Desde que foram escolhidas as 12 cidades brasileiras que sediarão a Copa do Mundo de 2014, o jornalista Rodrigo Prada cruzou o país várias vezes. Diretor do Portal 2014, especializado na cobertura dos preparativos do Mundial, ele viu de perto o que cada uma das capitais tem a oferecer, e o que não tem. Para ele, o Brasil perdeu a oportunidade de pegar carona no megaevento para resolver problemas históricos de infraestrutura de seus principais centros. “Faltou planejamento, projeto executivo e, sobretudo, um grande gerente para os megaeventos”, considera.
Na avaliação do jornalista, o país cometeu dois grandes erros: demorou a definir suas obras prioritárias e concentrou a coordenação dos projetos no Ministério do Esporte. “O Brasil foi escolhido em outubro de 2007 como sede da Copa 2014 e, somente em janeiro de 2010, saiu a primeira matriz de responsabilidade”, critica Rodrigo em entrevista à coluna Jogo Livre, na nona edição da Revista Congresso em Foco, que já pode ser acessada por assinantes em sua versão digital ou comprada, em sua versão impressa, tanto pela internet quanto nas bancas.
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Para ele, a Fifa tem suas razões quando faz críticas à organização do Mundial no Brasil. Afinal, lembra o jornalista, o país sabia muito bem quais eram suas obrigações quando assumiu o compromisso de sediar o evento.
Mais motivos ainda têm o cidadão brasileiro para reclamar. Segundo estudo divulgado este ano pelo Portal 2014, o custo das obras da Copa teve aumento de até 166%, conforme o item analisado. Parte dos projetos previstos não sairá do papel, e outra, só ficará pronta após o evento. Convidado a participar de uma audiência pública no Senado, na última terça-feira (11), o jornalista deu mais um exemplo do descontrole nos gastos públicos com a compra de assento para os estádios brasileiros. “Enquanto na África do Sul o valor ficou em R$ 5,53 mil por assento e na Alemanha R$ 5,49 mil, o custo no Brasil ficou em R$ 11,8 mil por assento”, exemplificou. O Portal 2014, dirigido por Rodrigo, é mantido pelo Sindicato Nacional da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) para divulgar notícias e informações principalmente sobre a área de infraestrutura relacionada ao Mundial.
Revista Congresso em Foco – Por que tem havido tantos atrasos nas obras de mobilidade urbana e dos aeroportos para os megaeventos esportivos?
Rodrigo Prada – Faltou planejamento, projeto executivo e, sobretudo, um grande gerente para os megaeventos. Deixar toda organização do evento nas mãos do Ministério do Esporte foi uma das piores decisões estratégicas. O Brasil foi escolhido em outubro de 2007 como sede da Copa 2014 e, somente em janeiro de 2010, saiu a primeira matriz de responsabilidade.
Estudo da Unicamp afirma que o Brasil não precisaria dos megaeventos esportivos para construir obras de mobilidade urbana. Qual é a sua opinião?
Os megaeventos representam uma oportunidade para que, em curto espaço de tempo, sejam promovidas grandes transformações. A matriz da Copa foi extremamente mal elaborada. Diversas obras foram deixadas de lado, outras não foram contempladas, como a melhoria no transporte rodoviário. A matriz inseriu quase R$ 600 milhões para reformas de portos de passageiros e não teremos durante o Mundial um navio de cruzeiro sequer em nosso litoral.
É possível considerar estádios de futebol como legado para a sociedade?
O Brasil é o país do futebol. Temos outras necessidades, é verdade, mas elas existiam antes e continuarão a existir após a Copa. Nossos estádios estavam caindo aos pedaços e precisavam, sim, de uma grande reforma. O que não justifica o alto preço que pagamos por eles nem a implantação deles em regiões que não têm potencial esportivo.
A Fifa tem razão em criticar a organização da Copa 2014?
Sim, o Brasil quando se candidatou à sede da Copa sabia quais seriam suas obrigações. É contrato que o país tem de cumprir.
O que explica o alto custo das arenas brasileiras? Alguns estádios poderão ficar subutilizados após o evento?
É comum colocarmos a culpa sempre no Custo Brasil. Mas no caso da Copa, as obras tiveram isenção de impostos e facilidades na concessão de alvarás. O alto custo das arenas se deve à falta de planejamento e à falta de projeto executivo. Nenhum estádio começou sua obra com projeto executivo. O Maracanã é o maior exemplo da falta de planejamento. Em 1999, foram gastos para o Mundial de Clubes da Fifa R$ 199 milhões. Em 2006, R$ 304 milhões para o Pan do Rio e, em 2010, mais R$ 883 milhões. Em valores corrigidos, o total é de R$ 1,73 bilhão. E ainda teremos pelo menos cinco elefantes brancos após a Copa: as arenas Amazônia, Dunas, Pantanal, Pernambuco e o Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
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