O procurador regional da República Luiz Francisco de Souza fez fama nos anos 90. Em mensagem eletrônica recentemente distribuída na rede interna do Ministério Público Federal, a Rede Membros, ele relembra seu passado.
“Já mostrei combatividade contra presidentes da República, procuradores-gerais da República, senadores, bilionários”, disse ele, ao sair em defesa da procuradora Gisele Bleggi, exonerada do cargo pelo Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) após ser alvo de várias acusações de irregularidades.
“O MPF deve ser humanista, combativo contra a macrocriminalidade e solidário com os colegas, especialmente os novatos”, afirma Luiz Francisco, em carta aberta ao relator do caso Rodrigo Janot, que votou pela demissão de Gisele Bleggi.
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Com o mesmo pensamento de Luiz Francisco, o procurador Alcides Martins votou no conselho pela permanência da procuradora na instituição. “O voto de Alcides praticamente me tornou eleitor dele em várias futuras eleições pois ele soube mostrar compaixão”, disse Luiz Francisco.
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O procurador se refere às eleições para o CSMPF, que serão realizadas nesta quarta-feira (23). Alcides não é candidato, mas Janot, sim. Luiz Francisco disse na mensagem que, se Janot não mudasse seu voto, deixaria de ser eleitor dele. “Sempre fui teu admirador e, em geral, votei em ti. Gostaria muito de continuar eleitor [teu]”.
No mesmo dia em que Janot fez seu relatório, em março, Souza apela para que ele mude seu voto. “Se não reconsiderar, eu lhe digo com franqueza que, hoje, tendo a votar em Áurea [Maria Etelvina, outra candidata na eleição do conselho]”, afirmou ele, na mensagem.
Apoio na rede
Vários outros procuradores defenderam a permanência de Gisele na instituição, em comentários dentro e fora da rede interna do MPF.
Para o procurador Celso Antônio Três, uma das acusações – ter feito uma ação civil pública inepta – não justifica a saída de Gisele Bleggi. Manoel Pastana, do Rio Grande do Sul, defendeu que Gisele não poderia sair do Ministério Público porque já adquiriu a condição de servidora vitalícia.
Já André Bertuol, de Santa Catarina, acredita que a demissão da procuradora é uma punição desproporcional às acusações sofridas. “Também me parece que não seria caso de exoneração, pois os itens relacionados parecem estar mais voltados a irregularidades sobre aspectos formais”.
Um membro do Conselho Superior do Ministério Público disse ao Congresso em Foco que, se fosse relator do caso, não aplicaria a pena de demissão a Gisele Bleggi. Em vez disso, a deixaria mais um ou dois anos em estágio probatório até que ela mostrasse ser uma pessoa capaz e honesta. Seria uma nova chance a ela, disse esse membro do MPF ao citar resoluções internas que permitiriam tal solução.
Todos sabem
Álvaro Manzano, da Procuradoria no Tocantins, acha indefensável um membro do Ministério Público vender férias e, mesmo assim, não ir trabalhar. “O conjunto da obra, aliado ao recebimento do abono sem contrapartida do trabalho (não precisa ser procurador para saber que não pode), justificam os votos que foram dados”, afirmou ele, em mensagem de abril.
A reportagem procurou Janot em seu gabinete ontem (21), mas não o localizou.
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