A revista Veja publica hoje (28) uma reportagem segundo a qual um erro do comandante do Airbus 320 causou a tragédia que matou cerca de 200 pessoas em São Paulo, no último dia 17, quando a aeronave não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas. De acordo com a publicação, os investigadores já têm essa informação, graças à análise das caixas pretas.
Entretanto, Veja afirma que o fato de a pista ser curta demais do aeroporto e a falta de área de escape foram “decisivos” para que tantas mortes acontecessem.
As caixas pretas do Airbus mostram que uma alavanca – o manete – que regula a turbina estava fora de posição no momento em que o avião pousou em Congonhas. “O erro fez com que as turbinas funcionassem em sentidos opostos: enquanto a esquerda ajudava o avião a frear, como era desejado, a direita o fazia acelerar. Com isso, o avião, que pousou a cerca de 240 quilômetros por hora, não conseguiu parar”, explica a revista.
Os dados da investigação permanecem em sigilo. Na próxima semana, o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), Jorge Kersul Filho, promete revelar o conteúdo das caixas pretas do avião à CPI do Apagão Aérero da Câmara, mas em sessão secreta. Ontem (27), ele afirmou que o conteúdo dos diálogos dos pilotos foi preservado.
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TAM pagou despesas de diretor da Anac
Um dos diretores da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) viajou com despesas pagas pela TAM, umas empresas fiscalizadas pelo órgão. A agência admite o fato, noticiado ontem (27) à noite pelo Jornal da Globo, mas não vê conflito ético no caso. A Anac alega que, quando o economista Josef Barat foi a Nova Iorque, em dezembro do ano passado, “poderia contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento do país” – como descreve um relatório da corregedoria do órgão.
Barat foi proferir uma palestra com o título "A visão da Anac quanto ao futuro desenvolvimento do setor aéreo e suas questões”. Mas isso fazia parte do evento “TAM Day”, para promover a empresa no exterior. “O nome do diretor é um dos destaques do evento – que tinha como objetivo apresentar a empresa a investidores internacionais”, afirma a reportagem da emissora.
De acordo com o Jornal da Globo, a empresa de Barat, Planam Consult, prestou serviços para a TAM em três ocasiões entre 1990 e 2005.
Uma semana antes do Natal, a Anac abriu uma auditoria para investigar a companhia aérea por vender mais passagens do que assentos em seus aviões, em mais um dos episódios do caos na aviação. “Duas semanas depois, Barat fez questão de deixar registrado na ata da reunião da Anac que discordava da decisão de ‘realizar uma auditoria em uma empresa aérea, no caso, a TAM, posteriormente aos trabalhos da FTA’ – a força-tarefa da Anac, que investigava as causas do apagão aéreo”, acrescenta a emissora.
Justiça rejeita fechamento de Congonhas
Mesmo depois do acidente com o Airbus da TAM, o aeroporto de Congonhas vai continuar aberto, ao contrário do que desejavam procuradores do Ministério Público Federal em São Paulo. Ontem (27) à noite, a 8ª Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo negou o pedido do MPF. Segundo a decisão do juiz Clécio Brashi, "não há nenhuma perícia concluída que permita estabelecer nexo de causalidade entre a hipotética insegurança da pista e o acidente".
Na ação, impetrada no dia 18, um dia depois do acidente, os procuradores pediam o fechamento da pista, porque entendiam que a sua segurança não estava confirmada. Àquela altura dos acontecimentos, a falta de ranhuras no local de pouso era apontada como uma das principais causas da tragédia no aeroporto de Congonhas, que matou 200 pessoas aproximadamente.
Apesar disso, a pista ficou fechada por vários dias desde o acidente, por conta de problemas climáticos e boicotes dos pilotos e empresas. Ontem, por exemplo, a pista chegou a ser aberta e fechada duas vezes. Hoje pela manhã, estava aberta.
Diretoria da Anac sai na terça-feira
Pressionada por todos os lados, toda a diretoria da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deve renunciar a seu mandato na próxima terça-feira (31). É o que anunciam hoje (28) os cinco principais jornais do país, O Globo, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, Correio Braziliense e Jornal do Brasil. Pela lei que criou a agência, os diretores têm mandato de cinco anos e não podem ser demitidos, até para evitar a pressão política sobre eles.
Mas quatro dos cinco diretores – incluindo o presidente da Anac, Milton Zuanazzi – combinaram deixar o cargo a pedido do Palácio do Planalto e do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim. Segundo a Folha, a única diretora resistente à idéia é Denise Abreu, indicada ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu.
De acordo com O Globo, entre os cotados para substituir Zuanazzi, estão Jorge Godinho – ex-diretor do extinto DAC, que órgão que foi substituído pela Anac – e Ozires Silva – ex-ministro no governo Collor e ex-presidente da Varig e Embraer. A Folha acrescenta o ex-presidente da Infraero Adyr da Silva.
Amanhã (29), Jobim deve se encontrar com Zuanazzi, numa conversa de rotina para se inteirar do que se passa no setor aéreo. Na segunda-feira, deve haver uma reunião do Conselho Nacional da Aviação Civil (Conac). Segundo O Globo, o ministro da Defesa pedirá que a Anac obedeça rigorosamente as decisões do conselho, como prevê a lei. Caso contrário, ou os diretores renunciam, ou serão processados administrativamente. Se o processo for concluído e condenar a diretoria, a lei permite que sejam substituídos antes de seus mandatos vencerem.