Fábio Góis
Se depender da bancada do PT no Senado, o ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, não sofre qualquer ameaça de ser afastado do cargo. Em xeque desde que o jornal Folha de S.Paulo publicou reportagem sobre a evolução patrimonial de 20 vezes em quatro anos, chegando a R$ 7,8 milhões, Palocci tenta manter em sigilo o nome das empresas que pagaram por seus trabalhos de ?consultoria?. Durante reunião realizada hoje (quinta, 26) com a presidenta Dilma Rousseff e 15 senadores petistas, além do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, Palocci voltou a afirmar que o caso é usado politicamente pela oposição ? que tem insistido em abrir CPIs no Congresso e acionar os órgãos de fiscalização federais ? e que não praticou nenhum ilícito por meio de sua empresa de consultoria Projeto. Os oposicionistas desconfiam de tráfico de influência.
Palocci diz que declarou à Receita evolução patrimonial de 20 vezes
Dilma pede que caso Palocci não seja politizado
?Eu e a bancada inteira saímos [da reunião] convencidos de que há, na verdade, uma operação política. Na minha opinião, esse ato do PSDB de ontem [quarta, 25], de convocar uma coletiva denunciando, transformado num escândalo a situação dessa empresa, isso demonstra que temos uma revanche, a busca de um terceiro turno. A oposição quer atingir uma liderança como é o Palocci, pelo que ele representa para o país, para o governo, para o PT. Estou convencido de que esse vazamento tem conotação fortemente política?, disse o senador Wellington Dias (PT-PI) ao Congresso em Foco, mencionando o caso em que a movimentação financeira (imposto sobre serviços) da Projeto teve sigilo parcialmente quebrado com informações fornecidas, segundo Gilberto Carvalho, pela Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo. Hoje, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM, um dos principais partidos da oposição), negou participação no vazamento.
?Se tem que fazer investigação, que o façam por meio da Procuradoria [Geral da República], que é a quem cabe investigar. Mas a forma como estão fazendo, de pré-julgamento, já sentenciando, é um ato desesperado, algo que só se explica pela ação político-partidária?, completou o senador, para quem é injustificada a tentativa de investigação no Congresso, por meio de CPIs. Afastamento, então, nem está em cogitação, garante Wellington. ?Longe disso.?
No final da reunião, informou o parlamentar, o próprio Palocci se antecipou a possíveis abordagens e pediu para falar sobre sua situação, fazendo ?três observações importantes?. Segundo o senador, Palocci lembrou ter cumprido a quarentena (período de desincompatibilização de função no Executivo) depois que saiu do Ministério da Fazenda, no governo Lula. Palocci lembrou ter então ficado sem atividade e, assim, resolveu abrir a empresa de consultoria, buscando ?cumprir as regras legais e do ponto de vista da ética?. ?Tanto que não trabalhou nem fez palestra para nenhuma empresa pública, e as que fez foram gratuitas, ele não cobrou exatamente para evitar problemas posteriores?, disse o petista.
Wellington ressaltou o fato de Palocci ter declarado seu patrimônio à Receita Federal. ?Essa proposta de colocar a empresa como administradora de imóveis foi uma alternativa que o [departamento] jurídico que o assessorava tinha dado para ela não ter outra forma de atuação, mas sem precisar desmontar totalmente. Ele colocou que fez tudo consciente da responsabilidade da posição em que ele está, da responsabilidade que ele tem com o PT, e que fez tudo dentro da ética, da legalidade?, acrescentou o senador.
Sobre a demanda oposicionista pela revelação da lista de empresas que pagaram pelos serviços de Palocci, Wellington disse que ?ele reafirmou o que tem reafirmado na imprensa?. Ou seja, que continuará se baseando na cláusula de confidencialidade de contratos, prevista em lei, para omitir os nomes dos contratantes. ?Não se trata de nenhuma estratégia. Ele disse que tem contrato de confidencialidade e, se não tivesse, ele disse que ainda assim, por questão de ética, ele também teria dificuldade de fazer a divulgação, porque isso causa problema para as concorrências, etc.?, disse.
Wellington disse ainda que Palocci fará os devidos esclarecimentos nos ?fóruns adequados legais? e nos ?órgãos de fiscalização judiciários?. ?Ele citou o exemplo do que aconteceu com uma das três empresas que divulgaram ter contrato com ele. Imediatamente, por um ato de fiscalização, foi divulgado que ela [a empresa WTorre, acusada de favorecimento via Receita Federal, doou R$ 2 milhões para a campanha de Dilma] teria tido o privilégio de receber R$ 43 milhões da Receita Federal. Ele colocou, e todos nós sabemos que é verdade, que a Receita Federal não age com esse imposto político. Quer dizer, duas horas depois da divulgação, estava comprovado que, na verdade, esses R$ 43 milhões foram fruto de uma decisão judicial. Ele mostrou, com esse exemplo, que de qualquer modo foi causado um profundo estrago à imagem da empresa, como se ela estivesse envolvida em um escândalo?, concluiu o senador.
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