Laurez Cerqueira *
Para meu filho Fábio deixo um Triplex no Guarujá, que apesar da escritura em nome da Caixa Econômica Federal, o Ministério Público e o juiz Sérgio Moro dizem ter convicção de que o apartamento é propriedade minha.
Por isso me condenou, sem nenhuma prova, com base apenas na vontade pessoal.
Para Sandro deixo um imóvel de propriedade da DAG Construtora, conforme escritura comprobatória, que, se comprado, teria sido destinado à construção da sede do Instituto Lula, mas que o Ministério Público diz ter convicção de que o terreno é meu.
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Para Luís Cláudio deixo um apartamento alugado no prédio vizinho ao meu, cujo proprietário é Glaucos da Costa Marques, conforme escritura e comprovantes de pagamento de aluguel entregues ao juiz da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, mas que o Ministério Público e o juiz tentam convencer a opinião pública de que o imóvel me pertence.
Para Marcos e Lurian, meus netos e bisnetos, deixo o sítio de Atibaia, de propriedade do meu amigo Fernando Bittar, com escritura registrada em cartório, mas que o juiz Sergio Moro também insiste em convencer o mundo de que é propriedade minha.
Só porque fui algumas vezes ao sítio para descansar, jogar baralho, dominó, e deixei por lá sunga, sabonete, shampoo, camisetas, bermudas e chinelos nos aposentos da casa, a Polícia Federal encontrou, levou, e o Ministério Público deve achar que é prova.
Deixo também para eles dois pedalinhos, um barquinho de alumínio que Marisa comprou, para passearem no lago, e minha camionete F-1000, ano 1984, uma relíquia, para transportar esses preciosos equipamentos aquáticos.
E, para todos os meus filhos, deixo o apartamento em que sempre morei com Marisa e eles, em São Bernardo do Campo, desde quando o comprei, em 1991. É o único que tenho convicção e provas de que é meu.
Depois de refletir bastante, cheguei à conclusão de que meu testamento não deveria ficar restrito aos membros da minha família.
Deixo para o senhor juiz Sérgio Moro todos os documentos que provam minha inocência e o livro Comentários a uma sentença anunciada: O Caso Lula, um conjunto de 103 artigos assinados por 123 juristas militantes do Direito e acadêmicos, que apontam os erros, as anomalias do processo e a minha condenação.
(*) Em tempo: gostaria de lembrar ao juiz Moro que corrupto rouba para ostentar carrões, iates, aviões, mansões, para manter contas milionárias em paraísos fiscais, como certos políticos que deram o golpe de Estado têm, muitos deles mandando no país, e para comprar até amor verdadeiro, como dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues.
Não é meu caso. Eu não preciso disso. Se precisar de alguma coisa, tenho absoluta certeza que basta eu me manifestar que imediatamente surgirão pessoas de todos os cantos do Brasil para me doar, me ajudar de alguma forma.
Sou daqueles que precisam de muito pouco para viver. O senhor sabe de onde venho, que eu não sou de ostentar, e sabe que o que eu mais gosto na vida é de lutar ao lado do povo.
Jornalista, nasceu em Mortugaba (BA). É autor, entre outros trabalhos, de Florestan Fernandes – vida e obra, Florestan Fernandes – um mestre radical e O outro lado do real.
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