Ao realizar perícia na gravação feita por Joesley Batista, um dos donos da JBS, durante um encontro com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu, a Polícia Federal constatou que não há adulteração na gravação, bem como conseguiu recuperar trechos inicialmente inaudíveis. O resultado da perícia foi entregue ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foram checadas autenticidade, coerência e lógica da conversa.
“Não foram encontradas elementos indicativos de que a gravação foi adulterada”, diz lauda da PF. Joesley, que é um dos delatores da JBS no âmbito da Operação Lava Jato, entregou à Procuradoria-Geral da República e ao STF, entre outras coisas, uma gravação com Temer, na qual o presidente avaliza diversos ilícitos do empresário, como a compra de silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do operador do PMDB Lúcio Funaro. A gravação foi realizada em março deste ano, quando Temer já estava na Presidência da República.
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A perícia foi realizada a pedido da própria defesa do presidente Michel Temer, que alegava que havia cortes na gravação, além de ter sido gravada com “gravador barato”. Na época, o perito Ricardo Molina, contratado por Temer, disse que a gravação era “imprestável” como prova numa investigação e não seria aceita em uma “situação normal”. Os advogados de Temer haviam pedido a suspensão das investigações, mas diante do laudo de Molina, enviaram documento ao STF pedindo a continuidade para mostrar que a gravação era adulterada.
A conversa foi um dos fatores que complicou a vida do atual presidente. Segunda a PF, a conversa apresenta indício de que Temer deu aval para compra de silêncio de Cunha. Para o Ministério Público Federal, o objetivo é garantir que Cunha não fechasse acordo de delação premiada. Por este crime, a PGR deve apresentar uma nova denúncia contra Temer por obstrução de Justiça. O presidente foi denunciado por corrupção passiva na noite de ontem (segunda-feira, 26). No entanto, o ministro Edson Fachin dependerá da autorização da Câmara para dar seguimento às investigações.
Confira trechos da conversa recuperada pela PF:
Joesley : “Fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui pra ali… zerou, tal…” (sobre Cunha)
Temer: “Tudo” (trecho recuperado pela perícia)
Joesley: “Liquidou tudo e ele foi firme em cima, ele já tava lá, veio, cobrou, tal, tal, tal, eu, pronto. Acelerei o passo e tirei da frente. O outro menino, companheiro dele, que tá aqui, né?”
Neste outro ponto da conversa, Temer pergunta sobre o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).
Joesley: “Que… que tá aqui que o Geddel sempre tava …”
Temer: “O Lúcio tá aí?”
Joesley: “Não, não.”
A conversa segue sobre o ex-ministro Geddel.
Joesley: “Mas com o Geddel também com esse negócio eu perdi o contato porque ele virou investigado. Agora eu não posso … também …”
Temer: “Complicado, é complicado.”
Joesley: “Eu não posso encontrar ele.”
Temer alerta ao empresário sobre o contato dele com Geddel: “Porque parecer obstrução de Justiça, viu?”
Joesley : “Isso, isso, isso, isso.”
Temer: “Perigosíssima essa situação.”
Fala sobre Cunha
Joesley: “Tô de bem com Eduardo.”
Temer: “Muito bem” (Trecho recuperado pela PF)
Joesley : “E …”
Temer completa: “Tem que manter isso, viu?”
Joesley responde: “Todo mês …”
E, em mais novo trecho que só a pericia conseguiu recuperar, Temer responde: “O Eduardo também, né?”
Joesley concorda: “Também.”
Temer: “É …”
Joesley: “Eu tô segurando as pontas, to indo.”
Temer: “É.”
Mais adiante, em outro trecho melhorado pelos peritos, Joesley Batista comenta com Michel Temer quem deve ser seu novo interlocutor, agora que Geddel Vieira Lima é investigado.
Joesley: “Pra mim falar contigo qual e a melhor maneira … porque eu vinha falando através do Geddel, através … eu não vou lhe incomodar, evidente, se não for algo assim …”
Temer: “As pessoas ficam… sabe como é que é…”
Joesley: “Eu sei disso, por isso é que…”
Temer: “Um pouco”
Joesley: “É o Rodrigo?”
Temer confirma: “O Rodrigo.”
Joesley: “Ah, então ótimo.”
Temer afirma: “Pode passar por meio dele, viu?”
Temer acrescenta: “da minha mais estrita confiança…”.
Rocha Loures, conhecido como o ‘homem da mala’ foi preso na Operação Patmos. Loures foi filmado pela PF carregando uma mala com R$ 500 mil entregue por Ricardo Saud, executivo da JBS, na saída de uma pizzaria em São Paulo.
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