O delegado da Polícia Federal Renato Sayão Dias explicou em sessão na manhã de hoje (15) da CPI do Apagão Aéreo os motivos que o levaram a apontar os pilotos do Legacy, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, como culpados pelo choque entre a aeronave que conduziam e o Boeing da Gol, que caiu, matando 154 pessoas.
Sayão disse ter iniciado os trabalhos de investigação em 4 de outubro do ano passado, cinco dias depois do desastre. Na semana passada, ele concluiu o inquérito e o encaminhou ao Ministério Público, que ficará responsável, caso entenda necessário, por indiciar os pilotos, que residem nos Estados Unidos.
O delegado explicou que a PF só teve acesso completo às informações em novembro, e que os pilotos do Legacy não foram ouvidos. “Tudo referente a eles foi declarado pelo advogado”, contou. No inquérito também não há aprofundamento no caso dos controladores de vôo, tarefa que, segundo ele, está a cargo de instituições militares. “Mas há indícios de falhas desses profissionais”, adiantou. O inquérito está baseado em três frentes: 1) o plano de vôo; 2) o uso do transponder e do TCAS, o equipamento anticolisão, e 3) falhas na comunicação.
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O plano de vôo, segundo o delegado da PF, foi produzido pela Embraer, empresa que vendeu o Legacy para a norte-americana Excel Air. O centro de controle do espaço aéreo, contudo, autorizou o plano. “Houve ainda uma comunicação falha entre a torre e os pilotos próximo de Brasília”. Sayão disse que, pelas regras aeronáuticas, o piloto é responsável por observar o plano de vôo. Portanto, “eles foram culpados pela não observância do programa”.
Sobre os equipamentos transponder e TCAS, o delegado afirmou que o funcionamento deles é essencial para o vôo em altas altitudes, com intenso tráfego de aviões, como era o caso. “O não uso intencional desses aparelhos é quase um suicídio”. Os equipamentos, contou Sayão, foram submetidos a exames, inclusive a caixa-preta da aeronave, e ficou constatado que eles não estavam com defeito. Outro fato que comprovaria a culpa dos pilotos americanos é que o transponder funcionou até pouco depois de Brasília, ficou desligado, e depois voltou a operar após o choque com o Boeing da Gol.
“Significa que o equipamento ficou desligado por uns 50 minutos, mas que não foi intencional. Um diálogo entre os dois pilotos mostra que eles ficaram surpresos quando souberam que o transponder estava desligado, o que comprova não ter sido programado”, declarou. Logo depois do choque, o Legacy pousou na Base do Cachimbo, no Sul do Pará. Lá, os pilotos fizeram contato com a torre, em Brasília, quando declararam, num primeiro momento, que o transponder estava sim desligado. Mais tarde, porém, Lepore e Paladino voltaram atrás, temendo eventuais problemas com a declaração.
Outro ponto levantado pelo delegado Renato Sayão Dias é que o Legacy ficou mais de uma hora voando sem fazer contato com o centro de comunicação, descumprindo normas de aviação. “É muito tempo sem contato para um vôo muito alto como aquele”, disse. Sayão, no entanto, afirmou que os controladores de vôo também têm parcela de culpa na tragédia com o Boeing da Gol.
Convocação dos pilotos
Na semana passada, a CPI aprovou requerimento que pede a convocação dos pilotos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino. Mas a avaliação é que dificilmente eles virão ao Brasil depor. A comissão, no entanto, vai insistir por meios diplomáticos, consultando ainda a Justiça. Uma hipótese levantada pelos parlamentares é ir ouvi-los nos Estados Unidos. (Lucas Ferraz)
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