Mário Coelho
A audiência pública para discutir as obras para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil serviu para dar uma mostra do tratamento que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, terá de boa parte do Congresso. Recebeu elogios de deputados, respondeu as perguntas que o interessava e deixou as mais espinhosas para assessores. Algumas até se deu ao luxo de deixar sem resposta. Uma das principais perguntas que Teixeira não respondeu – e não foi cobrado pelos parlamentares – é sobre uma declaração dele logo depois de o Brasil ser escolhido como sede da Copa, em 2007.
Na época, o presidente da CBF afirmou que o evento seria realizado basicamente com dinheiro vindo da iniciativa privada. Hoje, na prática, o que se vê é o inverso. Obras de infraestrutura serão bancadas pelo governo federal. As reformas em estádios terão verba da União e dos governos locais. Os três privados – Arena da Baixada (PR), Morumbi (SP) e Beira Rio (RS) – receberam isenção fiscal para a compra de material de construção e ainda querem auxílio do Estado nas obras. Em outras, a intervenção foi lacônica. Também não quis entrar em detalhes sobre dificuldades nas reformas de estádios. Uma parte deles deve estar pronta até o fim de 2012, para a realização da Copa das Confederações.
Antes de responder qualquer indagação, disse que não estava ali como presidente da CBF, mas sim do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo. Por isso, só atenderia aos questionamentos relativos à organização do evento. Mesmo assim, evitou entrar em bola dividida e escolheu os assuntos a falar. O primeiro a questiona-lo foi o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que em 2001 foi relator da CPI CBF/Nike, que investigou o futebol brasileiro, sua principal entidade e seus cartolas.
Primeiro, Teixeira disse que não anotou as perguntas. Depois, respondeu algumas. Deixou de lado temas como a questão do investimento público na Copa e o limite para aprovação do projeto de isenção fiscal da Fifa, entidade que rege o esporte mundialmente. Demonstrou irritação ao ser questionado sobre a possibilidade de redução de sedes – opinião defendida até por ministros como Paulo Bernardo, do Planejamento – e a construção de um novo estádio em São Paulo para abrigar a abertura da Copa. “O relevante é que o caso continua da mesma maneira de ontem, do dia anterior”, disse Teixeira.
O presidente da CBF e do COL não quis também qualificar o andamento das obras no país. “Não diria que estamos atrasados, nem que estamos adiantados. Estamos no limite”, disse. Logo depois, passou a bol para um dos seus assessores, Carlos de La Corte, diretor de Estádios do comitê, quando o deputado Leo Alcântara pediu para que fosse dito qual estado está mais atrasado nas obras. ” “Não tem sentido falar de uma cidade especificamente”, disse de La Corte.
Ele ainda aproveitou o espaço para atacar indiretamente o deputado Silvio Torres (PSDB-SP). No mês passado, o tucano enviou à Fifa, entidade que rege o futebol mundialmente, um requerimento questionando se o Brasil corre o risco de deixar de sediar a Copa de 2014. No documento, também pergunta se existe a possibilidade de diminuir o número de sedes de 12 para oito. “O Brasil é um país muito interessante. Considero um desserviço que você leve diariamente para o exterior declarações dizendo que o Brasil não tem condições e intercionalizar um problema político interno”, disparou. Ainda disse que “quem diz essa barbaridade só pode ter a intenção de ser contra a Copa do Mundo no Brasil”.
“Esse questionamento foi motivo de chacota no comitê executivo da Fifa. Se você procurar os 23 membros vai dizer que é um absurdo que o Brasil perder a Copa”, respondeu. Até o momento, o requerimento não foi respondido.
Parceria
Parabenizado pela “competência” e pela forma de “conduzir o COL”, o que Teixeira mais ouviu durante a audiência foram elogios. “Sei que trazer a Copa foi fruto de seu prestígio pessoal”, disse um parlamentar. Para Fábio Faria (PMN-RN), a organização da Copa “dá orgulho de ser brasileiro, especialmente por ser potiguar”. O parlamentar criticou a imprensa e as matérias mostrando os problemas na organização do evento. Em especial, os relacionados a Natal (RN). “Pela turma do contra, Natal está na lista negra. Isso mostra que são notas que devem ser desconsideradas”, afirmou. Também foi creditada ao presidente da CBF a escolha do Brasil para a Copa. Um outro deputado chegou a dizer “que Deus te proteja e permita a continuar fazendo o bom trabalho”.
Já o deputado Deley, ao invés de questionar sobre Copa, disse que tem que convidar Ricardo Teixeira para falar dos clubes, da condição financeira, do êxodo de atletas para o exterior. Outros deputados foram mais além. Carlos Sampaio (PSDB-SP), disse que a Comissão de Turismo e Desporto, que organizou a audiência pública, será a grande parceira da CBF, “de viabilizar, de fazer acontecer, de não ficar a todo momento criando dificuldades”. “Queremos que esses dois grandes eventos sejam referência para o mundo. Cabe a gente não criar dificuldades”, disse, referindo-se à Copa e aos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. A presidente da comissão, Raquel Teixeira (PSDB-GO), concordou. “A comissão é parceira, é aliada, tudo que a gente puder fazer para chegar ao sucesso vamos fazer”, completou.
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