Autoridades políticas brasileiras manifestaram o seu repúdio ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet, morto ontem em Santiago do Chile aos 91 anos. Ao longo dos 17 anos em que esteve no poder (1973-1990), mais de 3 mil pessoas foram assassinadas por motivos políticos pela polícia secreta do Chile. A morte de Pinochet ocorreu exatamente no Dia Internacional de Direitos Humanos.
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que Pinochet "simbolizou um período sombrio na história da América do Sul". “Foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, apagadas por golpes autoritários”, afirmou Lula, segundo nota assinada pelo porta-voz da Presidência, André Singer. Cabe fazer votos de que nunca mais a liberdade na regiao venha a ser ameaçada e que, em cada país, os povos possam sempre resolver em paz as suas diferenças", acrescentou o presidente.
"Não vai deixar saudade"
Exilado no Chile, durante o período da ditadura militar no Brasil, o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), disse que Pinochet encarnava o que a América Latina produziu de pior. “Foi-se alguém que não vai deixar nenhuma saudade. É um homem identificado com a repressão, identificado com a tortura e também com a corrupção, porque revelou-se um grande corrupto, além de um grande repressor.”
Leia também
Pinochet enfrentava processos por diversos crimes, como violações dos direitos humanos, crimes tributários e uso de passaportes falsos. Alguns processos foram abertos depois que se descobriu que ele mantinha no exterior US$ 27 milhões, sem origem declarada.
"Pesadelo do século XX"
O presidente nacional do PT e secretário de assuntos internacionais do governo, Marco Aurélio Garcia, que chegou a ser preso durante o golpe de Pinochet, disse que ainda tem lembranças terríveis daquele período. “Tive vários alunos assassinados, vários amigos presos e torturados. O Chile, a América Latina e a Humanidade se livraram de um carrasco”, disse.
“Eu acho que o Pinochet é o pesadelo do século XX que se arrastou um pouco pelo século XXI. Nos últimos anos torturado pelo passado e agora, morrendo, significa uma nova fase para o Chile, o fim simbólico de uma época que nós todos queremos sepultar. Era uma figura nefasta”, considerou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
Para o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), que também viveu exilado no Chile, o país finalmente se reconciliará com a sociedade. “O falecimento de Pinochet mostra isso nas ruas de Santiago”, afirmou o pefelista.
Chilenos comemoram
Nas manifestações populares pela morte do ditador chileno, vários incidentes foram registrados durante enfrentamento de encapuzados com as forças locais de segurança. Uma centena de pessoas saudou o general no Hospital Militar de Santiago, onde o general morreu.
Durante o seu funeral, Pinochet não terá honras de chefe de Estado, apenas militares. A presidente Michelle Bachelet, ex-presa política sob a ditadura militar chilena, não declarou luto oficial no país.
Liberalização econômica
O ex-ditador governou o Chile entre os anos de 1973 e 1990, quando começou o processo de redemocratização chileno. Durante esse período, Pinochet também lançou as bases para o programa de liberalização econômica que levou o país a se tornar uma das mais dinâmicas nações emergentes do continente.
O golpe militar de 1973 depôs o presidente socialista Salvador Allende, que acabaria se suicidando em seu gabinete enquanto a sede do governo, o Palácio de La Moneda, era bombardeada por golpistas. O ex-ditador chegou inclusive a ser preso, mas seu frágil estado de saúde sempre foi utilizado pelos advogados para evitar qualquer condenação.
Salvo pela doença
Em 1998, Pinochet foi detido em Londres, por determinação de uma ordem de prisão internacional emitida pelo juiz da Audiência Nacional espanhola Baltasar Garzón, que o acusava da morte de espanhóis durante a ditadura militar no Chile.
Pinochet passou quase 500 dias trancado em uma mansão de Londres, até que o governo britânico abriu as portas para sua volta, alegando razões humanitárias devido à piora de sua saúde, afetada por diabates e insuficiência cardíaca.
Em 2001, a Corte Suprema do Chile arquivou de forma definitiva o processo contra o ex-ditador no caso da Caravana da Morte (chacinas em série de prisioneiros políticos nos primeiros meses da ditadura, em 1973) por sofrer de demência.
Logo em seguida, Augusto Pinochet renunciou ao mandato de senador vitalício, depois de sua demência ser classificada de incurável pela Corte Suprema. Mais de um ano depois, em 23 de setembro de 2002, a juíza chilena Gabriela Corti arquivou sete processos contra Pinochet também por seus problemas de saúde.