O número 40 está se tornando negativamente cabalístico – e indicativo de corrupção e criminalidade – na cena contemporânea nacional. Depois que o Ministério Público Federal (MPF) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o esquema do mensalão e a máfia das obras públicas, em que ambos os casos registraram 40 pessoas denunciadas, vem agora à tona uma ação conjunta entre a Polícia Federal (PF), Receita Federal e o MPF, que resultou na prisão de 40 pessoas acusadas de desviar R$ 1,5 bilhão da Receita.
Ainda na casa dos 40, ao todo a Justiça decretou a prisão preventiva de 44 pessoas na Operação Persona, como foi batizada a força-tarefa. Ou seja, quatro pessoas estão foragidas. Todos foram acusados de envolvimento em esquema fraudulento de comércio exterior, por meio de uma empresa ainda não oficialmente confirmada pela Receita.
Seis auditores da Receita Federal, empresários e diretores de empresas brasileiras e da multinacional norte-americana Cisco Systems INC. (a empresa ainda não confirmada pela Receita, embora já haja evidências que podem levar à confirmação), inclusive seu diretor-presidente, estão entre os presos. Os nomes não foram divulgados, pois o processo está sob segredo de Justiça.
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Segundo informações da Receita, a quadrilha seria muito sofisticada, e teria sido montada por empresários brasileiros para beneficiar a multinacional, líder no ramo de serviços e equipamentos de tecnologia de ponta para internet, telecomunicações e redes corporativas. A PF solicitou ajuda à polícia norte-americana para investigar cinco brasileiros residentes nos Estados Unidos que supostamente compõem o braço norte-americano do esquema.
O coordenador-geral de investigação da Receita Federal do Brasil, Gerson Schaan, declarou ter ficado impressionado com o alto grau de sofisticação e perspicácia dos mecanismos usados para despistar a fiscalização. "O esquema é extremamente complexo. Trata-se de um avanço em termos de esquemas já identificados", disse.
As prisões foram efetuadas em cidades do Rio de Janeiro, de São Paulo e da Bahia. De acordo com a delegada responsável pela operação, Érika Tatiana Nogueira, foram apreendidos cerca de US$ 300 mil e R$ 240 mil em dinheiro, US$ 10 milhões em mercadorias, 18 veículos e um jato comercial. Diversos crimes foram praticados, entre eles remessa ilegal de recursos ao exterior, fraude aos controles brasileiros de importação, ocultação de patrimônio, falsidade ideológica e material, evasão de divisas e sonegação fiscal.
A PF informou que a operação foi deflagrada depois de denúncia feita por uma ex-funcionária da multinacional no Brasil, e que as investigações vão continuar no sentido de descobrir se existem outras empresas envolvidas no esquema. (Fábio Góis)