Após a crise enfrentada pelo governo em consequência da greve de caminhoneiros, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão do cargo na manhã desta sexta-feira (1º). Parente tinha uma reunião marcada com o presidente Michel Temer (MDB) nesta manhã, no Palácio do Planalto.
Segundo comunicado da estatal, a escolha de um novo comandante interino será analisada pelo Conselho de Administração durante o dia (leia a íntegra da nota mais abaixo).
<< Denúncias e crise do diesel aumentam pressão sobre presidente da Petrobras. Demissão é cogitada
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A saída de Parente do comando da Petrobras foi especulada durante a paralisação dos caminhoneiros, que se alongou durante 10 dias e gerou desabastecimento de combustíveis e alimentos por todo o país.
Como este site publicou na quarta-feira (30), a demissão de Parente já era cogitada, após a pressão sobre o agora ex-comandante da estatal aumentar. Um interlocutor constante do Palácio do Planalto disse ao Congresso em Foco que, embora a situação de Parente não fosse propriamente confortável, o presidente Michel Temer (MDB) deveria mantê-lo à frente da Petrobras até onde a crise permitisse.
PublicidadePedro Parente, que assumiu a presidência da Petrobras em 2016, afirmou durante todo o período da greve dos caminhoneiros que não alteraria a política de preços de combustíveis da estatal, baseada no preço internacional do petróleo e na variação do câmbio.
Poucos minutos após a demissão ser confirmada pela Petrobras, a Bovespa registrou queda e as negociações de ações da estatal foram suspensas.
Carta
O presidente demissionário da estatal afirmou, na carta entregue a Temer, que vê nos resultados obtidos pela Petrobras “o acerto do conjunto das medidas” e que sua gestão entregou o que prometeu. Parente diz ainda que a estatal é hoje uma empresa que recuperou sua reputação e os indicadores de segurança sem contar com aportes do Tesouro Nacional. “Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas”, afirma o agora ex-presidente na carta (leia a íntegra mais abaixo).
No comunicado, Parente diz ainda que a greve dos caminhoneiro gerou um debate “intenso e por vezes emocional” sobre a política de preços adotada pela empresa. “Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel”, defende. Ele diz ainda que, com a necessidade de novas discussões, sua permanência no comando da estatal deixou de ser positiva.
Leia o comunicado da Petrobras sobre a saída de Pedro Parente:
“Rio de Janeiro, 1º de junho de 2018 – Petróleo Brasileiro S.A – A Petrobras informa que o senhor Pedro Parente pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do diade hoje. A composição dos demais membros da diretoria executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração.
Fatos considerados relevantes serão prontamente comunicados ao mercado.”
Leia a íntegra da carta de demissão de Pedro Parente:
“Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.
Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.
A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.
A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.
Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidencia da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.
Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.
A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.
Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente”