A Polícia Federal encontrou evidências da existência do mensalão enquanto investigava, na chamada Operação Vampiros, o esquema para fraudar licitações para a compra de medicamentos no Ministério da Saúde. Segundo o jornal Folha de São Paulo, durante as investigações a PF gravou conversas, com autorização judicial, do deputado federal José Janene (PP-PR).
Janene teria procurado os lobistas Laerte Correa Jr., Eduardo Pedrosa e Frederico Coelho Neto, conhecido como Lilico e irmão do deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) para trazer dois deputados para a bancada do PP na Câmara. O prazo para a suposta transação seria de três dias e de acordo com relatórios da PF citados pela Folha, nas conversas os envolvidos falam em códigos. Partido eram tratados por "condomínio", deputado por "inquilino" ou "carro". As negociações chegariam a R$ 150 mil e haveria "prestações mensais", oferta supostamente bancada por Janene.
Eduardo Pedrosa e Frederico Coelho Neto negaram que tenham negociado a transferência de deputados federais para a bancada PP. Contudo, Coelho Neto confirma ter sido procurado por Laerte Correa Júnior para tratar do assunto, mas não quis se envolver. Segundo a Folha, os advogados de Correa Júnior não foram encontrados.
Inquérito criminal
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O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse ontem (2) que o tribunal decidirá, provavelmente em outubro, se manda para a primeira instância judicial a maior parte do inquérito criminal do mensalão, que tem 40 denunciados.
Relator do inquérito, Joaquim Barbosa afirmou que a parte do processo que permanecerá no STF poderá ficar reduzida a dez ou 12 réus –entre os quais os deputados acusados, que contam com foro privilegiado.
Antes de propor o desmembramento do inquérito do mensalão, Barbosa ouvirá Antonio Fernando de Souza, procurador-geral da República, que já sinalizou concordar com a remessa de parte da investigação para a primeira instância. "Ele é um homem razoável, sabe que é inviável [o processo] com tantos denunciados", declarou o ministro.
O ex-deputado e ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, poderá responder ao processo, ainda não instaurado, perante o STF, mesmo sem o foro privilegiado. Isso ocorre porque as provas contra ele poderão estar interligadas às existentes contra deputados.
A denúncia está dividida em três pontos: político, financeiro e publicitário. Em tese, o STF poderá manter sob o seu controle a apuração do primeiro ponto.