A notícia-relâmpago foi dada em quatro minutos de reunião. “A partir de agora, ninguém está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do partido!”, bradou Jucá ao microfone. Ao seu lado, avalizavam o anúncio o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e Eliseu Padilha, ex-ministro da Aviação Civil.
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“A moção requer a imediata saída do PMDB do governo, com a entrega dos cargos e abertura de processo de ética contra os envolvidos. O PMDB se retira da base do governo da presidente Dilma e ninguém no partido está autorizado a exercer qualquer cargo no governo federal. A decisão está tomada”, acrescentou Jucá, em decisão saudada de pé pelos correligionários.
O processo de saída da base por parte do PMDB ficou claro, como este site adiantou em 9 de março, quando o ex-presidente Lula foi a Brasília se reunir com parlamentares do partido. Na ocasião, diversos caciques da legenda, principalmente do Senado, recusaram o convite do petista para a reunião, em um claro sinal de que o rompimento da aliança estava a caminho. Responsável pela condução do desembarque, o vice-presidente da República, Michel Temer, foi um dos ausentes, e só veio a ter algum tipo de contato com Lula quase vinte dias depois – no domingo de Páscoa (27), quando o peemedebista deixou claro para petista que o fim do casamento era irreversível.
Em moção aprovada simbolicamente e por unanimidade, o partido se limita a anunciar a decisão e alertar para o risco de expulsão a quem não acatar a determinação de entrega de cargos no governo – depois da saída, ontem (segunda, 28), do ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, o PMDB ainda ocupa ministérios importantes, como o da Agricultura (senadora Kátia Abreu), o da Saúde (deputado Marcelo Castro) e o de Minas e Energia (senador Eduardo Brada), além de centenas de postos de segundo e terceiro escalões.
A proibição de exercer cargos no governo começa a viger, decreta o partido, “[…] importando a desobediência a esta decisão em instauração de processo ético contra o filiado, na forma do artigo 26 e seguintes do Conselho de Ética”, diz trecho do documento (reprodução abaixo).
PublicidadeAntes mesmo de a reunião começar, parlamentares da legenda já davam como certa a saída do PMDB da base governista. O deputado Darcísio Perondi (RS) afirmou ao Congresso em Foco que cerca de 60 peemedebistas já apoiam o impeachment da presidente Dilma. Ele adiantou também que a ministra Kátia Abreu, caso não aceite deixar a pasta, vai se desfiliar do partido.
Um dos 13 “vogais” do diretório nacional, Darcísio Perondi avaliou ainda que outros ministros que mostrarem dúvida em relação ao processo de impeachment poderão, inclusive, ser expulsos da legenda.
A partir da decisão, de acordo com a nota, as outras 11 moções que seriam debatidas na reunião foram declaradas “prejudicadas”.
O líder do Psol na Câmara, Ivan Valente (SP), fez críticas ao que denominou de “Saída Temer” – referência nominal a Temer, responsável pela condução do processo que levou ao fim da aliança com o PT. “Estamos trazendo para ser presidente outro grupo manchado pela corrupção. Isso seria perdoar o fato de todas as lideranças do PMDB também estarem sendo investigados pela [Operação] Lava Jato. Nós somos contra essa lógica”, vociferou o deputado.
Dia seguinte
A partir de agora, uma vez sedimentado o desembarque do PMDB do governo, a preocupação do governo será com a manutenção de outros partidos da base aliada no Congresso. Com o avanço da comissão processante do impeachment, Dilma agora tem de manter o apoio de legendas como PP, PR e PSD com vistas a garantir os votos suficientes para derrubar o pedido de cassação presidencial em plenário. O governo já dá como perdida a batalha naquele colegiado, cuja composição foi articulada entre Eduardo Cunha e deputados oposicionistas.
Primeiro na linha sucessória de Dilma, o Temer conduziu o processo de rompimento, a ponto de priorizar a tarefa em sua agenda nos últimos dias. Como este site adiantou na última quarta-feira (23), o cacique peemedebista desistiu de viajar nesta terça-feira (29) para Portugal, onde participaria de um seminário acadêmico promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público, criado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
A estratégia do governo também consistirá em oferecer o espaço hoje ocupado pelo PMDB na administração pública, principalmente em ministérios, para arregimentar apoio entre os partidos remanescentes na base, acomodando os respectivos representantes em postos estratégicos. Outro amparo provável do Planalto está na figura do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), onde o processo de impeachment pode desaguar em caso de aprovação na Câmara. Renan, que tem se manifestado contrariamente ao impeachment de Dilma, não compareceu à reunião do diretório do PMDB.Depois do anúncio do PMDB, deputados passaram a ser revezar na defesa e nos ataques a Temer e à forma com que foi conduzida a debandada do partido. Vice-líder do governo na Câmara, Sílvio Costa (PTdoB-PE) chegou a relacionar o vice-presidente da República a um discurso sobre covardia.
“O homem covarde jamais deixará de ser covarde e nunca será homem. Quero começar me dirigindo ao vice-presidente Michel Temer. Acho que hoje ele prestou um grande serviço ao Brasil. Sabe por quê? Porque a partir de hoje ele começou a fazer às claras o que ele já fazia às escondidas, que era conspirar”, vociferou o parlamentar pernambucano.
O que se viu daí em diante foi uma rodada de ataques mútuos entre governistas e oposicionistas, sob os olhares do presidente da Câmara. Diversos deputados da oposição e do PMDB rebateram de maneira veemente as declarações de Sílvio, em especial membros do PSD – cujo líder licenciado para presidir a comissão do impeachment, Rogério Rosso (DF), foi classificado pelo vice-líder do governo como “empregado” de Cunha no colegiado.
(Colaborou Edjalma Borges)