*André Rehbein Sathler
Tornou-se famoso em virtude de uma certa predileção das elites políticas e econômicas, quando em Brasília. Fechou recentemente mas acabou vendido e reaberto. Quem conhece recomenda.
Nesse palco, como em tantos outros, desfrutaram de agradável sociabilidade altos barões da indústria e do poder. Engendrados em suas semanas de setenta horas, desprovidos de tempo ou energia para buscar outros interesses além de uma distração trivial e repousante, esses homens de bem sentem-se à vontade na presença de seus pares. Desconfortáveis em seus ócios, posto que devidamente insensibilizados aos valores de uma salutar vida familiar, buscam a companhia de colegas com as mesmas inaptidões.
Permanecem juntos pelo estímulo e pelo prazer da reafirmação, vinculando-se em relações pessoais que nunca se distinguem completamente das relações comerciais. Trocam cartões na sauna, falam de mulheres e bebidas nos escritórios. É nesse contexto de jantares, encontros em garagens e ligações clandestinas que pessoalidade e negócios se misturam pornograficamente. Não surpreende em nada que dez preciosos minutos da conversa do presidente malversem sobre mulheres.
A esse clube privado só ascendem pessoas não suficientemente altas para professar a inocência, mas altas demais para praticá-la. São ricos, respeitáveis, eficientes em suas funções, vitoriosos em todas as áreas da vida. Por isso é de certo modo engraçado quando os flagramos enrolados com malas, meias, cuecas e trinta e cinco mil faltantes.
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Mas essas amizades não resistem ao primeiro puxão de orelhas. Porque, ao mesmo tempo em que são nutridas por preocupações comuns e pelo bom gosto quanto a vinhos, são corroídas pelo egoísmo. Surpreendentemente, o Romanée-Conti avinagrou. José, a festa acabou. A amizade resseca-se tão rapidamente quanto a figueira amaldiçoada pelo Cristo.
Afinal, o jogo do poder, como em qualquer campo em que os homens competem seriamente por objetivos implacavelmente sérios, é bruto. Quando a ameaça é séria, vale o instinto primitivo, sem espaço para o arrependimento ou para a dispensação de misericórdia. A Omertà sempre soube disso e por isso manteve sempre viva a ameaça maior: a morte. Mas, apesar de alguns episódios isolados, as quadrilhas brasileiras são mais farsescas em seus códigos de honra. Quando começam as delações, todos subitamente descobrem a verdade que o ex-Presidente norte-americano Woodrow Wilson já tinha explicitado: “o sistema não tem coração”.
*André Rehbein Sathler é economista, professor do Mestrado em Poder Legislativo da Câmara dos Deputados.