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O presidente interino Michel Temer manifestou a diversos interlocutores preocupação com o desgaste que a eleição pode trazer à base governista, à qual pertencem quase todos os pretendentes. Para o Planalto, os traumas tendem a ser maiores se for mais elevado o grau de fragmentação. Mensageiros palacianos têm ponderado que não faz sentido ter mais de cinco ou seis candidatos numa briga que é, afinal, por um mandato-tampão de apenas seis meses (um novo presidente será eleito no início de fevereiro de 2017).
Difícil é convencer alguns aspirantes ao cargo. Para vários deles, o simples fato de ter o nome cotado para a função pode embalar planos políticos regionais ou fortalecer a negociação de seus interesses no plano federal – com relação a nomeações ou repasses de recursos orçamentários, por exemplo. Também há casos de deputados que foram vistos como alternativas para algo impensável na Câmara de hoje: um gesto de aceno para uma sociedade que, assombrada com a sucessão de escândalos promovida pela Lava Jato e por outras investigações em curso, gostaria de ver o Parlamento distante das páginas policiais. Daí o aparecimento de nomes como o de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), hoje virtualmente descartado.
Pelo andar da carruagem, caberá à deputada Luiza Erundina (Psol-SP) cumprir o papel de candidata mais crítica aos rumos da Câmara, agindo como uma espécie de “anti-candidata”.
Candidatos potencialmente fortes como Jovair Arantes (PTB-GO), Antônio Imbassahy (PSDB-BA), Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) são vistos como cartas fora do baralho, embora continuem a ser considerados como opções para a nova Mesa da Câmara, a ser escolhida ano que vem. Lúcio Vieira Lima, irmão do ministro Geddel (Secretaria de Governo), e Serraglio acataram a recomendação da cúpula peemedebista para que o partido não entrasse na disputa. Afinal, o PMDB já ocupa a presidência da República e do Senado, além de controlar sete ministérios, e poderia ser castigado pelos aliados se revelasse agora ambição desmedida. O que não impediu que dois integrantes da legenda se inscrevessem para a disputa (o ex-ministro da Saúde Marcelo Castro, que votou contra o impeachment de Dilma, de olho nos votos das bancadas de esquerda).
PublicidadeAs expectativas de Temer
Quanto a Michel Temer, deseja, sobretudo, evitar os problemas que vários de seus antecessores tiveram de administrar após as fissuras causadas pela eleição do presidente da Câmara. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse mais de uma vez que a derrota imposta pelo à época deputado Aécio Neves (PSDB-MG) a Inocêncio Oliveira (PFL-PE), derrotado na tentativa de se reeleger presidente da Casa, foi o começo do fim da era tucana. Muitos aliados atribuíram a vitória de Aécio à mão invisível do Planalto e alguns se vingaram no pleito presidencial de 2002, quando o petista Lula bateu o hoje chanceler José Serra.
Em 2005, o PT nadava de braçadas com a maior bancada da Câmara, a popularidade de Lula nas nuvens e folgada maioria no Congresso. Caiu na besteira, no entanto, de lançar dois candidatos, Virgílio Guimarães (MG) e Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Melhor para Severino Cavalcante (PP-PE), que ganhou a parada como porta-voz do chamado baixo clero, nome dado ao conjunto de parlamentares mais ou menos anônimos que formam a grande maioria dos deputados.
Temer também quer evitar o erro cometido pela gestão de Dilma Rousseff, que declarou apoio ao deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), enfrentando o naquele momento já favorito Eduardo Cunha, que depois lhe ofereceu em troca em doses variadas e generosas o amargo prato da vingança.
Michel Temer, por isso, anuncia distância da disputa, apesar de deixar clara sua torcida para que a vitória seja de alguém afinado com o governo. Tal afinação é tida como vital para não criar novos sobressaltos políticos, num ambiente já contaminado pela crônica da Lava Jato e por um processo de impeachment ainda inconcluso, e para aprovar medidas que permitam recuperar uma economia que deve encolher perto de 8% em dois anos.
“A orientação do presidente Temer é clara: o governo não se mete na disputa na Câmara, não apoia candidato. É minha posição! Que vença o melhor para a Casa”, escreveu o secretário-executivo de Programa de Parceria de Investimentos (PPI) da Presidência da República, Moreira Franco, em sua conta no Twitter neste domingo (10). Moreira Franco é sogro de Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos nomes fortes na disputa, ao lado de Rogério Rosso (PSD-DF).
Os candidatos
Conforme mostra a lista abaixo, mais de 20 deputados se lançaram ou foram lançados, ainda que informalmente, em algum momento das articulações para a sucessão de Eduardo Cunha. Trata-se, certamente, de um recorde, pelo menos desde a Constituição de 1988.
Na lista abaixo, aparecem em vermelho os nomes de deputados que se retiraram da disputa ou não incentivaram as articulações em favor de sua candidatura.
A eleição para presidente da Câmara será realizada às 16h desta quarta-feira (13).
Antônio Imbassahy (PSDB-BA)
Baleia Rossi (PMDB-SP)
Beto Mansur (PRB-SP)
Carlos Gaguim (PTN-TO)
Carlos Manato (SD-ES)
Carlos Marun (PMDB-MS)
Chico Alencar (Psol-RJ)
Cristiane Brasil (PTB-RJ)
Espiridião Amin (PP-SC)
Fábio Ramalho (PMDB-MG)
Fausto Pinato (PRB-SP)
Giacobo (PR-PR)
Heráclito Fortes (PSB-PI)
Hugo Leal (PSB-RJ)
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE)
José Carlos Aleluia (DEM-BA)
Jovair Arantes (PTB-GO)
Júlio Delgado (PSB-MG)
Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA)
Luiza Erundina (Psol-SP)
Marcelo Castro (PMDB-PI)
Osmar Serraglio (PMDB-PR)
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Rogério Rosso (PSD-DF)
Sérgio Souza (PMDB-PR)
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