“Pode parecer [uma proposta] inusitada, mas queremos evitar que amanhã, que pode ser daqui a dez ou cem anos, soframos intervenção como a ocorrida no Kuwait, em 1990”, afirmou ele, em conversa exclusiva com o site. Apesar disso, Olímpio ignora os críticos, não vê excentricidade em suas proposições e diz que não teme não ser levado a sério. “Vivemos num país laico e livre”, diz ele, que, com 57 anos, é empresário, formado em direito e membro da Igreja Mundial do Poder de Deus, dirigida pelo apóstolo Valdemiro Santiago.
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Sua proposta quer evitar a chegada da “ordem satânica”, que, segundo ele, pode ser implantada a partir do rastreamento das pessoas via chips ou outros dispositivos. Pelo projeto, fica proibido o implante, independentemente da idade, de meios para substituir RG, CPF ou código de barras.
Deputado faz projeto contra ordem mundial satânica
Em 1990, tropas iraquianas, sob o comando de Saddam Hussein, invadiram o Kuwait, rico em petróleo, por razões econômicas e territoriais. “Há consenso entre os órgãos de inteligência em todo mundo de que o principal problema dos rastreadores recai no vazamento ou comprometimento de informações sigilosas, algumas potencialmente geradoras de crises diplomáticas e institucionais”, afirma Olímpio.
O deputado diz que os chips “satânicos” seriam mais uma ferramenta a alimentar uma ganância internacional por riquezas do território brasileiro. “Temos 10% da água potável do mundo. Há estudos da nossa biodiversidade que podem resultar em curas para doenças graves. Temos que nos antecipar. É uma questão de soberania nacional.”
PublicidadeEle ainda menciona a espionagem sofrida pela presidenta da República Dilma Rousseff, conforme documentos revelados por Edward Snowden, ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA). O caso veio à tona no ano passado. “Até a presidente da República Dilma Rousseff foi monitorada. É preciso evitar que as pessoas sejam obrigadas a colocar chip para, por exemplo, ter acesso ao atendimento básico de saúde. É o fim dos tempos porque a tecnologia não pode dominar o mundo.”
Olímpio defende que sua proposta sobre o implante de chips seja incluída no conjunto das questões mais relevantes do Congresso – como a reforma política – e diz acreditar no bom senso dos colegas para aprová-la.
Malefícios dos radicais
Integrante da bancada evangélica, o deputado avalia que existem parlamentares no Congresso “bem intencionados” mesmo os que não confessam de sua fé. “Existem pessoas, inclusive católicas, bem intencionadas, defendendo a família e a sociedade”, disse ele.
Por outro lado, Olímpio condenou as propostas relacionadas aos gays, defendidas por alguns setores do Parlamento. O deputado diz que projetos nessa linha são “maléficos”, motivados por movimentos sociais radicais e prejudiciais à sociedade. “Como você nasceu? Como foi formada? As pessoas nascem de mãe e pai. Vamos colocar dois homens em uma ilha e vamos ver se, depois de um tempo, se eles trarão o que Deus preparou, um filho.”
Itu, capital do Brasil
No ano passado, o deputado apresentou um projeto de lei que prevê a transferência temporária e simbólica da sede do governo federal para Itu, sob o argumento de que o município sediou a primeira convenção republicana do Brasil em 1889.
Pré-candidato à reeleição, Olímpio já exerceu três mandatos de vereador em Itu. Foi subprefeito de Guaianazes, região da zona leste de São Paulo (SP). Em 2010, deixou o terceiro mandato de vereador da capital paulista para disputar uma vaga na Câmara, onde integra a bancada evangélica.
Veja os principais trechos da conversa com o site.
Congresso em Foco – Argumentação bíblica é pouco usual em proposições legislativas. Qual a necessidade de usá-la? A Constituição não bastaria para justificar o projeto?
Deputado Missionário José Olímpio – Nós também fomos buscar, professando uma fé e respeitando a todos, a Constituição Federal, onde está a justificativa principal do projeto, no que tange ao direito de ir e vir e que prevê a livre locomoção das pessoas. É óbvio que na Bíblia há relatos em defesa da família e dos cidadãos. Por isso, colocamos texto bíblico. E, além disso, tenho uma crença. A nossa Constituição nos dá o direito à livre locomoção, e a Bíblia nos orienta quanto à necessidade do que temos que prevenir. Queremos antecipar algo que possa vir e possa deixar a população descoberta, em relação a um possível monitoramento.
Até a presidente da República Dilma Rousseff foi monitorada [documentos revelados pelo ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança dos EUA revelaram monitoramento de conversas da presidente e de negócios da Petrobras]. É preciso evitar que as pessoas sejam obrigadas a colocar chip para, por exemplo, ter acesso ao atendimento básico de saúde. É o fim dos tempos porque a tecnologia não pode dominar o mundo. O mundo é constituído por seres humanos e não por robôs. No Brasil, temos o cartão de saúde e cartão bancário, então por que precisamos de chips se temos os cartões? O grande perigo é as pessoas ficarem vulneráveis, com suas vidas podendo ser acessadas e permitindo que saibam para onde elas vão e o que estão fazendo.
