Lúcio Lambranho e Tarciso Nascimento
O Conselho Político do PMDB aprovou hoje (30), por aclamação, o apoio ao governo Lula neste segundo mandato. Na reunião, realizada no auditório Petrônio Portella, no Senado, as lideranças do PMDB condicionaram o apoio ao presidente Lula a uma agenda mínima de governo, composta por sete itens.
“Se mais adiante o governo se distanciar desses compromissos, o PMDB não terá nenhum compromisso com o governo”, afirmou o presidente da legenda, Michel Temer.
A agenda mínima, apresentada semana passada pelo próprio presidente Lula, prevê o compromisso com a reforma política e a reforma tributária (com redução gradual de impostos), uma política econômica que leve o país ao crescimento de 5% ao ano, a diminuição das despesas correntes, o fortalecimento dos estados, incluindo a segurança pública, e a criação de um conselho político de partidos aliados para acompanhar as ações do governo.
O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) comemorou o resultado do encontro. "Nunca vi nesses anos todos do PMDB uma reunião como esta, em um partido de divisões e tensões, um ambiente que confluísse para o mesmo objetivo", disse o senador, um dos principais aliados de Lula no Congresso desde o início do atual governo.
"Desejava sempre que estivesse comigo todo o partido em conjunto. O presidente Lula quer que participemos do governo, sem que isso signifique submissão. Estamos fazendo coalizão com o presidente da República e não com o PT. Eu acredito no presidente Lula", frisou.
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Resistência interna
Os únicos votos contrários foram do senador eleito por Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e do diretório do partido no seu estado. Ainda houve abstenção do diretório do Acre, representado pelo deputado federal João Correia.
Jarbas Vasconcelos classificou a decisão como equivocada. “É um caminho errado para a recuperação do tempo perdido em que o partido caminha há muito tempo. Este governo que está acabando é absolutamente medíocre”, disparou Jarbas.
O ex-governador de Pernambuco também declarou que não vai tomar uma "postura juvenil" nas votações de projetos encaminhados pelo governo ao Senado. "Não vou rejeitar todos os projetos sem uma análise só porque veio do governo. Eu só não vou é ficar alinhado e cumprirei o papel de fiscalização na oposição", ponderou o senador.
Racha na oposição
Jarbas também fez questão de deixar claro que a decisão do partido não representa a vontade de outros cinco senadores do PMDB, todos contrários ao apoio ao governo Lula. Mas mesmo nesse grupo não existe união completa em todos os temas em pauta no Senado. Da ala oposicionista, o único presente – ainda assim, por alguns instantes – na reunião foi o senador Garibaldi Alves (RN). O parlamentar derrotado na última eleição a governador do Rio Grande do Norte pela candidata apoiada por Lula, a governadora Wilma de Faria (PSB), disse ao Congresso em Foco que os senadores da ala oposicionista do partido estão mesmo divididos.
O racha está ligado principalmente à disputa pela presidência do Senado. "O [Joaquim] Roriz é contra a adesão ao governo, mas é a favor da reeleição do presidente Renan Calheiros", revelou Garibaldi Alves. "Antes de declarar apoio ao candidato do PFL, o senador Agripino Maia, é preciso esperar a declaração oficial do PSDB nesse sentido que ainda não aconteceu", explicou o senador potiguar.
O senador Pedro Simon (RS), que se declara independente, defendeu que o partido não repita erros do passado recente. "Se lá na esquina nós começarmos a disputar cargos e saber quem deve ficar com isso ou aquilo, nós não vamos salvar nenhum governo", criticou Simon. O senador gaúcho quer que o PMDB passe a participar das decisões mais importantes do governo Lula, coisa que, ressaltou, não ocorreu no atual mandato.
Ex-aliados de Alckmin
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o governador reeleito de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, chegaram à reunião com os discursos afinados. Depois de militarem na oposição, principalmente durante as eleições de outubro, ambos discursaram pedindo um conteúdo mais preciso e a "troca em miúdos" da agenda mínima proposta pelo governo.
"Se aceitarmos as propostas genéricas, seremos o mesmo PMDB de ontem que se resume a lideranças regionais", disse Luiz Henrique. "Ainda há tempo para a discussão interna do partido sobre as propostas. E, se este novo governo não votar as reformas política e tributária ainda 2007, não haverá mais tempo para isso", completou Rigotto.
Os dois governadores defenderam uma definição sobre os percentuais de repasses da CPMF e da lei Kandir para estados e municípios. "Precisamos de definições que tirem da inanição os municípios e da ingovernabilidade os estados", resumiu o governo reeleito de Santa Catarina. Por decisão do presidente do partido, Michael Temer, Rigotto vai ser o coordenador de uma comissão para definir as principais propostas do PMDB para a reforma tributária.