O Partido da República (PR) rompeu definitivamente com o governo Dilma Rousseff. A decisão foi resultado de reunião realizada na manhã desta quarta-feira (14) no núcleo de articulação política do Palácio do Planalto, com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em que ela tentou convencer o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), a assumir o Ministério dos Transportes. Ex-titular da pasta e membro do partido, o senador Alfredo Nascimento (AM) deu lugar, em julho do ano passado, ao então secretário-executivo Paulo Sérgio Passos, também filiado ao partido.
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O técnico goza da simpatia de Dilma, mas, como o partido diz não se sentir representado por ele no ministério, a saída seria nomear Blairo, como queria Dilma. Este, por sua vez, não aceitou a oferta da presidenta, e a negociação endureceu ao telefone com Ideli, depois da reunião, em mais uma tentativa palaciana de convencer Blairo a assumir a pasta.
Segundo Blairo, a decisão de rompimento é restrita ao Senado. Mas ele diz que a Câmara, onde o PR é um aliado “independente”, deve seguir o mesmo caminho. Além da intervenção da cúpula do partido, a nova liderança do governo naquela Casa, agora na pessoa do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), vai pesar na decisão.
Blairo Maggi disse que a questão do ministério chegou a uma situação de “porteira fechada” – o senador se queixou de que o impasse permanece desde a saída de Nascimento daquele ministério, sem garantias para o PR. O rompimento, diz Blairo, é irreversível, ainda mais que o partido já havia anunciado “apoio crítico” ao governo depois da queda de Nascimento, sob acusações de corrupção. À época, tratou-se de um rompimento preliminar, sem declaração imediata de adesão à oposição, quando o líder da legenda no Senado era Magno Malta (ES).
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O senador disse que, depois de a ministra Ideli insistir na orientação de Dilma pela segunda vez – ou Blairo assume a pasta dos Transportes, ou o PR perde a vaga –, a diálogo chegou ao termo final. “Ela [Ideli] disse que o ministério não vai para o PR. Como não vai para o PR e nós somos o PR, então não temos mais o que conversar”, disse o senador, resumindo a postura da ministra ao ver a recusa de Blairo reiterada. “Ela não falou nada.”
Segundo Blairo, “há nove meses” o partido busca diálogo com o governo acerca da questão, sem avanços. “Cansamos de buscar uma resposta, e não conseguimos. Aqui no Senado, agora nós somos oposição”, enfatizou o senador, alegando “questões éticas”, entre outros empecilhos, para não assumir o Ministério dos Transportes. “Já havia deixado isso claro aqui [no Senado]. Existem problemas empresariais, que podem ter conflito de interesses. Há também a questão ética, um monte de coisas.”
Com o desembarque do PR da nau governista, a presidenta Dilma deixa de contar com sete votos no Senado – o governo já chegou a ter sob seu comando na Casa mais de 50 dos 81 senadores, antes da crise crescente nos primeiros meses deste ano: além de Blairo, Magno Malta e Alfredo Nascimento, a legenda está representada por Antonio Russo (MT), João Ribeiro (TO), Lauro Antonio (SE) e Vicentinho Alves (TO).
Carinho pela presidenta
Blairo disse que, apesar da decisão, preserva a relação com a presidenta Dilma. “Quero deixar claro que continuo amigo da presidenta. Gosto dela, sou amigo pessoal dela e vou continuar tendo todo o respeito e carinho por ela”, declarou, mas adiantando que a saída do PR terá efeitos nas eleições municipais de outubro.
O senador, ao ressaltar que o partido está liberado para coligações diversas Brasil afora, prevê perdas importantes para o PT em nível regional. Com o efeito contrário para o PR. “O objetivo das eleições é ganhar musculatura para disputar com mais força e ganhar espaço”, destacou o parlamentar.
A guinada à oposição, garante Blairo, não será nos moldes de PSDB e DEM, principais partidos oposicionistas. Segundo o senador, as pautas legislativas serão analisadas individualmente, de acordo com sua importância para a população. O senador dá como exemplo a votação do Fundo de Previdência Complementar do Serviço Público Federal (Funpresp – leia tudo sobre), um dos itens prioritários para o governo na lista de proposições pendentes.
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“Eu voto com o governo sobre o Funpresp. Eu não vou fazer oposição irresponsável. Esse fundo é importante para a sociedade brasileira”, pontuou, mas já avisando que a presidenta passará a ter mais problemas no Senado. Tal dificuldade foi expressada na referência feita ao novo líder do governo na Casa, Eduardo Braga (PMDB-AM). “Lamento trazer a ele este abacaxi para ele descascar logo no começo [da liderança]. Mas ele saberá fazer isso.”
PR na base
Enquanto Blairo falava na porta do Plenário do Senado, o agora ex-líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR) fazia seu discurso de despedida do posto que ocupou por 12 anos – independentemente de situação ou oposição, desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso, a partir do segundo mandato. Diante da solidariedade e dos elogios de senadores de vários partidos, Jucá fez referência às épocas de PR na base. Jucá não sabia do anúncio que Blairo trazia para a imprensa naquele momento, e proferiu:
“Quero registrar aqui quão importante é que o PR faça parte da base do governo, no sentido de fazer com que isso possa avançar, porque o PR é um partido que tem muito a contribuir. Já contribui, mas pode contribuir muito mais ainda para o governo da presidenta Dilma. Eu não escondo, tenho defendido em todos os fóruns que o governo faça esse entendimento com o PR, porque é importante para o governo, para o PR e para o país”, registrou Jucá, depois de receber os “parabéns” do senador Alfredo Nascimento, que é o presidente nacional do partido, pelo trabalho desempenhado como líder.