Há consenso entre os órgãos de inteligência em todo mundo de que o principal problema dos rastreadores recai no vazamento ou comprometimento de informações sigilosas, algumas potencialmente geradoras de crises diplomáticas e institucionais. A nossa ideia é que o projeto possa ser melhorado e as pessoas possam ter seus direitos resguardados. Pode talvez parecer inusitada, mas queremos evitar que amanhã, que pode ser daqui a dez ou cem anos, soframos intervenção como a ocorrida no Kuwait, em 1990.
Por que o senhor considera que os dispositivos como os chips são satânicos?
Está comprovada a espionagem dos Estados Unidos a documentos extremamente confidenciais à presidente da República. Outros governos podem estar fazendo o mesmo e talvez com interesses piores, como atentados terroristas que podem levar à morte milhares de civis inocentes. É um fato satânico. Temos no Brasil 10% da água potável do mundo. Há estudos da nossa biodiversidade que podem resultar em curas para doenças graves. Temos que nos antecipar. É uma questão de soberania nacional. A riqueza brasileira gera ciúme a todos. Se uma interferência internacional viesse a ocorrer, os brasileiros, com sua identidade, teriam seu país regido por outro governo ou sistema internacional, seria uma nova ordem mundial, com fins, aparentemente, para benefício da humanidade, mas em detrimento da população do Brasil. Esses aparelhos implantados nas pessoas as deixam vulneráveis a monitoramento e, consequentemente, isso pode culminar até em atos terroristas. Imagine o que pode acontecer dentro do país e com as pessoas.
Há forças satânicas atuando no Congresso?
A Bíblia diz que toda autoridade é constituída por Deus. Quando começa a sessão do Congresso, o presidente fala ‘sob a proteção de Deus, abrimos nossos trabalhos’. Acredito que existem pessoas bem intencionadas e mal-intencionadas. Projetos de lei podem beneficiar ou comprometer. Existem pessoas dentro do Congresso, inclusive católicas, que são bem intencionadas, defendendo a família e a sociedade.
Como você nasceu? Como você foi formada? As pessoas nascem de mãe e pai. Há pessoas que vêm falar comigo e querem colocar dois homens juntos e duas mulheres juntas. Vamos colocar dois homens em uma ilha e vamos ver se, depois de um tempo, se eles trarão o que Deus preparou, um filho. Eu respeito e amo todos, mas às vezes vêm colocações aqui no Congresso que dizem que eu atrapalho. Mas nós temos que procurar aqui ajudar o país. Há projetos que podem ser maléficos e prejudicar a família e a sociedade. Todos aqui estão querendo fazer o bem, mas há pessoas e segmentos que acabam radicalizando em suas posições.
Na avaliação do senhor, os chips não podem representar evolução nas áreas de saúde e segurança?
Não estou descartando isso. Nos Estados Unidos, por exemplo, há alegação de que para ser atendido em um centro médico, é preciso ter o chip. Aqui, no Brasil, com um cartão, você é atendido. Dentro do projeto, podemos deixar aberturas para quem quiser o direito ao implante [de chips]. Mas temos que buscar caminhos para assegurar a segurança. A minha preocupação diz respeito à vulnerabilidade por conta do monitoramento.
O senhor não acha que o Congresso tem preocupações mais relevantes e questões mais urgentes?
Temos a reforma política, reforma agrária, reforma tributária, marco regulatório da mineração, plebiscito sobre redução da maioridade penal. Temos que colocar esse projeto no conjunto dessas propostas importantes.
O senhor certamente tem a expectativa de que o projeto passe pela Câmara e pelo Senado. Vê chances reais?
Vamos entrar os períodos da Copa do Mundo e das eleições. Temos uma grande chance de que ele passe nas comissões. Não é fácil chegar à pauta do plenário. Mas acredito no bom senso da Casa. Estou conversando com os outros parlamentares. E estou aberto a sugestões.
Há quem classifique as propostas do senhor como excêntricas. Como o senhor avalia isso?
Respeito todos, mas não posso concordar com isso. Não consigo entender. O que fiz de mal, por exemplo, ao tentar transferir simbolicamente, por um dia por ano, a sede do governo federal para Itu, onde foi sediada a primeira convenção republicana do Brasil, em 1889? O atual vice-presidente da República, Michel Temer, ex-presidente da Câmara, se posicionou a favor da transferência. É excêntrico colocar Itu como sede do governo por um dia do ano para que o presidente da República, o vice ou o chefe da Casa Civil despache lá?
O senhor não teme não ser levado a sério?
Não temo porque vivemos num país laico e livre. Temos que respeitar todos. Veja o trabalho que as igrejas fazem. Confio em Deus e no meu trabalho. Laicismo prevê liberdade e respeito. Não se pode travar as coisas. A Constituição dá liberdade, então temos que respeitar todos.
Como o senhor avalia a atuação da bancada evangélica na Câmara nesta legislatura que está terminando?
Tem realizado grande trabalho. Tem sido grande contrapeso, ficando atenta e de olho nos projetos em benefício da sociedade. Na discussão sobre o Código florestal, por exemplo, conseguimos a suspensão de várias sessões para acrescentar pontos ao texto e melhorar o projeto.