Em mais uma operação de combate à corrupção, desta vez batizada de "Águas Profundas", a Polícia Federal prendeu ontem 13 pessoas acusadas de fraudar licitações da Petrobras. Entre os detidos estão três executivos da estatal e diretores do estaleiro Mauá Jirong, da empresa de engenharia Iesa e da operadora de portos Angraporto. Segundo a acusação, mais de R$ 200 milhões foram desviados.
O Ministério Público denunciou um total de 26 pessoas, das quais 18 tiveram prisão preventiva decretada e cinco estão foragidas. As investigações indicam que a Angraporto pagava propina a funcionários da Petrobrás em troca de informações privilegiadas sobre licitações. Esses executivos também eram encarregados de incluir no edital exigências que só a empresa poderia cumprir.
A Iesa e a Mauá compravam as informações da Angraporto e executavam um plano semelhante nas concorrências públicas. De acordo com o procurador Carlos Alberto Aguiar, foram fraudadas as licitações de reparos nas plataformas P-10, P-14, P-16 e P-22.
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A Angraporto venceu as licitações para reparos da P-10, da P-14 e da P-22. Receberia cerca de R$ 60 milhões. A Iesa também participou dos reparos na P-14 e receberia R$ 90 milhões. A reforma na P-16 ficou a cargo da Mauá Jurong. Para conseguir o licenciamento ambiental das obras, as empresas também podem ter subornado funcionários da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente do Rio de Janeiro.
Casal Garotinho
Durante as investigações da Operação Águas Profundas, a polícia identificou um outro esquema de corrupção. Trata-se de um grupo que desviava recursos por meio de organizações não-governamentais ligadas ao casal de ex-governadores do Rio, Rosinha Matheus e Anthony Garotinho, ambos do PMDB.
As entidades, que tinham dirigentes em comum com empresas que aparecem como doadoras da pré-campanha de Garotinho à presidência da República, receberam ajuda financeira do governo de Rosinha através de convênios assinados sem concorrência. Por meio da Fundação Escola de Serviço Público, embolsaram R$ 112 milhões entre 2003 e 2006. O Tribunal de Contas do Estado do Rio apontou irregularidades nos contratos.
A PF constatou que, para fazer as prestações de contas do dinheiro recebido pelas ONGs, Ricardo Secco, pai da atriz Débora Secco e um dos presos de ontem, recorria ao empresário Ruy Castanheira, chefe do esquema de fraudes na Petrobras, que cedia notas e contratos fraudulentos das empresas fantasmas que mantinha.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, há indícios, ainda, do envolvimento de um assessor do deputado federal Carlos Santana (PT-RJ) com Castanheira. As investigações indicam que, por intermédio desse assessor, Castanheira doou R$ 50 mil para a campanha eleitoral de Santana. (Carol Ferrare)