Cleverson Lima *
Pode ser vitimização ou simplesmente falta de atenção ou leitura, mas é espantoso o número – cada vez maior – de internautas que reclamam de questões relacionadas à privacidade na internet e a como os sites, em especial as redes sociais, se utilizam de nossas informações para fins principalmente comerciais. Ou seja, a forma como nossos dados são usados para que produtos e serviços sejam oferecidos a nós mesmos.
Antes de tudo, é bom lembrar que a privacidade, nesse caso, pode ser entendida como o controle que uma pessoa tem sobre as informações de si mesma, evitando expô-la de forma indevida ou prejudicial.
Os casos mais lembrados são o Facebook, maior rede social do mundo, e o Google, que, além de saber o que procuramos diariamente, nos oferece diversos serviços que facilitam o dia a dia. Isso sem contar que o sistema operacional Android, desenvolvido pela empresa, está presente em mais da metade dos celulares e smartphones vendidos no planeta, dando a deixa para que sejam utilizadas informações como contatos, ligações e a localização dos usuários.
Mas não pense que a privacidade é algo que esses sites/empresas levam nas coxas. Este é um assunto de primeira importância na lei dos poucos países que já possuem legislações voltadas à internet, como é o caso dos EUA. No Brasil, o marco civil da internet, lei ainda não aprovada e que vai definir as diretrizes de uso da rede no país para usuários, empresas, governos e Justiça, trata claramente da privacidade e da guarda dos dados dos cidadãos – seja pelos sites ou pelos provedores de internet – e a forma como essas informações serão armazenadas e usadas.
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Um ponto crucial a ser lembrado se refere ao custo e ao lucro das empresas. Estamos em um sistema que visa pura e simplesmente o lucro. Seria ingenuidade pensar que Mark Zuckerberg criou e manteve o Facebook apenas para permitir que as pessoas pudessem compartilhar suas preferências, fotos ou momentos com amigos e família. Tanto é que ele já levantou mais de R$ 30 bilhões, na sua primeira oferta pública de ações, em maio de 2012. Isso se torna mais evidente pelo fato de que, hoje, o Facebook é uma empresa listada em bolsa de valores e seus acionistas querem saber, é claro, de lucro.
Além disso, manter algo na internet tem um custo que geralmente não é baixo. Imagine então uma rede com mais de 900 milhões de usuários ou um mecanismo de busca que atende bilhões de pessoas por dia. Para que isso não seja cobrado do usuário, a publicidade entra em campo, garantindo o suporte mínimo para que esses sites gerem lucro
As empresas que anunciam na internet contam com a customização das campanhas publicitárias, o que permite que elas cheguem o mais próximo possível do público que desejam. Mas essa facilidade usa como meio as nossas informações. É clássico, por exemplo, o caso dos anúncios do Gmail, onde, logo após enviar um e-mail, o Google nos mostra um anúncio que tem a ver exatamente com o assunto da mensagem enviada.
Mas, então, como utilizar esses sites sem que suas informações possam ser usadas de forma indevida? A resposta tem que ser dada pelo próprio internauta. Tanto nos serviços que utiliza – lembrando que eles são opcionais – quanto nas informações que o site disponibiliza e para quem disponibiliza.
A questão não é simples, e ninguém quer sair perdendo. Portanto, cuidado nunca é pouco sobre o que colocamos na internet. Quem está na chuva, se não utilizar guarda-chuva, vai se molhar. Para quem quer entender um pouco mais ou ter exemplos sobre o assunto, a dica é a cartilha de segurança do Comitê Gestor da Internet, que está disponível no endereço cartilha.cert.br/privacidade/.
* Cleverson Lima é acadêmico de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
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