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A ideia é definir o lançamento da candidatura própria ainda em 2015, no evento partidário, para que o PMDB possa discutir um nome competitivo até a próxima disputa presidencial, explica o vice-presidente nacional da legenda, senador Valdir Raupp (RO). Entre os nomes mais cotados pela cúpula partidária para a sucessão de Dilma estão o do vice-presidente da República Michel Temer, o do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
“Tenho falado sempre que o PMDB – e talvez seja essa a intenção desse congresso ainda neste ano – tem de lançar um nome dois, três anos antes, para poder preparar [o candidato]. Para poder percorrer o Brasil, conversar ao menos com os diretórios estaduais, com partidos de coligações futuras. Se deixar para a última hora, como sempre aconteceu, vai acabar não tendo candidato. Quem tem três, quatro, não tem nenhum”, disse Raupp à reportagem.
Picciani e Raupp avaliam que, diferentemente de outras oportunidades, quando o partido se dividiu e recuou da intenção de lançar um nome próprio à Presidência, desta vez há uma compreensão maior em torno da necessidade de o partido mirar voo mais alto e solo. Decisão essa que vem atrelada, em parte, ao desgaste aparentemente irremediável com o PT e à força inédita exercida atualmente pelo partido no Congresso Nacional, com o comando da Câmara e do Senado.
Favoritos
De acordo com Raupp, Eduardo Paes é um dos favoritos para ocupar a vaga de presidenciável do PMDB. “Ele não quer que falem, por achar que é muito cedo – ele tem que realizar as Olimpíadas [Rio 2016], tem que cumprir o mandato de prefeito”, continuou Raupp, apontando as alternativas do partido. “Mas nós temos, dentro no PMDB, nomes de destaque como o presidente [da legenda] Michel Temer. Agora, o Eduardo Cunha, que está também se projetando na Presidência da Câmara, pelo trabalho que vem fazendo. São nomes que poderão muito bem pleitear essa vaga dentro do partido”, emendou.
PublicidadeRaupp diz que Michel Temer, que também é presidente nacional do PMDB, pode ser um presidenciável de peso para 2018. Segundo o senador, uma eventual candidatura Temer não provocaria qualquer mal-estar na relação entre ele e a presidente Dilma, que o alçou à condição de articulador político do Planalto em meio à crise na base aliada – decorrência de um contexto de denúncias de corrupção, mau momento da economia, insatisfação popular e queda na popularidade de Dilma.
PT de vice?
“Não [haveria mal-estar], porque a Dilma não poderá ser candidata à reeleição. Mesmo se [o escolhido] for o presidente Temer, não teria qualquer problema. Se o PT, lá na frente, tiver candidato, tudo bem. Todo partido tem direito a lançar seu candidato”, acrescentou Raupp, para quem seu partido pode fazer um “arco de alianças muito grande”, inclusive com o próprio PT na condição de vice na chapa. “Se o PT não tiver ninguém em condições de disputar, por que não?”, vislumbrou.
O senador diz considerar que o nome ideal para a empreitada é aquele com mais condições de agregar não só o próprio partido, internamente, mas de reunir em torno de si o leque de alianças partidárias mais numeroso. Ele lembra ainda que, uma vez mantida a dinâmica da democracia brasileira, entre 35 e 40 partidos poderão já estar constituídos e com o devido registro na Justiça Eleitoral até 2018.
Leonardo Picciani diz não haver qualquer “impedimento” no fato de o vice-presidente da República, Michel Temer, responsável pelas relações institucionais de Dilma, também estar nos planos presidenciais do PMDB. “A candidatura não é contra ninguém, mas a favor do PMDB, como qualquer partido deve ter a pretensão de vencer uma eleição nacional, apresentar um nome, um projeto ao país”, acrescentou, sem arriscar imaginar como Dilma receberia o debate sobre sua sucessão já no primeiro ano do segundo mandato, e pelo principal partido aliado. “Aí eu não sei. Tem que perguntar a ela…”, desconversou.
O deputado evita adiantar qual seria o nome ideal do partido para pleitear a Presidência da República, mas apontou alguns. “O PMDB tem vários bons nomes. Eu, particularmente, acho que o prefeito [do Rio de Janeiro] tem todas as condições. É o nome mais citado, hoje, dentro do partido, mas não é a única opção”, observou o parlamentar fluminense, mencionando ainda o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o próprio Temer.
Inimigos íntimos
Parceiros no poder desde a eleição, em 2002, do ex-presidente Lula, PT e PMDB têm mantido nos últimos meses uma aliança apenas formal. O próprio Eduardo Cunha disse certa vez, em jantar com correligionários, que os petistas só emplacam alguma vitória em votações quando o blocão liderado pelo PMDB tinha “pena”. Desde a eleição de Cunha para comandar a Câmara, em 1º de fevereiro, o desgaste na relação e as derrotas governistas só aumentam. Recorrentemente criticado pelo PT, o deputado também não tem poupado ataques aos petistas.
Um dos exemplos da rebeldia peemedebista foi a aprovação e posterior promulgação da chamada PEC da Bengala (Proposta de Emenda à Constituição 457/2005), que aumentou de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsória para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), do Tribunal de Contas da União (TCU) e dos demais tribunais superiores. Com a mudança na Constituição, Dilma não poderá substituir ao menos cinco ministros do STF que completarão 70 anos até 2018, seu último ano de mandato.
Os exemplos são diversos, e ainda estão em curso. Com o aval de Cunha e, em um segundo momento, do presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL), temas como a redução da maioridade penal e a revisão do Estatuto do Desarmamento, que têm a objeção do PT e de Dilma, podem significar novas derrotas para o governo impostas pelo seu principal “aliado”. Há quem diga que, diante da impopularidade da presidenta, quem de fato governa o país é o PMDB, com seus principais atores no comando do Legislativo (Renan e Cunha) e no Executivo (Temer), em uma espécie de parlamentarismo extra-oficial.
Há duas semanas, no 5º Congresso Nacional do PT, chegou-se a cogitar o fim da aliança com o PMDB, mas a corrente majoritária petista conseguiu manter uma parceria circunstancial, para aprovação de projetos no Parlamento. A aliança, que já havia sido classificada como “capenga” por Renan, também foi atacada por Cunha. “Talvez tivesse sido melhor que eles aprovassem no congresso o fim da aliança e não sei se num congresso do PMDB terão a mesma sorte [sic]”, fustigou o deputado em sua conta no Twitter, depois de saber que foi chamado por petistas, aos gritos de protesto, de “sabotador do governo” e “oportunista de ocasião”.