Moro aproveitou para desabafar: “o meu trabalho é muito erroneamente desqualificado”, afirmou. “Eu não sou investigador. Eu julgo e decido todas as decisões e posso cometer meus erros, mas eu sempre decido com a pretensão de correção das minhas decisões de acordo com a própria lei. Eu não posso levar em consideração questões políticas e partidárias quando profiro minhas decisões”.
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Aclamado em manifestações populares contra o governo, e tido como herói nacional por grande parte da população, o juiz refuta a condição de ídolo e critica a cultura do sebastianismo no país, que espera um salvador para resolver as mazelas da população. “Eu acho que existe uma focalização equivocada da minha pessoa”, disse o juiz. Ele ressaltou ainda que a investigação da Lava Jato é feita por vários procuradores e por muitos integrantes da Polícia Federal. “Eu sou juiz de primeira instância”, lembrou.
“Há uma focalização na minha pessoa que não acho positiva. É um trabalho institucional. Não é um indivíduo. Acho que isso faz parte da nossa cultura messiânica, de Dom Sebastião, que não acho muito positivo”, ressaltou.
O juiz negou que a corrupção faça parte da cultura brasileira e defendeu que é necessário enfrentá-la. A respeito da questão da instabilidade política do país causada pela Lava Jato, Moro alertou que sua preocupação “é decidir de acordo com o que está no processo”. Lembrou também: “não posso decidir pensando no impacto político do meu julgamento”.
Durante a palestra, ainda acrescentou que não é ele quem pauta os jornais, como apontam os alvos da Lava Jato. Ele explicou que tornou público os autos do processo e que os jornalistas buscam os documentos sem sigilo e escrevem suas próprias reportagens. Ainda explicou que a melhor forma de tratar essas decisões “é fazer com transparência”. Por isso, são consultados por jornalistas e cidadãos.PublicidadeMãos limpas
Sérgio Moro não fugiu das comparações da Lava Jato com a Operação Mãos Limpas, na Itália, na década de 1990. Ele lembrou que nos primeiros dois anos foram presas cerca de 800 pessoas no país europeu. “Claro que não existe competição, mas estamos muito aquém deste número”, ressaltou. O juiz lembrou que a Itália, à época, passou a aprovar leis para restringir a atuação de procuradores e da polícia federal. Moro citou um decreto que impediu a prisão preventiva de políticos, que foi aprovado no dia em que a Itália jogava a semifinal da Copa de 1994, e levou à soltura 300 pessoas.
No Brasil, segundo Moro, é importante que empresários e políticos atuem para que os casos de corrupção apurados na Lava Jato não se repitam. “O que é importante é que nós, os cidadãos, nos mobilizemos para que esses casos não se repitam ou pelo menos para que isso seja consolidado no Brasil de uma forma que não haja retorno à situação anterior, como muitos pretendem”, finalizou.
(Com informações do jornal Valor Econômico)