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Em 2014, a Borghi Lowe era uma das quatro agências encarregadas da conta publicitária da Caixa Econômica, com contrato de R$ 560 milhões, um dos maiores gastos do governo com publicidade. Antes de manifestar qualquer atitude, Valdir Barbosa preferiu consultar Michael Wall: “O diretor-presidente da Caixa foi chamado ao Palácio do Planalto e solicitado a ‘pedir aos fornecedores da Caixa que fizessem contribuições políticas ao partido do governo (PT)’”.
Em seguida, Barbosa falou sobre seu o incômodo com a situação: “O próprio diretor-presidente, que trabalhou como servidor público durante toda a sua carreira profissional, se sentiu completa e totalmente constrangido e desconfortável com tal solicitação”. Na época, o diretor-presidente da Caixa era Jorge Hereda, que deixou o cargo no início do segundo mandato de Dilma. Hereda tem mais de trinta anos de serviço público.
Na mesma mensagem, Valdir Barbosa ressaltou ter informado a Clauir Santos, diretor de marketing da Caixa, que as normas da Borghi Lowe proibiam “contribuições políticas”, ao que o funcionário retrucou lembrando que as outras três agências aceitariam o “convite”. De acordo com a Veja, uma insinuação de que a Borghi Lowe poderia sofrer algum tipo de retaliação no futuro em caso de recusa ao pedido.
“Expliquei ao Clauir o conteúdo da Política Anticorrupção e disse a ele que nós somos absolutamente proibidos de fazer este tipo de contribuição ou qualquer contribuição semelhante a esta. Ele obviamente lembrou-nos que provavelmente as três outras agências deveriam aceitar o ‘convite’ e fazer contribuições, ao que eu repliquei que elas eram agências 100% brasileiras e que, portanto, podiam fazer o que quisessem sem consultar ninguém”, diz parte do e-mail em poder da força-tarefa da Operação Lava-Jato,
A ideia do caixa dois não foi descartada porque membros da força-tarefa já comprovaram que havia uma relação entre a Borghi Lowe e braços do governo. O e-mail faz parte de investigação sigilosa que começou em abril de 2015, quando a polícia prendeu seis pessoas, entre elas o publicitário Ricardo Hoffmann, representante da Borghi em Brasília, e o ex-deputado petista André Vargas.
PublicidadeJoão Santana
Também na edição desta semana da revista, informações sobre a proposta de delação premiada feita pelo ex-marqueteiro, João Santana, e sua esposa, Mônica Moura, à Procuradoria-Geral da República, ambos relatam que a presidente afastada não só sabia da existência do caixa dois, como aprovou as operações ilegais. De acordo com o casal, Dilma conhecia detalhes do custo real da campanha e o valor que era declarado oficialmente.
Segundo a Veja, a diferença, de algumas dezenas de milhões de reais, vinha de empresas envolvidas no petrolão. Uma parte dos recursos, oriundos de propinas avalizadas pela petista, foi usada até para pagar despesas pessoais da presidente. Para comprovar as acusações, que constam em mais de dez capítulos chamados de “anexos”, Santana apresentará documentos. Os detalhes do acordo do marqueteiro foram tratados recentemente numa reunião realizada com integrantes da PGR.
João Santana foi responsável pelas últimas campanhas de Lula e Dilma. O publicitário e sua esposa são acusados de ter recebido US$ 7,5 milhões de origem ilícita no exterior por meio do lobista Zwi Skornicki e de offshores ligadas à empreiteira Odebrecht. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o marqueteiro João Santana disse que negou ter recebido caixa dois da campanha à reeleição de Dilma Rousseff, ao ser preso em março, para não “destruir a presidente” no início do processo de impeachment.
Questionado por Moro se não achava que receber por fora era um “ato ilegal”, João Santana afirmou que não há outra forma de fazer campanha política. “Acho que precisa rasgar o véu da hipocrisia que cobre as relações políticas eleitorais no Brasil e no mundo”, afirmou. “Ou faz a campanha dessa forma, ou não faz”, acrescentou. Ele disse ter consciência de que cometia uma “prática ilegal”, mas jamais que estava recebendo “dinheiro sujo”.