“Recado para os golpistas: nós somos trabalhadores, trabalhamos pela democracia. O que se vende é a intolerância, o preconceito de classe contra nós. Somos defensores da unidade nacional. Isso implica ir para as ruas entrincheirados, de armas na mão, se deitar [na rua] e lutar, se tentarem tirar a presidente”, disse Vagner, diante de cerca de 1,2 mil pessoas de diversas entidades sindicais.
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“Nós teremos o exército que vamos enfrentar essa burguesia”, acrescentou.
Nas manifestações de 15 de março, quando mais de um milhão de pessoas foram às ruas com demandas diversas – principalmente o “fora, Dilma” e o protesto contra o Congresso e a política atuais –, a CUT e outras entidades fizeram atos em defesa da Petrobras e da democracia em algumas localidades do país, mas com menos participação popular. A iniciativa foi vista por organizadores do movimento com uma provocação, e observadores da cena política avaliam que isso acabou provocando a adesão de ainda mais manifestantes contra Dilma.
Além da CUT, o evento no Planalto reuniu representantes de entidades como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), União Nacional dos Estudantes (UNE), e Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), entre outros. Paralelamente, outras 12 entidades sindicais divulgaram manifesto em defesa de Dilma, mas com o registro de demandas das categorias (veja abaixo).
Conjuntura
As próximas manifestações serão realizadas na esteira da mais recente pesquisa Datafolha, divulgado em 6 de agosto, mostrando que rejeição de Dilma (71%) é a maior desde a reabertura democrática, em 1985. Os números negativos superam até mesmo o do ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor (PTB-AL), que foi cassado e, ainda assim, bateu Dilma em três pontos percentuais.
Para a oposição, que aderiu às manifestações, governo deve se preocupar, principalmente, com a sua situação na Justiça Eleitoral. Hoje (quinta, 13), o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Gilmar Mendes, conhecido por suas divergências em relação ao governo petista, deu andamento à ação em que o PSDB pede a impugnação do mandato de Dilma e seu vice, Michel Temer. Os tucanos alegam que a chapa vencedora nas eleições do ano passado foi abastecida com dinheiro de corrupção, por meio do esquema de desvios na Petrobras desvendado pela Operação Lava Jato, além de ter incorrido em abuso do poder econômico.
Também causa preocupação ao Planalto o julgamento, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), de pontos ainda não esclarecidos a respeito das contas do governo referentes a 2014. Dilma tem mais 15 dias para prestar esclarecimentos adicionais à corte de contas. Em jogo, as chamadas “pedaladas fiscais”, artifício contábil do governo para garantir a execução de programas sociais e cumprir meta de superávit (economia para o pagamento de juros da dívida pública).
Além das questões institucionais, ainda há a questão das ações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que despachou diversos pedidos de impeachment no mesmo dia em que anunciou rompimento com o governo, como este site revelou em primeira mão em 17 de julho. Ao Congresso em Foco, no dia seguinte ao seu rompimento com o governo, o deputado admitiu apoiar uma eventual abertura de processo de impeachment contra Dilma.
Leia a íntegra do manifesto das 12 entidades:
Chamado ao diálogo pela democracia, por crescimento econômico, inclusãosocial e desenvolvimento nacional
“Brasil já deu mostras de que é um país capaz de promover equidade, bem-estar social e qualidade de vida para todos. Por isto, precisamos retomar rapidamente o investimento e a atividade produtiva para aumentar as oportunidades, o emprego, melhorar a distribuição da renda e as políticas sociais”.
“Tais desafios exigem, das forças vivas da sociedade brasileira, um claro posicionamento em defesa da democracia, do calendário eleitoral, do pleno funcionamento dos Poderes da República, da estabilidade institucional e dos fundamentos constitucionais como condição para a rápida e sustentada transição para o crescimento econômico. Mais do que isto, é necessário desmontar o cenário político em que prevalecem os intentos desestabilizadores, que têm sido utilizados como o condão para a aplicação de uma política econômica recessiva e orientada ao retrocesso político-institucional”.
“Assim sendo, reafirmamos que qualquer projeto de desenvolvimento nacional deve ser cimentado pelo fortalecimento das instituições e da democracia, sem descuidar do combate à corrupção, e tem que guiar-se pela superação das graves desigualdades econômicas, sociais e regionais, promovendo”:
Combate à inflação; Juros baixos; Aumento do investimento público e privado em infraestrutura econômica e social; Defesa do emprego e do poder de compra dos trabalhadores; Política cambial que incentive a atividade produtiva, especialmente a industrial; Investimentos na qualidade da educação; Ciência, tecnologia e inovação para agregar valor à produção de bens e serviços; Fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas; Consolidação do mercado interno de consumo de massa; Fortalecimento e estímulo da participação competitiva do Brasil; Modernização das instituições, das leis e do Estado.
“O momento exige diálogo, compromisso com o País, com a democracia e com a necessária afirmação de um projeto de desenvolvimento nacional ancorado na produção, em uma indústria forte, um setor de serviços dinâmico, um comércio vigoroso, uma agricultura pujante e em um Estado indutor e coordenador das estratégias de crescimento econômico e de desenvolvimento social”.
Por isto, os Sindicatos abaixo assinados declaram-se dispostos, e conclamam os demais segmentos da sociedade civil organizada, a restabelecer as pontes para o necessário diálogo visando a construção de compromissos e acordos para fortalecer a democracia, o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional”.
São Paulo, 14 de agosto de 2015.
Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes – Miguel Eduardo Torres, presidente
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – Rafael Marques, presidente
Sindicato dos Comerciários de São Paulo – Ricardo Patah, presidente
Sindicato dos Empregados em Hotéis de São Paulo – Francisco Calazans Lacerda, presidente
Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo – Rene Vicente dos Santos, presidente
Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo – Antonio Neto, presidente
Sindicato dos Bancários de São Paulo – Juvandia Moreira Leite, presidenta
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo – Antonio de Sousa Ramalho, presidente
Federação dos Empregados do Comércio do Estado de São Paulo – Luiz Carlos Motta, presidente
Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo – Osvaldo da Silva Bezerra, coordenador-geral
Sindicato dos Telefônicos de São Paulo – Almir Munhoz, presidente
Sindicato dos Empregados em Edifícios de São Paulo – Paulo Ferrari, presidente