado aos seus seguidores no Twitter. Disse o peemedebista: “Se não houver muita maturidade, mas muita mesmo, grave crise parlamentar à vista”. A afirmação ocorreu no dia seguinte à negativa do Senado ao nome de Bernardo Figueiredo.
Como no Senado, aposta-se na divisão. Sem perder de vista sua candidatura à presidência da Câmara no próximo ano, Alves tenta segurar sua bancada. Parte dos peemedebistas está descontente com o excesso de poder concedido a Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O movimento vem desde o ano passado.
Pauta paralisada
Com medo de ter uma resposta indesejável na Câmara, o governo já cogita paralisar as votações na Casa durante a semana. Apesar de o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), assegurar que trabalha para que o novo Código Florestal seja votado hoje e o projeto de Lei Geral da Copa na quarta (14), existem sinais de que isso pode não acontecer.
O Palácio do Planalto quer evitar uma nova derrota, em especial no Código Florestal. A orientação dada por Ideli Salvatti é que o texto aprovado no Senado seja mantido pelos deputados. No entanto, o relator da proposta, Paulo Piau (PMDB-MG), anunciou uma série de mudanças. Mas o texto não inclui os dois pontos que permanecem polêmicos – recuperação de área de preservação permanente (APP) de margem de rios e a previsão de áreas verdes urbanas. O substitutivo promove 28 alterações no texto, a maioria pontuais.
Paradoxalmente, apesar de o maior problema estar no PMDB, pode sobrar para Vaccarezza. Mais uma vez se discute no Palácio do Planalto a substituição do líder no governo na Câmara. No PT, nomes como de Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS) vêm à tona. A ideia de Dilma seria promover um revezamento. “O recado da base foi dado no Senado. Na Câmara, a base está bem”, despistou Vaccarezza ontem.