Eles querem que o presidente da Câmara dê andamento à petição assinada pelo ex-deputado federal Hélio Bicudo (SP), de 93 anos, militante dos direitos humanos e um dos fundadores do PT. Na peça apresentada há duas semanas, Bicudo acusa a presidente de ter cometido crime de responsabilidade por não ter estancado os desvios na Petrobras e por atrasar propositalmente o repasse de recursos de programas sociais aos bancos públicos, caso das chamadas “pedaladas fiscais”, em análise no Tribunal de Contas da União (TCU).
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Apesar de ser apontado como favorável ao afastamento da presidente, Cunha tem reiterado que não tomará decisões “apenas por pressão”. O deputado disse, nesse domingo (13), que não pretende decidir sobre os pedidos nesta semana, como defendiam a oposição e alguns deputados do PMDB. “A chance de fazer algo nesta semana é pequena ou quase zero”, declarou Cunha ao blog do jornalista Fernando Rodrigues.
O movimento suprapartidário pró-impeachment, oficializado na semana passada, aguarda o despacho de Cunha, qualquer que seja sua decisão, para levar seu plano adiante. Na hipótese mais provável de uma negativa do presidente da Câmara, os oposicionistas pretendem apresentar um recurso ao plenário. Nesse caso, a decisão de Cunha poderá ser revertida pela maioria simples, ou seja, mais da metade dos parlamentares presentes à sessão. Com a manobra, abre-se um caminho para testar a força da tese do impeachment na Casa. Para que seja aberto um processo de afastamento da presidente, é necessário o apoio de pelo menos 342 dos 513 deputados.
Peemedebistas descontentes
Mesmo integrantes da bancada do PMDB contrários ao impeachment acreditam que pelo menos 20 colegas de partido apoiam o afastamento da presidente. A avaliação interna é que aumentou nos últimos dias o descontentamento dos peemedebistas com o governo. Seja pelo esvaziamento das funções de Michel Temer na articulação política, seja pelas perspectivas negativas na economia, intensificadas com a perda do grau de investimento do Brasil na avaliação da agência de risco Standard and Poor’s.
PublicidadeLevantamento feito pelo Congresso em Foco mostra que pelo menos 15, dos 67 deputados do PMDB, já se manifestaram publicamente a favor da saída imediata de Dilma. O deputado Danilo Forte (PMDB-CE) chegou a participar das manifestações contra o governo no último dia 16.
Outros cinco parlamentares da sigla já afirmaram em pronunciamentos que são favoráveis ao afastamento “em caso de agravamento da crise política”. Este é o caso Celso Pansera (RJ), aliado de Eduardo Cunha, e Baleia Rossi (SP), parlamentar próximo a Temer. “Não dá mais para aguentar a presidente Dilma. Ela perdeu a credibilidade junto ao povo, junto às empresas que geram empregos. Ela perdeu a confiança agora dos investidores internacionais. Ela está isolada”, avalia o deputado Darcísio Perondi. “Não há outra alternativa a não ser substituir [a presidente]”, acrescenta. Os parlamentares que trabalham pelo impeachment de Dilma acreditam que a Câmara terá uma posição sobre o assunto entre 30 e 60 dias.
Bicudo
Eduardo Cunha deu prazo de dez dias para o ex-deputado Hélio Bicudo fazer alterações em seu requerimento para ajustar a peça às formalidades legais exigidas pela Câmara para dar prosseguimento a pedidos de impeachment.
Essa petição é considerada a mais forte pelos defensores do afastamento da presidente por todo o histórico político de Hélio Bicudo. Mas Cunha avisa que ainda não decidiu que posição tomará em relação ao pedido do ex-petista. Outros casos mais simples ou sem consistência poderão ser examinados antes, adiantou o presidente da Câmara ao jornalista Fernando Rodrigues nesse domingo. “Ainda não decidi nada. Não tenho previsão de tomar qualquer decisão nesta semana. Mas se algum deputado apresentar uma questão de ordem, é preciso analisar o conteúdo e responder com cautela”, declarou. “Essa fofoca de que terça-feira vou apreciar está em vários lugares. Isso tem de desmentir”, acrescentou.