Os delegados da Polícia Federal (PF) de Brasília, Flávio Zampronha, e do Mato Grosso, Diógenes Curado, entregaram ontem ao juiz da 2ª Vara de Cuiabá, Jéferson Schneider, documentos apreendidos, no dia 15 de setembro, nas casas de Darci Vedoin, Luiz Antonio Vedoin e Ivo Espínola, acusados de serem os líderes da máfia das ambulâncias.
Na documentação estão fitas de vídeo, CDs, disquetes e extratos bancários. Em relação à origem dos R$ 1,7 milhão que seriam usados por pessoas ligadas ao PT para comprar dos Vedoin um dossiê que vincularia candidatos do PSDB ao esquema, Zampronha ressaltou que a PF ainda aguarda informações de alguns bancos e do Banco Central.
O delegado afirmou, porém, que o rastreamento de parte dos dólares que faziam parte dos R$ 1,7 milhão está em fase conclusiva. Segundo ele, só foi possível rastrear US$ 100 mil dos US$ 248 mil encontrados com os petistas porque a quantia estava em cédulas seriadas.
A PF afirmou que já tem os nomes dos sacadores dos dólares. No entanto, Zampronha declarou que não tem informações que comprovem que essas pessoas repassaram o dinheiro para a compra dos documentos.
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Os agentes não conseguiram identificar a origem do restante dos dólares, que estão em notas aleatórias. A PF suspeita que os recursos vieram de fora e entraram no país por casas de câmbio.
Justiça autoriza quebra de sigilo de 650 ligações
A Polícia Federal (PF) recebeu ontem autorização da Justiça Federal do Mato Grosso para quebrar o sigilo de cerca de 650 ligações feitas por pessoas envolvidas no escândalo da compra de um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).
Para a PF, a quebra dos sigilos servirá como uma espécie de atalho para a identificação da origem do R$ 1,7 milhão que seria utilizado para a compra do documento. Esses 650 números de telefone foram obtidos após a análise de extratos de chamadas realizadas e recebidas pelos sete principais acusados de envolvimento.
Dentre eles, o ex-diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil Expedito Veloso, o ex-analista de risco e mídia da campanha do presidente Lula, Jorge Lorenzetti, o ex-assessor da Presidência Freud Godoy, e o ex-coordenador de comunicação da campanha do candidato petista ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, Hamilton Lacerda. (Renaro Cardozo)
Gedimar nega saber origem do dinheiro e isenta Freud
O advogado Gedimar Passos isentou o ex-assessor especial da Presidência da República Freud Godoy de envolvimento na tentativa de compra de um dossiê contra candidatos do PSDB. Em defesa encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele disse que mencionou Freud em seu depoimento à Polícia Federal "apenas com vistas à promessa de liberdade do inquisidor naquela oportunidade, a título de colaboração ampla com as investigações".
Gedimar, que também é ex-agente da PF, afirmou desconhecer a origem dos R$ 1,7 milhão que seriam usados para comprar os documentos e disse seu trabalho na operação era unicamente analisar e atestar a autenticidade do dossiê. O advogado reiterou ainda que nunca foi filiado ao PT e que Jorge Lorenzetti, conhecido como o churrasqueiro de Lula, o recrutou para trabalhar na campanha à reeleição.
"O acordo foi então celebrado, sendo estabelecido que a remuneração pelos serviços do representado (Gedimar) seria regularmente paga pelo Partido dos Trabalhadores, o qual fora formalmente instado por meio de seu setor de Recursos Humanos", diz um dos trechos da defesa.
O documento foi entregue ao TSE na última segunda-feira. A corte abriu uma investigação judicial, a pedido do PSDB e do PFL, para apurar se houve crime eleitoral no episódio do dossiê. O ex-agente foi preso no último dia 15 de setembro junto com Valdebran Padilha, também ligado ao PT, em um hotel da capital paulista.
A PF apreendeu com eles os R$ 1,7 milhão que seriam usados para a compra do material. Os dois foram ouvidos na superintendência da polícia em São Paulo na noite do mesmo dia e liberados em seguida. Os agentes convocaram Gedimar e Valdebran novamente para depor dias depois. Foi quando o nome de Freud apareceu no escândalo.
A defesa não explica porque Gedimar omitiu o nome do ex-assessor no primeiro depoimento. No texto, os advogados sustentam que a "autoridade policial não se conformava com a verdade, ou seja, com o absoluto desconhecimento a origem do dinheiro". O documento argumenta ainda que o ex-agente estava "exausto" e que ele viu Freud poucas vezes antes do episódio vir à tona, na porta do comitê de campanha de Lula.
Na defesa, o advogado afirma que foi ouvido e ficou detido sem mandado e que o conteúdo do depoimento reflete "muito mais as apreciações de quem perguntava do que as convicções de quem respondia". A PF contestou a versão apresentada por Gedimar e disse que ele poderia ter retificado as declarações.